fala meus queridos e minhas queridas
amigas tudo bem com vocês eu espero que
esteja tudo bem Hoje nós vamos conversar
com o meu glorioso amigo Renan Santos
que é professor de história
foi mestrado pela Universidade Federal
de São Paulo ali no Campus de Guarulhos
onde aquele povo fica estudando coisas
de humanas e a a sua o seu trabalho de
pesquisa foi o Clarim da Alvorada vocês
conhecem o Clarim da Alvorada se vocês
não conhecem o Clarim da Alvorada errado
estão vocês porque se se trata de um
órgão de imprensa muito importante
durante o século XX e que
ah inaugura um processo interessante de
eh disputa por consciência através do
jornal O o jornal O o tipo de jornalismo
feito com viés eh relacionado à
discussão sobre raça é uma coisa que não
existe apenas no século XX aliás há
alguns meses atrás a gente fez um
aniversário de deixa eu ver quanto é que
foi de de de de 190 anos da primeira
imprensa negra que surgiu ainda no tempo
da monarquia quando a gente estava no em
1800 até 1808 não tinha nem imprensa no
Brasil precisou a família monárquica em
portuguesa vir para cá para ter isso
para eles autorizarem os portuguêses
safado Ah mas aí logo no início existe
disputa e é sobre isso que eu quero
tratar com o Renan porque desde o início
de que a possibilidade de ter imprensa
existe imprensa lutando pelos ah
direitos das pessoas ah que foram
excluídas no processo social brasileiro
e uma dessa um desses grupos é o grupo
dos das pessoas negras e essa disputa
existe desde o século XIX mas ganha uma
intensificação no século XX que é sobre
o que a gente vai falar bastante hoje a
gente vai tratar exatamente dos
processos de luta usando a imprensa tem
dois duas coisas interessantes que eu
quero tratar aqui antes de passar pro
Renan a primeira coisa é que a imprensa
era uma coisa que tá lá no que fazer de
Len lá no 1900 e Bolinha e guaraná com
rolha no início da do século XX L ele
tava dizendo que que Disputa se faz
também fundando um jornal como órgão
central e esse pessoal do século XX
tinha essa consciência de que disputa
política se fazia também com a disputa
ou talvez até principalmente com a
disputa de consciência através do jornal
e a segunda questão que a gente que eu
quero tratar além da da do significado
de disputar através do jornal as
transformações atuais que a gente
conquista com esse processo histórico
que vem desde o século XIX e cada vez se
intensifica mais ah por exemplo na
discussão contemporânea que a gente teve
acerca da escolha de magistrados para o
STF onde a questão Negra estava colocada
E o nosso amigo Renan tem um movimento
social que é relacionado à questão Negra
então Renan por favor tome a palavra Se
apresente e explique para nós o que que
trouxe esse tema do clarinho da Alvorada
para o seu ramo né Por que que você
escolheu estudar esse tipo de coisa por
que que você caiu no J jornal e o que
que você teria para dizer pra gente já
entrando no assunto sobre o que que foi
esse órgão como é que ele surgiu E qual
é o seu contexto histórico muito muito
muito muito bem-vindo meu querido Poxa
Pedro boa noite satisfação Total tá
falando contigo e com o seu público ter
essa oportunidade aí só agradeço mesmo
Bom primeiramente me apresentando né meu
nome é
Renan 34 anos sou professor resido em
Tatuí interior de São Paulo e assim né
eu me graduei em 2008 eh pela Unesp né
pela Universidade Estadual Paulista e já
naquele momento eu eu entrei em contato
com essa questão da da Imprensa Negra né
e sou da da existência de uma imprensa
alternativa já existiam grupos de
estudos L na na faculdade que estudavam
essa questão né de jornais jornais
Operários eh etc e aí eu entrei em
contato com esse tipo de fonte histórica
eu achei bastante interessante mas
voltando um pouquinho meu interesse em
estudar a comunidade Negra É é muito
muito particular né muito subjetivo até
pela minha história de vida mesmo ah o
questionamento né de onde vinha o
racismo né o o porquê da da existência
né desse fenômeno né para para nós
negros é sempre um desafio tentar
compreender até para combater esse
fenômeno e foi a partir de um de veja só
de uma obra feita pelos Racionais mcis
né Um documentário produzido por eles né
que foi ali lançado no ano de 2006 se eu
não me engano no DVD Mil Trutas Mil
Tretas no qual eles Falavam sobre as
comunidades negras em São Paulo dos
bailes Black só que antes deles trazerem
essa questão dos bailes em si eles fazem
uma contextualização e vão dem mostrando
ali como era né a realidade social das
Comunidades negras em São Paulo desde né
do período final da escravidão eh nas
últimas décadas do século XIX e
contextualiza ali a questão do racismo
científico a questão da dos projetos de
branqueamento né que pularam no Brasil
naquele momento e eu fiquei muito
interessado por aquele assunto uma vez
que na escola eu não tive contato com
aquilo né como aluno e e aquilo me
despertou esse interesse para estudar
essa questão e aí como eu já disse eh
especificamente eu comecei a
estudar jornais por ter tido o contato
com essa fonte histórica por existir lá
na na faculdade de grupos de estudo que
trabalhavam com esses jornais E aí eu
descobri a existência dessa imprensa
alternativa né uma imprensa Negra eh que
eram jornais feitos pela comunidade
Negra né E esses jis naturalmente não
existiam apenas em São Paulo existiam em
diversas regiões do Brasil né Rio Grande
do Sul Bahia Rio de Janeiro e como era
as características desses jornais a
maioria deles né tinham sentido
simplesmente de ser um informativo ali
pra própria comunidade Negra uma vez que
os jornais de grande circulação eh a
chamada imprensa hegemônica não não dava
atenção para essa parcela da da
sociedade então ele se até se inspirando
nos modelos de organização das idades
Imigrantes né Aí sendo mais específico
agora falando falando de São Paulo as
comunidades imigrantes de São Paulo Como
os italianos Libaneses né tinha seus
próprios jornais nisso a a comunidade
Negra passa a desenvolver esses jornais
também
eh e entre esses jornais Alguns vão
desenvolver um caráter mais militante um
caráter mais combativo
né desses combativos eu posso afirmar
para você que o Clarim da vorada era o
mais contundente de todos e vim ali com
um discurso muito forte de denúncia de
combate e a discriminação e enfim eu me
eu me graduei ainda em
2013 Depois que eu fui fazer o mestrado
né tive outras coisas na minha vida né
questões profissionais né fui trabalhar
E aí 10 anos depois que eu fui entrar no
mestrado praticamente E aí eu fui de
continuidade nos meus estudos e consegui
desenvolver a minha pesquisa né ali
estudando a trajetória desse jornal
existência desse jornal e a influência
dele naquele momento
histórico mas o Clarim ele nem sempre
teve essa pegada mais combativa certo no
início você tinha talvez influências de
um pensamento mais elitizado mais
europizza
Ah você podia contar para mim mais ou
menos como é que foi esse processo de de
modificação quer dizer nasceu de uma
certa forma com uma certa pegada e foi
se transformando mais politizado em
quais são os motivos dessa transformação
como é que você enxerga essa essa esse
esse ganho de qualidade política durante
o processo de construção do clarin eu
sei que seu trabalho você visitou 77
edições do em todo o processo de de
existência do CL então você conseguiu
enxergar esse processo de modificação
não foi
sim Interessante sua sua pergunta muito
legal
eh porque eh me dá oportunidade de falar
até um pouco mais sobre o
desenvolvimento desses jornais né porque
alguém de repente que tá nos assistindo
pode se perguntar mas como a comunidade
Negra teve condições de desenvolver
jornais eh no momento qual a maioria
absoluta dessa população era analfabeta
estamos falando aqui de início de século
XXX então é é interessante de começar né
pensando nessa população população negra
ela tinha também a sua digamos assim
heterogeneidade tinha suas clivagens né
existia uma pequena parcela da população
negra que se auto identificava como uma
classe média Negra né geralmente eram
funcionários públicos ou né pessoas
apadrinhadas por famílias Poderosas né
dentro da lógica paternalista da
sociedade brasileira ali no p escravidão
né E aí essa pequena parcela eh tinha
acesso pequeno mas a uma condição
Econômica um pouco melhor E aí essa
pequena parcela da comunidade negra que
tinha condições né de digamos assim eh
eh emular imitar o estilo de vida das
Comunidades Imigrantes né os negros
naquele período eles eram barrados nos
clubes sociais
né clubes que existiam né tanto dessas
comunidades Imigrantes como também do
dos próprios brasileiros doos clubes
sociais clubes dançantes esportivos
Então aí nesse momento a própria
comunidade Negra vai tentar desenvolver
ali os seus espaços de sociabilidade né
seus clubes dançantes e é justamente
dentro desses espaços que esses jornais
vão circular e o Clarim ele surge com
uma proposta de ser um órgão que de
informes ali dentro dessas comunidades
dentro desses espaços né os fundadores
do do
Clarim são eram dois rapazes né no Pero
um deles o José Correa Leite outro Jaime
de Aguiar o Jaime de Aguiar ele tinha á
o Jaime de Aguiar é o rapaz mais retinto
né um pouco mais vamos dizer assim
cheinho né o José corre leite é o mais
Magrinho o ja de aguar ele era de uma
família que foi
apadrinhada por pessoas ricas ele teve
condição de est dar já o José Correia
Leite teve uma uma vida bem mais difícil
né inclusive maior parte da infância
dele ele foi meio que criado na rua né
sendo ajudado por
vizinhos e justamente né Não sei se por
causa disso mas talvez tenha tido uma
influência José Correa Leite era uma
pessoa que tinha já tendências mais eh
combativas ele tinha esse essa linha
esse pensamento de tentar combater a
desigualdade racial já o Jaime Aguiar
ele tinha mais uma visão
eh voltada para pra questão da vida
social ele gostava também de divulgar
obras literárias tanto obras literárias
clássicas obras literárias também de de
artistas alternativas daquele período de
autoria dele também né os dois eram
poetas Mas então num primeiro momento
até a visão deles acerca do problema do
negro era um pouco a repetição da do
discurso dominante naquele momento da
sociedade de que
eh os negros estavam numa situação de
penúria era por culpa deles mesmos
porque eles não souberam aproveitar de
sua
liberdade os negros eles precisavam
mudar o seu jeito de pensar o seu jeito
de agir se enquadrar dentro de uma
lógica né da sociedade agora de classes
né da sociedade burguesa eles tinham uma
tendência de repetir esses discurso e eu
percebi que com com a própria prática a
militância Eles foram se radicalizando e
assimilando uma nova noção uma noção de
que na verdade o Brasil tem uma dívida
para com os negros né uma dívida dos
quatro séculos da escravidão que eles
batiam bastante nessa nessa tecla mas aí
a partir das das minhas pesquisas também
né dos estudos né dá para afirmar que as
próprias práticas racistas que
aconteceram inclusive no pós Abolição
contribuíram pro alargamento do Abismo
racial existente no Brasil e ele é
interessante observar que a própria
prática deles ali no jornal vai levar
eles a adquirir aos poucos essa nova
percepção não é um uma dança repentina
ão um pouco uma mudança linear né Cheio
de Idas e Vindas dentro dessas edições
essas 70 e tantas edições que vão estar
espalhadas ali por 8 anos né o Clarinha
era um jornal mensalista era uma edição
por mês por isso né dessa desse número
pequeno pensando aí em 8 anos mas vai
ocorrer essa mudança a ponto do Jornal A
partir já de
1928 é um jornal que surgi 24 Mas a
partir de 1928 né ele inclusive ele muda
ali o seu subtítulo ele se auto
autodenomina ali uma nova fase do jornal
né no qual ele se dedica ao combate à
discriminação
racial cara e eh eu queria te ouvir
falar um pouco também você contou sobre
o o desenvolvimento do jornal digamos
assim eu eu diria na minha perspectiva
que houve realmente uma ascendência né
então ele começou ah como um jornal
relacionado a questões que não
questionavam muito a sistêmica em que
estavam colocadas as pessoas e colocava
responsabilidade de uma forma pessoal eh
ainda que fosse uma um projeto de
engrandecimento né ó lute pela sua vida
seja faça aconteça ainda que seja um um
processo de engrandecimento ele não
considera as questões mais sistêmicas
que estão colocadas na sociedade mas
agora eu quero falar também sobre um
outro aspecto ah
eh que por exemplo né o o o texto do do
Freire o Gilberto do do o Gilberto
Freire ele tem aquele texto famoso que a
maioria das pessoas conhecem casa G
Senzala que se fala de uma espécie de
Formação social brasileira que seria
diferente da estadunidense e que aqui as
coisas seriam mais amistosas e é bem na
época que o jornal tá produzindo esse
tipo de questão quer dizer existe
existiam confrontos entre visões eh
digamos assim de branco que quer colocar
panos quentes qu é resolver o problema
do no estilo Ah vamos vamos ver como que
a gente se gosta e tal tal tal e tem um
processo denunciante ah de uma imprensa
negra que você tá me relatando porém tem
um um fato que dialoga com o final do
Clarim que mostra que também tinham
movimentações reacionárias dentro desse
esse movimento ah de criação de de
utilização do jornal que como a gente
sabe muito bem a a o desenvolvimento do
fascismo tá acontecendo eh eh mais ou
menos nessa época na década de 30 isso
tá acontecendo tá se manifestando e o
fascismo é famoso por usar o poder
inclusive da rádio né o grande
diferencial e tecnológico do do da
manifestação do fascismo na Itália foi a
inauguração dessa tecnologia nova E isso
também exerceu influência no Brasil eu
queria
que você Contasse um pouco dos percalços
negativos né sequel Gilberto que
escreveu o famoso Casagrande
cala e portanto eu queria te ouvir
acerca Desses
desse desmantelamento que aconteceu do
jornal em face dessas disputas que eu
acabei de relatar sim olha Pedro e você
falou né de duas linhas de pensamento
que estavam num certo conflito nesse
período né falou desse desse movimento
negro que tinha um caráter denunciante
do outro lado né o o movimento já do
Gilberto Freire que tinha essa
perspectiva que tava trazendo essa
Perspectiva da democracia racial tem um
terceiro elemento também importante um
terceiro aspecto que é muito importante
eh a visão estritamente racista também
que nesse período era muito forte ainda
né veja bem o Brasil a partir da década
de 70 do século XIX né Eh vai ter uma
produção eh científica filosófica
acadêmica
eh vai ali tentar trazer uma nova
geração novas escolas de pensamento vai
ter uma influência muito forte do
positivismo vai ter uma influência muito
forte né de de correntes né de
pensamento que estavam em vogga na
Europa no mundo Atlântico de modo geral
e Nesse contexto o racismo científico
ele cheg chega no brasil com uma força
muito grande estamos falando aí de
década de 70 80
e foi nesse contexto que vai se
desenvolvendo no Brasil a ideologia de
branqueamento né enquanto um modelo ali
para se pensar numa reformulação da
sociedade brasileira mesmo né Aí eu cito
Silvio Romeiro eh Nina Rodrigues que
tinha uma influência direta de de
pensadores aí do Darwinismo Social de
pensadores né Eh também do racismo
científico ali digamos pilares do
racismo científico né como onde go pinou
né francês
e a ponto de em 1911 eh ser
desenvolvido aqui no Brasil uma teoria
uma tese que advogava que em 100 anos
não haveria mais negros no Brasil né foi
vamos dizer assim foi criado ali uma
espécie de axioma né que que demonstrava
que buscava demonstrar que os negros
desapareceriam do Brasil né quem criou
esse axioma foi João Batista de la Cerda
que então ele era diretor do Museu
Nacional ele já tinha sido ministro da
Agricultura no ano de 1911 acontece um
congresso né na cidade de Londres que
era o congresso Universal das raças e lá
o Brasil ele ia apresentar né a sua
proposta né como lidar com o problema
negro eh o o viés geral desse congresso
era o seguinte como a raça Branca
superior lidaria com as outras raças né
de uma forma pacífica esse esse era o
objetivo geral digamos assim desse
congresso e aí o João Batista el certa
ele leva né Essa um um artigo né uma
demonstrando ali os resultados de uma
pesquisa que ele desenvolveu né com a
ajuda inclusive de Roquete Pinto né que
era naquele momento um jovem assistente
dele eh e e nessa Nesse artigo ele ele
fala dessa questão do desaparecimento do
negro do Brasil e é e é é até curioso
assim ele fala do desaparecimento dos
não brancos de modo geral que o Brasil
num período de 100 anos ia ser um país
eh de brancos vis ais ao que os Estados
Unidos era né um país de brancos ali da
América do Norte que a Austrália era né
um país de brancos
e que os não brancos representariam uma
parcela muito irrisória da sociedade
brasileira né sendo que assim seria 3%
mais ou menos de mestiças e que os
negros teriam desaparecido fala isso sem
o menor constrangimento
eh
inclusive uma né da Um dos fatores que
levariam a esse desaparecimento seria o
abandono né do do Governo do Estado para
com a população negra e isso faria com
que o negro inferior racialmente né
segundo essa premissa desaparecesse né
Então aí a gente A partir dessa análise
dele lá em 1911 a gente tem noção né do
do pensamento racial daquele período Eh
estamos falando aí da década de 10 né
1911 inclusive esse artigo ele foi muito
elogiado até pela forma pacífica que o
Brasil tava lidando com o problema negro
porque enquanto o Brasil tava pensando
em eliminar os negros em 100 anos os
negros no sul dos Estados Unidos estavam
sendo linchados Queimados vi forcados em
ar árvores enfim
eh mas aí pega a década de 20 é uma é
mais ou menos um período de transição n
vem vai vir aquele influência da Semana
de Arte Moderna a contestação né
simplesmente dessa reprodução pura e
simples pura e simples da estética
europeia dos valores europeus né uma
tentativa ali de engendrar realmente uma
identidade brasileira e nesse momo mento
né Entra a questão da cultura Negra a
cultura Negra passa a ser pensada a ser
vista de uma forma diferente na década
de 20 e aí é É nesse sentido que muitos
jornais negros e e grupos organizados de
negros vão
tentar se inserir de uma maneira
positiva
né inclusive vendo com bons olhos esse
movimento que vai chegar com mais força
a partir da década de 30 eles eh eh
esses movimentos esses jornais
eh e não apenas os jornais né porque
existiam por exemplo existiam um
movimento em São Paulo que foi o
movimento Palmares né um Centro Cívico
né que buscava ali a a inserção do negro
através de educação era uma espécie de
movimento social também esses movimentos
eles vão olhar com bons olhos essa ideia
da democracia racial né eles ainda não
tinham tentado
na questão desse discurso representar
também um apagamento do abismo que
existia ali uma vez que eles ainda
estavam naquele período enfrentando
eh um discurso de combate a qualquer
resquício de Cultura negra no Brasil né
existia ainda um discurso com muita
força que visava eliminar apagar a
presença negra do Brasil inclusive
fisicamente então então o Gilberto
Freire vai ser até visto né dessa
maneira um tanto amistosa e por último
falar da questão da heterogeneidade dos
movimentos negros né naquele período ela
já existia e o exemplo foi essa questão
do final do Clarim da Alvorada o Clarim
da Alvorada é um jornal que seus líderes
ali né sobretudo José corre leite que eu
já mencionei aqui eles vão ter uma um
viés mais Progressista
eh com o passar ali dos anos das edições
isso vai se tornando mais Evidente só
que o movimentos negros aqui em São
Paulo movimento negro em São Paulo a
hegemonia dele acaba indo parar na mão
de um grupo mais conservador qual o
líder era um senhor chamado Arlindo
Veiga dos Santos que era aliado da ação
integralista brasileira né e ele foi
também um presidente da ação Pátria
norista brasileira que era um movimento
pró monarquia né que advogava pelo
retorno da Monarquia e que via com bons
olhos os movimentos totalitários né vos
da Europa até mesmo Hitler né Aí tem um
tem um jornal que surgiu na década de 30
né chamado a voz da raça inclusive é um
jornal que era dirigido pelo arlind
Arlindo Veiga dos Santos esse mais
conservador que faz até artigos
elogiosos a Hitler no sentido de que que
Hitler era um defensor da sua raça e
aqui no Brasil ele
e os brasileiros também precisavam
defender a sua raça até o sentido da
palavra raça né ganha um outro
significado ali na Pena do arim vea dos
Santos porque ele falava ele tinha uma
noção de a gente negra Nacional a gente
branca e a gente vermelha e essas três
né esses três grupos de seres humanos
vão formar a chamada raça brasileira ele
tin uma concepção raciológico
eh relacionada à nacionalidade né ele
fazia essa
interpretação até para lincar com o
discurso nacionalista dele enfim e ele
era violento era
eh utilizava métodos análogos ao
fascismo né Arlindo vean dos Santos eu
acho eu não eu acho que eu me esqueci de
mencionar aqui uma coisa importante
Arlindo Veiga dos Santos ele foi
fundador né um dos fundadores e foi o
primeiro presidente da frente negra
brasileira que foi o maior movimento
racial do Brasil até a fundação do mnu
em 1978 a frente negra brasileira vai
ser um movimento ali da década de 30 né
vai surgir em 31 e vai ser fechado no
golpe do estado novo do do Vargas e era
um movimento muito forte o que acontece
era um movimento que nasceu heterogeneos
só que como quem tinha mais força era
esse grupo conservador centralizador e
até filofascista eles acabaram ali né
tomaram de assando tomando de assalto né
isolando opositores e o grupo ganha num
determinado período esse viés bem
complexo né inclusive é até complicado
muitas vezes hoje eu vejo hoje em dia
eh movimento negro fazendo uma exaltação
à frente negra brasileira né quando a
gente vai estudar a história porque eles
trouxeram uma discussão muito importante
naquele período só que muitas vezes
existe um constrangimento em lembrar
nesse aspecto que foi um movimento
protofascista
pesado complicado enfim e foi essa essa
briga digamos assim entre o grupo do
Alvorada antirracista e o grupo da
frente negra brasileira que vai resultar
no fechamento do Jornal do do desculpa
eu falei o o grupo do alvorado
antirracista alvorado antirracista é
outra coisa a gente vai falar já já o
grupo do Clarim da Alvorada o jornal do
José Correa Leite o jornal Progressista
e o grupo da frente negra brasileira é o
é o confronto entre esses dois grupos
que Vai resultar no fechamento do Clarim
da alborada e é fechado como jornal O
empastamento
da da redação do clarina vorada por
militantes da frente negra brasileira
foram lá naazinha em
pastelo é porque para quem não sabe
pastelo é arrombar e acabar com todos os
os materiais os meio de produção do
jornal né
Exatamente exatamente é assim que acaba
o clarinho da da
Alvorada Pois é cara e me diz um pouco
ah o seu movimento que você até acabou
de mencionar alvorado antirracista Ele
carrega o nome ã em alguma medida do
Alvorada né ele era o o apelido mais
carinhoso dele talvez seria clarinho não
Alvorada mas certamente Você tem guarda
inspiração no no no Clarim né então eu
queria te ouvir falar sobre usos do
passado porque veja o clarin não é você
você não é o Clarim mas certamente você
usou da sua experiência estudando a
história para afundar o o movimento
próprio que de alguma maneira presta
reverência e reinvidica esse passado
como você mesmo tava falando agora
existem questões relacionadas ao ao à
imprensa nacional que às vezes causam
esse tipo de constrangimento a que você
se referia às vezes não tem esse tipo de
questão por exemplo em relação ao clarin
do alvorado que foi desde que nasceu até
quando foi encerrado fiel aos seus
princípios e como eu tava dizendo
inclusive Progressista no sentido de que
começou com uma pegada x e depois foi
desenvolvendo uma compreensão de
sociedade que eu julgo mais
abrangente nessa medida eu queria te
ouvir falar eh não só sobre como é que
foi a a o que que é esse esse grupo Ao
que você do qual você faz parte como que
ele se ele se inspira no Clarim E como é
que você enxerga que os movimentos ah
presentes inclusive esse que eh
diretamente faz uma menção ao passado
mas como é que você entende que os
movimentos de hoje mesmo sem fazer
menção a a esse movimento devem a esse
movimento do passado Ah E aí eu faço um
link com uma questão bastante
contemporânea e bastante
Ah eu não sei nem por mas ela ela é
polêmica mas para mim não deveria ser Ah
que foi a discussão exatamente sobre o
Presidente da República escolheu um
pessoal do stdf e E aí a teve a
discussão sobre uma pessoa negra então
primeiro eu queria mostrar pro nosso
público que não conhece deixa eu colocar
a imagem aqui Então veja desde desde o
início da existência do STF Essas foram
as pessoas negras que ah tiveram no STF
à esquerda você tá vendo Pedro Lessa no
meio você tá vendo eh o emn Gildo de
Barros e no no canto direito você tá
vendo Joaquim Barbosa ou seja durante
todo toda a existência do STF três
pessoas negras
ã tiveram cadeira naquele ele
estabelecimento e houve uma discussão
que foi puxada por um órgão que é de
imprensa digamos assim a b ah na na na
na boca do Gregório do Vivier fez com
que essa pauta se tornasse uma questão
muito
eh relevante de discussão Nacional
enquanto em determinados momentos aquela
discussão podia est em nichos menores a
a internet hoje me parece ser a nova
Imprensa em alguma medida então a minha
questão que eu coloco para você é
primeiro como é que se deu a influência
do Clarim sobre você segundo existem
novos movimentos relacionados a essa
nova ferramenta de de divulgação que é a
internet com presença e que você acha
que deveria ser deveriam ser mais
divulgados e em que medida eles são
reflexo desse
passado poxa vida
pergunta complexa Mas vamos lá vou
tentar fazer um uma reflexão aqui
primeiro sim existe essa influência
direta né o nome desse movimento foi fui
eu que escolhi os meus companheiros eles
acataram a minha a minha sugestão
aceitaram a sugestão né Alvorada
antirracista uma referência ao jornal
clar avorada né e bom falar um pouco de
do nosso grupo né um grupo que surgiu
aqui na na cidade de Tatuí eu e outros
companheiros né ainda em 2020 né nos
reunimos n diante daquele momento
político que o Brasil estava passando
né uma percepção que eu tive inclusive
você Pedro teve uma influência muito
grande para essa minha percepção
eh qual qual vai ser o limite até onde a
gente vai deixar chegar a gente deixou
chegar um cara que não teve o menor
constrangimento de dizer em cima do
palco que Elia metralhar a oposição né
que depois ele vai soltar vários apitos
de cachorro né para grupos de de
supremacistas né talvez naquele momento
de 2020 ainda todos os apitos de
cachorro nem tinham acontecido né como
por exemplo aquele secretário da Cultura
né performando o gums né mas já dava
para perceber que a coisa tava pesada
então eu e outros companheiros aqui em
Tatuí nos reunimos né fizemos uma
reunião coisa de uma semana depois
explora a
pandemia E aí a coisa ficou em standby
retornamos só em 2021 né ainda de forma
remota E aí desenvolvemos né os
princípios os valores pelos quais a
gente ia lutar eu acho é importante a
gente dizer assim eu escolhi o nome
Alvorada antirracista porque eu gosto de
explicitar a ideia de que até mesmo
antes desse grupo ser um grupo do
movimento negro ele é um grupo
antirracista ele é um grupo que ele
advoga pela Superação do preconceito né
acho importante apontar isso porque eu
percebo também né nesse ambiente de
internet sobretudo existe um sectarismo
muito forte hoje né que é promovido em
diversos setores da sociedade inclusive
no movimento negro Eu já vi
interpretações bem erradas dentro do
próprio movimento negro eh eh advogando
por uma espécie de separatismo negro uma
espécie às vezes até de supremacia Negra
né E nós somos Contra esse tipo de visão
né nós partimos da concepção de que não
existem diferenças biológicas que possam
autorizar aí uma separação dos seres
humanos por raças né logo a raça é um
fenômeno social não é um fenômeno
biológico e a partir dessa premissa nós
construímos a nossa luta então por isso
Alvorada antiracista né E nós temos
também um um nós primamos pelo pela
questão da interseccionalidade né de ter
essa noção de que outros vieses digamos
assim eles atravessam o indivíduo
atravessam a sociedade né que o homem
negro ele vai sofrer o racismo diferente
de uma forma diferente de uma mulher
trans Negra por exemplo um homem negro
de classe média né como eu nesse momento
da minha vida vai ser bem diferente de
uma mulher trans Negra né que mor numa
comunidade
eh Isso parece uma coisa óbvia a gente
dizendo aqui mas é importante pontuar eu
acho que a gente tá vivendo um momento
que é importante a gente pontuar tudo né
Eh o mundo tá tão Maluco na verdade
enfim agora bom sobre esse esses usos do
passado né de modo geral foi uma forma
de prestar uma reverência né a esse
movimento que existiu eh porque eu
acredito no seguinte eu acredito que a
luta que a gente trava é uma luta que
não foi a gente que começou a gente deve
muito para esses caras que que lutaram
que derramaram suor e até sangue pra
gente ter o direito de falar o que a
gente fala pra gente ter o direito de
defender o que a gente defende né
portanto
Nada mais justo do que homenagear e
lutar em nome daqueles que já se foram
né
Eh o João Carvalho ele ele tem uma frase
que eu acho ela muito importante n
fundamental né os nossos mortos eles
jamais descansarão enquanto a gente não
vencer né que nós lutamos por nós por
aqueles que ainda virão e por aqueles
que já se foram né
Eh e eu acredito bastante nisso eu acho
que esse diálogo com os movimentos do
passado ele vem nesse sentido e quando
eu falo de movimento do passado eu falo
desde os quilombolas aqueles meus
ancestrais que lutaram né Por sua
existência por sua liberdade
né lutando de fato contra o sistema indo
contra aquele sistema escravista
passando pelos movimentos negros século
X Século XX e a gente tá aqui para
lembrar que essaa deles também não foi
emom e sobre a internet ser uma
ferramenta análoga ao que foi a imprensa
naquele momento né a imprensa escrita
naquele momento início do século XX eu
concordo eu vejo eh muitas semelhanças
muitas similaridades inclusive Esse
aspecto nichado que a internet né
adquiriu né Essa questão das bolhas uma
vez que essa imprensa alternativa as
bolhas são nova as bolas são novaa né é
elas acabavam representando existia isso
era o é um problema que precisou no
passado precisava né gerou contradições
no passado eh Existem algumas pesquisas
aí chegando com força
eh que falam por exemplo da dos atritos
que existiam entre o próprio movimento
negro e o movimento operário em São
Paulo né Eh jornais Operários né que
eram muitas vezes conduzidos por
Imigrantes ou filhos de imigrantes que
carregavam o racismo e às vezes também
movimentos negros jornais negros que
acabavam carregando um viés eh um pouco
xenófobo e carregando poucas vezes de
anticomunismo eh em relação a esses
imigrantes e uma incompreensão desses
grupos que existia era um obstáculo
naquele período n e às vezes olhando pro
passado talvez ajude pelo menos a gente
a refletir Como superar esses obstáculos
hoje em dia né da das bolhas
mas eu sei que a o que eu sei o que eu
posso atestar para você é que a internet
eu vejo ela como uma ferramenta
fantástica para nossa organização eu sei
que a gente não tem os mesmos recursos
de repente que a direita tem né no
sentido de dinheiro mesmo eh mas a gente
tem a capacidade de se organizar tem uma
capacidade né de dialogar com pessoas de
outros lugares de conseguir novas
articulações E isso também traz um
empoderamento né A internet eu vejo ela
como uma ferramenta fundamental paraa
organização agora como utilizar eu acho
que é uma gama aí quase infinita de
possibilidades
e então eu faço essa questão para você
eh em relação
a esses efeitos dessas disputas do
passado em relação exatamente a essa
questão da disputa do STF
especificamente de colocar um nome na
presidência da república
ah ou
no Supremo Tribunal Federal que foi a
disputa que foi colocada recentemente ou
colocar um nome eh dentro do Senado ou
coloc qual é a relevância desse tipo de
tópico
eh eu acho que no Supremo chama ainda
mais atenção porque ali está decisões
que são contra majoritárias então
eventualmente se Se tiverem coisas que
enfrentam são contra ações de estado que
são contra Ah o direito dos negros se
você não tiver um STF com pensamento
pelo menos relacionado ao direito ah de
minorias sociais ou de minorias
políticas que não é a mesma coisa de uma
minoria populacional é que exatamente
tem menos participação na disputa
política
eh isso pode ou não fazer diferença eu
queria ouvir você qual é a sua posição
acerca dessa questão que foi colocada
que foi até tratou de um tema que você
falou aqui interseccionalidade ao mesmo
tempo que a gente mostrou aqui que só
tivemos na história do país três ã
ministros Supremo negro tivemos apenas
três mulheres também é é o mesmo
quantitativo e a discussão que se
colocava que que existe grupo existem
grupos sociais que pedem exatamente essa
bandeira foi essa que foi inclusive
propaganda pelo Greg News a bandeira de
ser uma mulher negra não ser não ser uma
mulher não ser um negro ser uma mulher
negra Então eu queria te ouvir Eu queria
ouvir a sua opinião acerca desta
discussão né O que que você pensa acerca
disso e passar para uma outra questão
que é se estamos falando de política
nacional e de
representatividade acho importante
também que esses movimentos sociais
estejam colocados não nichados para
falar apenas dessas coisas mas estejam
colocados para falar falar sobre
política econômica né estejam eh eh
colocados para falar sobre transporte
público estejam colocados para falar
sobre direito e e política Internacional
e aí eu menciono a outra questão que a
gente deixou em aberto a gente sabe que
nesse momento do quadro da história ah a
África tá passando por modificações
políticas que estão num cenário de
disputa geopolítica Global em relação à
briga dentre a otan e a rú né então
colocado esse estado da arte estão
acontecendo modificações políticas que T
relação com esse fenômeno geopolítico ah
Global Então vou colocar em tela pro
pessoal que não sabe e pessoal que tá
vindo aqui de fora tá assistindo a gente
ó Então a gente tem essa realidade aqui
nesses últimos anos né dentro de 2020 a
2023 Ah seis países trocaram de governo
teve um golpe de estado ou como uma
revolução um golpe de estado fato é que
trocou de governo né então trocou de
governo lá e esse cenário tá sendo
influenciado por questões Extra África
também porque existe uma disputa
ã política inclusive bélica colocada e
que sofre influência disso aqui eu
queria saber da sua pessoa
especificamente como é que você enxerga
Eh esses essas transformações que estão
acontecendo na África
e como é que a gente se posicionaria ou
o seu grupo se posicionaria
especificamente acerca desse papel que
não é discutir apenas
a os problemas digamos de exclusão
social e ativamente participar para ser
um um ator dentro do palco da política
discutir política pública discutir
África discutir Ásia né porque não é só
porque a pessoa é negra que ela tem que
discutir apenas a África discutir a Ásia
discutir Europa discutir políticas
públicas de saúde discutir tudo né
inserir de fato a o movimento social na
disputa política Então faço essa questão
acerca do que você pensa porque eu tô
curioso eu quero saber o que que você
pensa dessa questão do do movimento
africano que tá acontecendo agora e
quero saber a sua posição
especificamente sobre esta questão
racial do do STF que foi colocada e a
questão da representatividade em outros
cargos não só do STF e a terceira
questão que eu quero colocar é essa qu
quais seriam estratégias de pensar uma
participação mais ampla para além
eh da discussão de um tema
específico injetar mesmo a população
negra para participar da política
pública das discussões públicas etc
etc bom primeiro é fundamental eh eu
acho a participação do do NE grupo né
nas discussões e nesse sentido essa
discussão que foi trazida né
sobre
a existência ali de uma mulher negra no
STF a discussão por si só eu já vejo ela
como benéfica em algum nível porque
escancara o racismo estrutural
brasileiro quando a gente para e pensa
que as mulheres negras são 28% da da
população brasileira nunca ex tive uma
mulher negra ali isso eu acho que já é o
suficiente para fazer as pessoas pelo
menos refletirem e entenderem que tem
alguma coisa errada né
Eh eu mas eh eu acho que a a
representatividade ela Ela traz
benefícios se for uma pessoa que esteja
ali também comprometida né com as
bandeiras históricas do movimento nem eh
eu acho que é importante pontuar isso
eh e não tenho muito mais a acrescentar
Nesse sentido porque eu confesso para
você Pedro eu eu não sou uma pessoa
muito ligada em discussões na internet
né pelo menos nos últimos tempos eu não
tenho ficado muito
eh atento a esse tipo de discussão Eu
por exemplo eu nem sabia que tinha sido
o Gregório que tinha dado início a a
essa a essa questão eu diria que ele
usou o palco dele que ele tem um Palco
considerável para amplificar uma questão
que é muito anterior a ele obviamente Ah
sim mas é mas então ele ele usou essa o
palco dele e ele conseguiu dar luz a
essa discussão e foi a partir daí que
tomou a dimensão que que atualmente
ganhou as redes sociais a internet de
modo geral né meio que isso né Eu penso
que sim é Uhum eu eu tava por fora disso
não sabia disso mas ah Enfim acho
importante acho necessário tenho certeza
que existem né mulheres negras muito
capazes de ocupar esse papel e que a
representatividade ela é também
objetivamente importante no sentido a
pessoa que uma pessoa negra vai est ali
ela vai ter uma trajetória de vida
talvez que vai ter influenciado ela de
forma diferente vai ajudar ela auxiliar
a tomar decisões né muito diferentes que
de repente uma pessoa conservadora venha
a
tomar não não sei se eu tenho alguma
reflexão mais aprofundada a fazer nesse
sentido
agora sobre a questão da África né eu no
início vi com bons olhos né eh essas
transformações que estavam ocorrendo
porá mas o pouco que eu analisei eu vi
que também quando a gente já enxerga
mais de perto a gente vê que a coisa é
um pouco mais complexa também que lá tá
acontecendo em alguns lugares como por
exemplo no Chad eh Sabe aquele tipo de
movimento que as coisas o o governo muda
para tudo permanecer igual
né existi existem muitas vezes golpes
palacianos né Eu acho que foi a natureza
do golpe do xad por exemplo que a da
Junta Militar que tomou o poder no xad
né o líder dela ele não era uma uma não
foi um movimento semelhante por exemplo
ao que aconteceu em burquina Faso que
jovens oficiais né tomam o poder e vem
com uma nova proposta uma ideia de um
novo Pan africanismo Aí sim é algo que
nos dá alguma esperança uma mudança de
paradigma para a já né em outras regiões
já não é eh isso que tá acontecendo
Então é importante a gente pontuar que
não dá para ver esses acontecimentos na
África como um bloco monolítico A gente
tem que analisar caso a caso posto isso
eh dizer o que da África
o ainda hoje né existem diversos países
que são né colônias acesas na prática né
que são obrigados ali a usar um sistema
monetário que é controlado pela França
né Ou seja que ão sob a de um
imperialismo né não tem outra palavra
para isso
e a África não se desenvolve né grande
parte por causa dessa presença
predatória dos europeus dos Estados
Unidos lá e esses Esses povos eles têm
direito a
autodeterminação sabe eu tenho uma
influência muito grande de um escritor
chamado Fran fanon Fran fanon que na
verdade ele é é martinicano né a
Martinica que era um território francês
ele se forma médico na França depois ele
vai trabalhar na Argélia
e na Argélia no contexto onde ele está
trabalhando lá ele acaba tendo contato
com os movimentos de libertação da
algéria N E aí ele vai ter uma
influência da ideias socialistas né do
próprio panafricanismo mas ele faz uma
releitura muito interessante de ele tem
uma concepção ser o mundista né
Inclusive tem uma obra do fanon que eu
recomendo condenados da terra eh que ele
faz uma análise bastante interessante né
aquele momento ele tava escrevendo essa
obra início dos anos 60 a auge da guerra
fria né E aí ele faz uma reflexão de
como o povo negro especificamente tem
que se posicionar né diante das
potências né na tanto a socialista como
capitalistas é claro que perante os dois
lados a gente sabe muito bem quem lutou
pela libertação dos africanos e quem
lutou ao lado dos colonizadores né mas
que povo negro povo de África e os povos
do terceiro mundo né expandindo um pouco
mais essa reflexão eles têm o direito à
sua autodeterminação eles têm o o o
direito ao seu próprio desenvolvimento
né E isso se faz uma necessidade e que
essa necessidade talvez essa necessidade
ela possa se concretizar se transformar
num movimento a partir das articulações
entre Esses povos do terceiro mundo né
dessa compreensão do nosso lugar mundo
eh os
negros eles precisam ter uma concepção
não é o negro ele não tem que ocupar os
espaços só para falar de racismo não mas
eu acho que é importante existir uma
concepção de que o o racismo ele é um
fenômeno estruturante da nossa sociedade
ou seja quando a gente tá falando de
Economia a gente tá falando de racismo
quando a gente tá falando de
participação política de política
pública de transporte público de
privatização da água que tá para
acontecer aqui em São Paulo a gente tá
falando de racismo né Eu acho que a
partir do momento que nós pelo menos
buscarmos participar né de todas as
discussões ativamente ente eu bem a
reboque a questão do racismo porque ela
se escancara né a partir da sua
autoevidência quando a gente Analisa os
números a sociedade tantas estatísticas
ou mesmo as nossas experiências
empíricas você dá um rolé no centro de
São Paulo você vê a população de rua
você vê quem é negro quem não é entre a
população de rua para ficar em um
exemplo
eh Então eu acho que sim precisamos
participar de todas todas essas
discussões mas eu não são questões
excludentes falar de racismo é falar de
tudo isso falar de tudo isso é falar de
racismo Então eu queria ouvir um pouco
ah você tem um Instagram dessa desse seu
grupo eu queria te ouvir falar um pouco
sobre Ah como é que funciona o que que
vocês têm produzido como é que é
possível acompanhar
ah eventualmente participar
Ah legal bom o pessoal pode curtir nossa
página no Instagram confesso que no
momento a página tá um pouco parada
ninguém né aqui é militante profissional
né do nosso grupo Todos nós temos nossos
trabalho nossas famílias eh pra gente
mas a gente busca aí se dedicar trabalho
de básico trabalho de básic ultimamente
a gente tem feito algumas ações
presenciais aqui mesmo por exemplo tem
um projeto nosso chamado tela preta no
qual a gente realiza um cineclube né a
gente assiste o filme aqui com a né
convida a comunidade a participar depois
a gente faz uma discussão sobre o filme
A gente traz algumas as ações
eh palestras né rodas de conversa em
momentos pontuais né não é nada uma
periodicidade
muito muito fixa né a gente a gente
tentar também promover a gente tem busca
sempre tá promovendo eh manifestações
culturais negras
eh eu sou também um grande entusiasta do
movimento hip hop mas especificamente o
movimento rap né E nós já realizamos
aqui na cidade de Tatuí alguns eventos
né trouxemos rap sempre buscando
relacionar com essa pegada mais
militante
eh é isso que o nosso grupo busca fazer
e eu tenho uma intenção de transformar a
nossa página num espaço de divulgação de
ideias né é a página ela se trata disso
tá um pouco parado nesse momento eu acho
que precisa voltar ali a ter uma
periodicidade maior mas existem alguns
textos algumas postagens ali
interessantes eu eu sou um dos que
administram a página e levo até alguns
elementos relacionados à minha pesquisa
né falo um pouco Principalmente quando
né trago ali análises relacionadas a
esse passado racista do Brasil e esse
passado recente racista eh abertamente
racista que eu comentei no início da
nossa conversa aqui né é um país que há
pouco mais de 100 anos falava que a
minha raça ia desaparecer
eh simples assim eu eu não pedi para
nascer num país assim mas eu nasci num
país assim eu nasci em 89 n exatamente
101 anos depois da da abolição da
escravatura
e a gente embora não não tenha pedido
para nascer nesse país a gente tá aqui
então a gente tem que lutar contra o que
tá aí e a gente a ferramenta para lutar
contra essa situação eu acredito que a
educação é uma das principais né tentar
e de fato a abrir os olhos aí da
população né fazer a população ganhar
consciência do que que foi essa exclusão
esse processo excludente das pessoas
negras das pessoas não brancas do pobre
de modo geral né na história do nosso
país né projetos sempre muito
conservadores elitistas
e porque assim Pedro eu sou professor em
escola pública né Eu trabalho com
educação há mais de 10 anos já e o uma
coisa que a gente percebe por parte das
Crianças mas também por parte até muitas
vezes de adultos tanto pais de alunos ou
pessoas instruídas outos professores e
etc é que não existe uma
consciência acerca dessa
eh desse aspecto racista do próprio
estado brasileiro as pessoas ainda
enxergam o racismo como um desvio as
pessoas enxergam o racismo como algo
estranho ao corpo social né aquela
pessoa que comete uma injúria né um ato
discriminatório não o racismo não se
trata disso o racismo se trata da
reprodução da normalidade da nossa
sociedade né e eu acho que a partir do
momento que a gente consegue fazer as
pessoas enxergarem isso
eh Isso já é um primeiro passo para
fazer as pessoas se revoltarem e se
buscarem se organizar então assim quem
quiser eh conhecer mais sobre o nosso
trabalho nossos projetos pode dar um
salve lá
no no grupo não desculpa na página de
Instagram pode mandar DM a gente busca
responder ali com a maior boa vontade
trocar uma ideia quem quiser ajudar
também a gente de alguma maneira
aí então meuu querido
eh colocadas todas essas questões eu
queria fazer uma última pergunta para
você qual você pensa que seria o futuro
um futuro positivo a gente tá num num
momento histórico bastante estranho e
bastante complicado em vários aspectos
em vários sentidos inclusive e com
evocações e manifestações reacionárias
que tangenciam esse tema né que que você
enxergaria que seria um futuro positivo
que a gente deveria lutar por ele que
uma coisa possível num numa etapa mais
próxima o que que seria uma bandeira de
batalha um estarte de luta ah nos
próximos momentos pra diminuição do
racismo no nosso
país para diminuição do racismo no nosso
país uma coisa é uma coisa tangível né
quando você começou a pergunta eu já
tava pensando na minha cabeça já tava
subindo indo da
Internacional Mas falando sério
eh Pô o futuro melhor eu acho que começa
com educação de qualidade de base né
quando a gente fala em educação não tô
pensando só na escola Pode parecer
estranho essa fala mas é assim a minha
experiência como professor
n mostra o seguinte não adianta eh a
gente ter uma escola de qualidade dentro
de uma
comunidade tô falando muita gente usa a
palavra comunidade como sinônimo de
favela Não não é disso que eu tô falando
comunidade de modo geral a gente ter uma
escola qualidade dentro de uma
comunidade ali precarizada né ou
crianças passando por diversas situações
de abuso de violência Lembrando que a
própria fome é uma violência a própria
pobreza caristia é em si uma violência
eu acho que isso já impossibilita
qualquer projeto de país razoado eu acho
que a gente tem que entender a escola
como um um espaço né um ponto ali de
intervenção transformador da da própria
comunidade as escolas elas ganharam a
partir eu acho que dos anos 90 uma
capilaridade bastante interessante no
Brasil n eu acho que foi a partir do
governo FHC que os números aí tiveram
uma mudança bem significativo em relação
a
analfabetismo apesar de todos os
problemas que a gente sabe que a
educação tem no nosso país mas hoje a
gente pode falar que a escola é uma
instituição bastante né difundida pelo
Brasil eu acho que a escola ela tem que
ser um espaço que forneça estrutura
paraa mudança da comunidade ali ao redor
ela pode ser um ponto ali para auxiliar
a saúde saúde mental Assistência Social
eh para transformar de fato aquel a
comunidade e a partir da transformação
da comunidade eh dá uma condição melhor
de educação paraas gerações futuras n
uma educação crítica uma educação
libertadora uma educação que possibilite
eh trabalhadores qualificados e
cidadãos críticos que consigam se
organizar compreender os seus próprios
interesses seu espaço no mundo né a
criação de igrejas laicas né mencionando
até uma fala sua em um vídeo anterior
seu eh a criação de de
instituições
organizações que busquem aí promover
né uma reflexão alguma transformação
reunião das pessoas para pensar nos
problemas da sociedade eu acho que tudo
isso é possível né em um prazo mais
curto e aí a partir desse tipo de novas
organizações
eh a gente tentar desenvolver né
projetos políticos
que sejam de fato do interesse público
da maioria da população brasileira seja
que seja bons pro os negros pros
indígenas né paraas mulheres pros
trabalhadores de modo geral né projetos
inclusivos que respeitem a
heterogeneidade cultural da nossa nação
e enfim
eu acho que essa é uma perspectiva
positiva se eu tenho esperança de que
isso vá
acontecer
eu eu não sei mas eu tento agir no mundo
né seguindo essa direção porque eu não
consigo controlar o que vai acontecer
com o mundo mas eu consigo controlar o
que eu posso fazer né então é nisso que
eu acredito e é por isso que eu luto foi
por isso que eu ajudei a criar o
Alvorada Eh mais ou menos essa pegada
que eu tento colocar nas minhas aulas né
Eh pros meus alunos e assim por diante
então é com essa fala
de motivação à ação e não a esperança
que a gente caminha para o término Renan
Muito obrigado por você ter me dado a
oportunidade de te ouvir falar eu peço
para eu agradeço muito a sua
participação Eu gostei muito de dar uma
olhada na sua na na sua dissertação
achei muito interessante ela vai est
disponível a aqui abaixo nos no na
descrição do vídeo vai est disponível
também o Instagram dele e do do Grupo Ah
Alvorada antiracista e
eh novamente eu agradeço ao meu público
que esteve aqui conosco debatendo esse
tema que é um tema de suma importante de
suma importância perdão e portanto eu te
entrego a palavra Ah para você fazer Su
é última manifestação nesse vídeo de
hoje a gente não vai prometer vídeos
posteriores porque eu estou
absolutamente enrolado com duas bilhões
de coisas para fazer e aí eu não
consegui programar um outro próximo
vídeo de diálogos mas novamente faço
agradecimento a você Renan e digo que
estamos junto e na próxima vez que eu
for para São Paulo você vai ter que dar
um jeito de viajar de Guarulhos para São
Paulo que eu não sei se vocês que não
são de São Paulo sabem mas São Paulo é a
parte ali é o é o tamanho de um estado
da Europa Então não é porque você está
no Estado de São Paulo que você vai
encontrar os seus amigos que estão no
Estado de São Paulo mas é isso meu
querido Muito obrigado pela sua
paciência Poxa Pedro eu agradeço demais
as palavras só uma correção cara se eu
se eu morasse em Guarulhos tava do lado
ali pertinho eu moro em Tatuí Fica onde
é que fica Tatuí Pera aí que eu não
conheço tô dizendo que o negócio é
Grande PR caceta T Tatuí é pros lados de
Sorocaba Eu Nossa Sen chegando em
Sorocaba isso é pros lados de Sorocaba
Tatuí eu sou é porque você mas você fez
o o mestrado Foi em em mestrado em Guar
exatamente amigão eu eu pegava o cometão
quatro e pouco da manhã não sei se não
sei se aí em Brasília tem Aviação Cometa
né tem tem sim só que Cometa pra gente é
interestadual aqui Ah pode crer então eu
pegava cometão 4 e pouco da manhã para
chegar lá na aula lá às 9 lá metrô
a Vi do Paulistano Normal normal mas Du
eu tô vendo aqui
2:40 de de
moto é mas mas mas Ô é tranquilo Poxa
vida seria uma satis será uma seria não
será uma sação será a gente ainda vai a
gente vai juntar os nossos grupos e e e
vamos conquistar o mundo relaxa e com
certeza com certeza mas olha eu eu só
vou encerrar essa fala agradecendo
novamente eu tô até um pouco Emocionado
Porque eu conheço seu trabalho Conheci
seu trabalho através do pirula né olha
eu ainda eu eu eu virei ateu uma época
por causa do hoje eu nem me considero
mais ateu que tá errado mas tá bom tudo
bem tudo bem
Você é difícil é difícil entrar nessa
discussão para mim mas você carrega o
nome at teu informma até hoje eu imagino
até que seu canal seria maior Eu acho
que eu já vi você respondendo os l por
causa disso deixa para lá conheci você
lá na época da Tropa dos lter nas redes
2012 aquele seu vídeo que você explica
sobre o politeísmo né que que a bíblia
vem do politeísmo da
Mesopotâmia eu falei nossa que coisa
maluca que coisa doida e aí eu
acompanhei a transformação do seu canal
e para mim poxa é uma satisfação muito
grande est aqui e eu só queria falar o
seguinte pro público que tá assistindo
apoiem o Pedro né tornem-se membros do
canal porque o trabalho que esse cara
faz na internet é poucos que eu conheço
que fazem pode ter canal aí muito maior
Mas isso não significa nada né mas assim
pegar uma análise de tsd diz que ele faz
eh teve um vídeo de tcid diz que você
fez P que no início do vídeo inclusive
você fala um pouco sobre a questão da
história do Brasil ali da da indústria
Canavieira do Brasil não sei se você vai
se lembrar mas aí quando eu vi esse
vídeo eu pensei Putz eu amo esse cara
porque você coloca ali de uma maneira
muito clara como tá relacionado a
materialidade né quando a gente fala nós
negros fomos explorados historicamente é
porque a gente construiu a riqueza desse
país E aí naquele vídeo você tava
falando disso O Brasil colonial ele não
seria viável economicamente se não fosse
a produção de cana de açuc e essa
produção ela só aconteceu através da
exploração escrava E aí você até fala no
vídeo brincando assim não é que aqui no
Brasil o pessoal comia cana se vestia
com cana não mas é isso que tornou essa
colônia economicamente viável foi a cana
enfim N E aí Isso demonstra com uma
clareza né Essa essa nossa questão da
por dessa nossa luta por da nossa nossa
reivindicação Você tem uma capacidade de
síntese né que eu admiro demais e é por
isso que pô Poxa eu muito feliz de poder
olhar aqui pra câmera e falar pro
público apoie o Pedro porque o trabalho
que ele faz na internet é muito
importante e tem que crescer e vai
crescer tamos junto Pedro e é nós
estamos todo mundo junto vamos todos
crescer juntos com certeza e se não
cresceu ainda é porque não acabou relaxa
que a única o único final disso aqui é a
gente vencer então muito obrigado para
vocês todos muito obrigado Renan uma boa
noite a todos e nos vemos
em
[Música]
breve
[Música]
i