coisas para conversar.
Eh, hoje eu recebo o Pedro Ivo, né? HH
Pedro, deixa eu, eu não sou um bom
apresentador, faço questão de não selo.
Então, tá. Eh, hoje eu recebo Jeto de
Brasília Pedro Ivo Souza de Alcântara, o
Pedro Ivo do canal Ateu Informa, que é
também eh graduado em direito, graduado
em história, doutor em metafísica,
doutor em filosofia pela Universidade de
Brasília. Nossa conversa hoje vai vai
ser um pouco em torno dessa dessa tese
de doutorado dele, porque a gente vai
falar de Protágoras, mas o Protágoras de
Platão, o Protágoras, do diácono de
Platão que tem esse nome, né? Eh, eu
acho que bom, a boa pergunta inicial
talvez seja por que que Platão
criou esse deu deu esse esse esse para
esse personagem sofista o nome de um
diálogo e como é que a gente pode
diferenciar o Protágoras de Platão do
Protágoras ou sofista histórico?
Eh, veja bem, Marcos, eu boa parte do
meu trabalho, ele eh trabal ele discute
esse referencial, né? Por uma personagem
histórica, em que medida essa personagem
histórica existindo, essa persona, essa
pessoa em sentido próprio de carne e
osso existindo, em que medida ela é o
que aparece nos textos? Isso para mim é
um tema fundamental que se imiscui com a
questão exatamente do de qual é o
significado da obra platônica, uma vez
que a obra platônica ela apresenta-se
para nós como uma série de cartas, boa
parte delas questionada autoria e
diálogos. E os diálogos, portanto, são
muito parecidos com peças de teatro.
Ele sendo parecido com peça de teatro,
em que medida uma peça de teatro quando
representa uma pessoa tá querendo eh
imitar a pessoa, dizer o que a pessoa
dizia, falar o que a pessoa falava ou
aquilo é apenas um aparato retórico para
construção de uma série de argumentos?
Essa é uma questão elementar. Eu começo
a discussão da minha tese, eh, citando,
eh, Foucault e outra personagem que
agora eu esqueci, que também é famosa,
por é o Barts, hã por questionarem a a a
autoria, a importância da autoria. E eu
faço uma questão de destacar que em
obras de autores antes da era cristã, aí
é que a questão se coloca mesmo, porque
há uma dúvida, inclusive se há o se o
texto que você tá lendo daquela autoria,
daquela pessoa. Então, esse tema do que
quer dizer o autor, se faz faz sentido
perguntar sobre o que quer dizer o
autor, sendo que eu nem sei se esse
texto é de fato do autor que eu
pressuponho que o texto. Então, é é uma
série de questões que para mim são ah,
digamos assim, eh, são preâmbulos antes
de eu entrar na análise da obra, né? Eh,
fazendo uma pequena síntese pra gente
não perder muita discussão e muito tempo
nesse assunto, eu faço questão de
imaginar o seguinte, eu estou
analisando, sempre que eu estiver
analisando, eu estou analisando o
protágoras do texto. Então, eu não sei o
que ele significa para fora do texto. Eu
tô pressupondo que tem uma personagem,
uma personagem faz coisas. Essa
personagem fazendo coisas, o que que ela
tá tentando dizer? O que ela tá tentando
fazer? O que ela tá tentando mover? E o
que que significa todas esses
movimentos, esses argumentos, essas
falas no conjunto de um texto completo,
eh, que é no caso era o diálogo
protágonoras, e se há algo sentido de
fazer conexão deste diálogo com outros
diálogos, ainda que a gente não esteja
com certeza de que esses diálogos todos
a que me refiro pertençam ao mesmo
autor. Uma maneira de você enxergar o
que eu quero dizer, e eu falo isso na
minha tese, é fazer uma comparação com
arte contemporânea no mundo capitalista.
moderno. A gente tem uma obra de arte eh
do cinema americano que se chama Star
Wars. Tem um colega nosso que é da o é
do Rio de Janeiro, é do eu não eu não
sei se é do FRJ, eu acho que ele é da
UFRJ, eu tenho quase certeza que ele é
da UFRJ, que ele fez uma publicação
fazendo essa comparação com a com os
textos de Platão e Star Wars, que nada
impede que você escreva episódio 1, 2 e
3 e episódio 4, 5 e 6 numa ordem
inversa. ele tava argumentando sobre
isso, que eh a diálogos dramaticamente
anteriores, eles não necessariamente
foram escritos antes. Você pode ter
assim na dramaticidade ser coisa mais
cedo, por exemplo, eh
sofista e eh teto. Teteto é antes do do
sofista, do ponto de vista eh narrativo,
mas nada impede que o sofista tenha sido
escrito antes do teto. Coisas dessa
forma, né? H, ele usando esse argumento,
eu dei um passo a mais e falei o
seguinte: “Olha, seguindo esse mesmo
raciocínio, essa mesma metáfora, nada
impede que a gente considere ã episódios
de Star Wars que são posteriores e que
não tem a mão do autor original, o Jorge
Lucas, não tem nenhuma mão dele e eles
ainda assim pertencem ao universo Star
Wars e compõem uma narrativa, mesmo que
tenham sejam autores posteriores.” E
nesse sentido é que eu trato a ideia de
corpus platônico. Então, corpus
platônico para mim não tem a ver com
autoria, tem a ver com o legado
histórico que foi absorvido por nós e
considerado um conjunto de textos. E em
que medida esses conjuntos de textos têm
relação. Então, se a personagem
Protágoras aparece ah no Protágoras, ela
aparece também no TT com funções
bastante distintas. Tem alguma conexão
pelos próprios textos? Não interessa se
Protágoras aí, hã,
se se Protágoras ou se, eh, tet foram
escritos pelo mesmo autor, esses dois
textos normalmente não são colocados em
questão. Nem o Menon, que é outro que
aparece a figura de Protágoras com a
importância grande. Então, eh, eu
conecto não só hã os a personagem, a
função da personagem, mas o tema, quando
o tema que tá sendo debatido no
Protágoras aparece em outros textos,
como ah, por exemplo, Lax, que trata da
coragem, o Lax trata da coragem como o
Protágoras também trata da coragem,
mesmo que Protágoras não apareça ali
como personagem, eu tento, tá, esse tema
que aparece na boca de Protágoras, ele
apareceu aqui, será que tem alguma
função retórica entre um texto e outro?
Quais são as conexões possíveis entre
esses textos? Então, tem uma abertura
semântica muito grande, né, pra gente se
aventurar ah quando a gente abre esse
tipo de lacuna. Portanto, a minha tese,
ela se voltava pros conhecidos diálogos
de fase média e de fase eh juvenil de
Platão, assim considerados. E um
primeiro trabalho eh eh de
análise prévia a isso tudo é que eu
tento fundamentar que a divisão entre
diálogos médios e de fase eh pouco
madura, de fase infantil, de fase
juvenil, melhor dizendo, de Platão, é
uma divisão arbitrária. Primeira coisa
que eu tento eliminar é isso, para dizer
que esses diálogos tem muito tem muito
para trabalhar juntos, ao invés de
pensar uma espécie de superação, um de
uma coisa de fases, que eu acho que vem
de uma perspectiva muito eh da leitura
de Witgenstein, né? Vitgenstein tem um
Vitgenstein novo, tem o Vitgenstein
maduro. Eu acho que isso contaminou o
pensamento da filosofia, da
interpretação filosófica em que as
pessoas muitas vezes forçam nos autores
que têm todos são Witgenstein, né? Todos
têm fases e você pode ir se aventurando
pelo desenvolvimento das fases. Eh, a
primeira coisa que eu tento mostrar
aqui, existe uma ã uma boa razão pra
gente entender que não tem essas fases
iniciais em Platão e se tiver alguma
fase que ela é verificável por
estilometria, alguma coisa, seria entre
fases eh uma fase anterior e uma fase
posterior. Daria para dividir em duas
fases, na melhor das hipóteses. Aí
assim, defendendo, eu me concentro no
diálogo protágoras e para dizer que ele
tem um um uma série de diálogos que ah
comunicam com ele. Então eu trato, né,
respondendo a pergunta, eu trato do
Protágoras no diálogo protágoras e
nessas adjascências que eu justifiquei
por trabalhar com essas adjascências.
Então, eu trabalho o Menon, eu trabalho
a República, eu trabalho o Lax, hã, que
eu tô me lembrando agora, Menon Lax
República,
é, eu acho que só. E aí eu considero
esses diálogos permeando o mesmo
assunto, com uma mesma concepção. Ah, e
fundamento a minha leitura sobretudo do
Protágoras à República. Eu acho que tem
um um link entre esses dois livros, o
Protágoras e a República. Ah, e para mim
a a personagem Protágoras serve ao
argumento que está tanto no Protágoras
quanto na república, ainda que a
personagem não apareça na república. Ã,
dito isso, é essa personagem que eu tô
trabalhando. E aí eu discuto antes a
ideia da gente poder falar sobre a que,
até que ponto essa personagem de Platão,
ela representa alguma pessoa histórica,
se em algum sentido essa pergunta sequer
tem lugar, se a gente tem algum ganho
hermenêutico em fazer essa pergunta
sobre a obra, se a obra ganha, se a
gente ganha alguma coisa ao perceber que
tem um protágoras para fora da obra que
influencia a obra ou alguma coisa nesse
sentido, eu faço essa discussão e eu
chego chego à conclusão de que há um uma
dificuldade sobre a leitura desta
personagem, dessa pessoa, que boa parte
do que a gente entende sobre ela
provavelmente deriva de Platão. Então,
muito antes o contrário, a gente muito
mais sabre de protágonoras a partir de
interpretações que foram feitas por
autores posteriores que leram protágoras
em Platão do que uma leitura direta dos
textos que teriam existido de Platão,
que a gente não tem nenhum, a gente não
tem absolutamente nenhum. A gente fica
refém dos alemães, né, de Deus Cruns,
né, que facilita a organização paraa
nossa obra. Você vê esse verdinho que tá
aqui em cima é o é a compilação mais
atualizada da LOEB, né, do Andrelax e do
Most, que pouco diferencia. Aliás, eu
prefiro a versão alemã mais antiga. Eu
acho que a versão essa versão aqui
pressupõe que você conhece mais do que a
versão alemã. Só que a versão alemã tem
a dificuldade que é uma eh todo o
diálogo que se faz para além do texto
jogado para você em grego é em alemão.
Então há uma certa dificuldade de
acessibilidade, né, pro leitor em
português. Mas a gente tem uma boa
tradução dela, né, na verdade, que é os
sofistas. Ah, eu esqueci o nome das das
tradutoras.
Eh, bom, eu lembro, ironicamente, eu
lembro o nome do sobrenome de uma delas,
que é pinto, né? Mas eu eu poderia até
tentar dar uma olhada para ver se eu
acho aqui o texto, mas são duas autoras
que fizeram a tradução direto do de
Laxim do título sofistas, né, que é a
parte do deos crans, que é só ah do dos
sofistas, né? Então, com com essas obras
de auxílio, né, eu fui atrás das
citações originais em suas versões
completas. Como eu disse para você,
pouco ganho há no Luxemost,
pouco ganho há. Eh, e aí eu fui nas na
na nos textos completos e você consegue
perceber que boa parte da construção que
a gente tem, ou seja, dos fragmentos que
a gente tem, por citação de outros
autores da antiguidade, ah, sobre a
personagem Protágoras, bebem
imediatamente de Platão. Então, a figura
que a gente tem, a o estilo de citação,
de demonstração, de interpretação, em
certa medida, bebe de Platão. Então, eu
faço um pouco dessa análise, até sou um
pouco ousado, talvez até temerário em
algumas a alegações que eu faço. Até eu
faço essas as alegações deixando claro
isso, né, que a gente tem muita
dificuldade para fazer esses
enfrentamentos, mas eu faço até análise
de
eh de documentação registrada em pedra
para ter uma hipótese específica sobre
qual era a relação possível de
Protágoras com Atenas e porque que ele
era tão famoso em Atenas, se é que o
era, né? Eh, eu faço uma alegação que eu
eu me baseio na contagem da tributação
ateniense, que tem um salto muito
específico, numa época muito específica,
que parece indicar que eh um salto de
cobrança de tributo e abidera, né?
Então, Atenas tem um tem uma aliança,
né, com o eh várias outras póleis que eh
eu tento enxergar naquele salto que tem
entre um ano e outro específico do do de
tributação de Abidera, que é uma das
principais e, portanto, é uma das
cidades mais ricas, uma espécie de
evidência de uma possível relação
especial com a Abidera. na época de da
construção daquele projeto de Atenas,
eh, de uma cidade panelênica na Magna
Grécia, né, que é eh como é que é o nome
da cidade? Tu, tu, ah, agora tô tem
muito tempo que eu fiz essa tese, então
eu não lembro, mas é, tem uma cidade
panelênica que vai ser construída por
Atenas, ah, que é um um um dispositivo
geopolítico feito por Atenas, que ah
alega-se que Protágoras é que escreveu a
as leis dessa cidade, né? Aí eu tento
buscar em vários elementos que isso
teria alguma fundamentação e etc e tal,
para tentar mostrar que haveria motivos
para encarar que as afirmações de que
Protágoras teve uma participação
importante na política interna de Atenas
eh tem plausibilidade, né? Eu evoco
essas informações para deixar, olha, não
tem como ter certeza, mas tem alguns
indícios que apontam para aí. E nesse
sentido, eh, parece que a figura de
Protágoras, como essa figura que é dada
tanta importância no texto eh
platônico sobre a influência da
sofística eh em Atenas, ah, encontra
algum respaldo na transferência de
intelectuais que a Atenas tinha, que a
gente pode enxergar, por exemplo, na
posição de Heródoto. Heródoto tem um
texto de história que é bastante
atenocêntrico e Heródoto não é
ateniense. Então, ah, esses indicativos
parecem apontar pra realidade dessa
dessa comunhão de de intelectuais paraa
região que de alguma forma influenciam
na política ateniense. E me parece que o
o o alerta que Platão dá para que essas
figuras elas acabam influenciando na
política interna, o e o Protágoro
selecionado quando como esse personagem
mais importante,
me parece que tem a ver com a briga de
Platão com um outro autor que era
discípulo de Gorgeas, ah, que e ele
acaba atacando Platão e outros sofistas.
A minha a minha leitura é essa. Este
outro autor que ataca Platão e os
sofistas no mesmo balaio, eh me parece
que a obra de Platão inteira tá tentando
fazer essa essa distancia esse esse
distanciamento. Então, veja só, existem
intelectuais que influenciam a política
pior? a gente não. E aí Protágoras serve
como essa, na minha leitura, como essa
ponte de até que medida a gente faz o
que eles fazem e até que medida a gente
tá indo para um outro caminho. Me parece
eh que é é plausível ã essa
interpretação e ela que eu sustento na
minha tese.
Na na república tem uma passagem que o
Sócrates comenta que o pior erro é
confundir cães e lobos, né, na na
construção da cidade. E essa distinção
entre o filósofo e o sofista parece ser
um alvo muito importante nessa
construção. E uma coisa que me chama
atenção nesse diálogo é que ele é
narrado por Sócrates, né? Exato. Exato.
Eu acho isso que chama muita atenção nos
diálogos, porque são sempre assim, tem
sempre um preâmbulo como se fosse uma
abertura que alguém vai rememorar a
história que vai ser contada. Só que
dessa vez é o próprio Sócrates que tá
relembrando, né, algo que aconteceu no
dia anterior, me parece, né, e ele eh
ele contando, né, tu tem essa ideia do
Sócrates narrador e a colocação de de de
início do do Protágoras como cara mais
mais
importante, mais famoso eh da região,
né? Tipo, ele é o ele é o mais eh
badalado, né? Uhum.
Eu eu acho eu eu achei isso eh essa
posição do do do narrador interessante
para você pensar também o que vai ser
dito no texto. H e a questão inicial é
sempre é que vai permear o diálogo é
essa de você procurar protágoras para
quê, né? e o o amigo do do Sócrates quer
procurar Protágoras
de alguma forma para conseguir eh
areter. Agora a gente vai ter que
discutir o que que é o que que é essa
palavra.
Eh, aí eu vou te perguntar assim, o o
protágono é uma espécie de coach para
você conseguir fama? Até que ponto a
palavra fama eh traduz a palavra aretê,
né? Porque me parece que até a ideia,
olha, o Protagon ele treina treina
influencers.
Uhum.
Faz algum sentido?
Eu acho que sim.
Eu acho que a aproximação é plenamente
possível. Eh, a tradução que muitas
pessoas usam para aretê, a tradução mais
elementar que eh muitos apresentam, é
aretê traduzido para virtude.
Acho que é uma tradução ruim porque
confunde ou mistura a herança grega
direta com a herança eh cristã, porque a
questão da virtude moral ganha uma
conotação
especial, diferenciada dentro da
tradição cristã. E eu acho que é
importante preservar uma conotação que
eh tá sendo disputada no século
ainda antes da era cristã. E e por isso
eu acho que fica mais legal se a gente
se prender eh a a a questão etimológica
para enxergar essa ambiguidade. Então,
aretê eh vem do mesmo lugar, tem a mesma
raiz de aristos, né? Então, eh, que vem
e é como se fosse o superlativo de bom,
né? Você tá aqui no bom, aí você vai
para um melhor, né? o o melhor possível
ou o melhor em relação ao pior no
relativo. Então o o a área tê essa que
quando você tá falando assim, ó, isso
aqui é bom, isso aqui é melhor. O melhor
quando você dá esse trato, ele vira. Aí
eu traduzo assim, o excelente. Então eu
traduzo aretê por excelência. Aretê por
excelência. na República. Isso fica
muito claro, porque ele faz comparações.
Ele fala: “Olha, nós humanos temos
excelências,
assim como o olho tem a excelência. Um
olho que é excelente é aquele que bem
enxerga”. E aí ele cita a foice. Ele diz
a foice.
Ah, por exemplo, tem várias coisas que
cortam, mas qual é aquela coisa
excelente para cortar a grama? É uma
faquinha de cozinha, não é? foice, então
tem coisas que são excelentes para
determinados fins e tem coisas que estão
em sua excelência em atingir determinado
fim. Ah, o olho, por exemplo, o olho que
bem enxerga um olho excelente, né?
Então, essas comparações são feitas
dentro da obra platônica e eu não perco
elas de vista quando eu tô
zigue-zagueando por, entre outros textos
diferenciados. Então, no livro primeiro,
no livro primeiro da República, isso
aparece com muita clareza. Eles estão
falando de excelência humana. O que que
a gente tá falando aí? que usa as
metáforas e você, ah, entendi. Então,
não se trata apenas de uma virtude no
sentido moral, eh, que te pune. E essa
que é a grande questão que tá sendo
debatida o tempo todo. Às vezes as
pessoas falam em virtudes, quando vai
paraa República, isso fica claro. Você é
virtuoso, mas ninguém no livro dois,
você é virtuoso, mas virtuoso moral, mas
no fundo, se todo mundo pudesse colocar
o anel de giges e se esconder, ninguém o
seria. Portanto, não parece que as
pessoas fazem a excelência por si
próprio, mas para parecer excelentes,
porque daí eles ganham frutos externos e
não diretos da própria excelência.
Então, parece que não é uma excelência
por si, é uma excelência que visa uma
finalidade e excelência externa. Então,
se a excelência for externa a partir do
que os outros vêm, então você não
precisa ser excelente, você precisa
parecer excelente, né? Eh, então essa
dinâmica
da excelência enquanto algo que é útil,
que é funcional, que gera algum
resultado, é uma dinâmica que tá sempre
no debate de Sócrates contra os sofistas
que muitas vezes agem de maneira cínica,
né? Eles não acreditam mesmo que é para
ser excelente, etc. e tal. Ah, e eu acho
que esse não é o caso do Protágoras. no
do diálogo do Protágoras, o Protágoras
não aparece como um cínico eh o único
momento em que ele aparece como um
cínico das excelências, que ele acha que
a excelência não é bem, ter um bom
comportamento, trazer bons resultados
sociais, etc. e tal, é quando ele fala
da coragem, que é exatamente o que
derruba o Protágoras. É como se o
Protágoras, no final ele admitisse que
quando colocou a coragem em jogo, aí eu
tenho que admitir. Essa eu perdi mesmo,
né? Porque a a coragem seria uma
daquelas excelências que não estaria
colada com as outras excelências humanas
para fazer a unidade da excelência
humana, que era o projeto inicial que
Protagonas dis que ia defender. Então
ele disse: “Eu com eu sou
ensinador de excelência humana, eu sou
ensinador de aretê”. Aí sim pergunta só:
“Que tipo de aretê é essa que você tá
ensinando? Que que isso significa?”
E aí, eh,
o próprio Protágoras responde: “Olha, eu
sou excelente, eu ensino excelência para
você tomar boas decisões em sua vida
privada e na sua vida pública.” Na sua
vida privada e na sua vida pública, você
vai tomar excelentes decisões na medida
que você conviver comigo. No dia que
você conviver comigo, no dia primeiro,
você já vai começar melhorando. Vai
passando o outro dia, já vai ser melhor
do que o dia anterior. É isso que eu
prometo, ser bom, excelente na vida
pública e privada. Quando ele diz isso
aí, Sócrates, que se posiciona na
posição do cínico, ele fala assim: “Olha
só, eu poderia até concordar com você,
mas aqui em Atenas parece que quando a
gente tá falando de política, de
excelência política, excelência pública,
não me parece que é uma coisa assim
ensinável, que você convivendo com outra
pessoa você aprende. Por quê? Em Atenas
se convida todo mundo para participar da
política. Quando quer saber como é que
se constróem os melhores barcos, aí não.
Aí só consulta o cara que sabe fazer
barco, o engenheiro naval. Quando a
gente vai fazer casas para Atenas, aí
consulta o cara que sabe fazer casa. Mas
quando vai falar de decisão se a gente
vai paraa guerra ou se não vai, se a
gente vai fazer um tratado com esse,
quando a gente vai falar de questões de
associação política, eh, os atenienses
convidam todo mundo. Então, parece que
há um pressuposto dentro dessa sociedade
que a excelência não é uma coisa
ensinável. que todo mundo pode
participar, qualquer idiota pode
participar.
E nesse momento o Protágoras vem para um
texto muito bonito, que eu acho um dos
mais bonitos textos da filosofia, em que
ele convoca a metáfora a respeito da
história de Prometeu. e prometeu para
mim a Caro que é uma personagem que foi
recuperada no século XIX paraa defesa do
ateísmo, né, pela eh pelo Persey Chelly,
pela Mary Chell, que são um casal, né,
que fez o o ã o o a a Shelly fez o
Frankstein, né, que monstro de
Frankstein, que é tão famoso na cultura
pop. E e Marx mesmo, nas citações de
Marx, no primeiro texto dele, aquele da
do do a diferença da filosofia da
natureza de Demócrito e Epicuro, ah, na
introdução desse texto, ele cita eh o
Prometeu de Hquilo, né? Olha, em toda em
uma palavra odeio todos os deuses.
Então, ele é uma personagem para que
para mim especialmente ela é muito cara
por causa que ela tem a ver com a
recuperação do ateísmo, ã, ou pelo
pelo assumir do ateísmo, tanto em língua
inglesa quanto em língua alemã. Eh,
ela serve como essa metáfora eh do homem
que controla a natureza a partir da
dádiva do fogo e etc e tal. Esse esse
texto por si só me tocando, eu acho que
a construção do eu prestei muita atenção
na construção dessa metáfora que aparece
na boca de protágas e e
percebi que Platão não tava criando um
texto aqui eh eh de idiota para ser
refutado, porque muitas vezes muito
tempo na literatura se pensa isso. Olha,
Sócrates é o lado do bem, o sofista é o
lado a ser derrotado para ser mostrado
como se faz manifestar o bem. E,
portanto, tudo que Platão desenha a
partir das personagens sofísticas é uma
é uma idiotice, é uma é uma é uma
caricatura, é um desenho a pior que
tenta ah pintar aquela personagem com
tão paspalhona que ela vai ser derrotada
por esse discurso que constrói o bem na
sociedade. E como eu sou muito
interessado por esse por essa
personagem, o Protágoras, eu perdi muito
tempo lendo, relendo, olhando no grego,
olhando
eh interpretações de várias pessoas.
sobre esse tema. E o que eu percebi é
que, na verdade, aquela metáfora tem um
papel muito fundamental. Quando ela
termina, quando ela termina de ser
apresentada, o Sócrates concorda com ela
e diz assim: “Olha só, veja bem, me
parece bastante interessante isso que
você tá dizendo. Agora vamos levar às
últimas conclusões, isso que você tá
defendendo.” E aí eu acho que é onde se
mostra o distanciamento entre Protágoras
e Sócrates. Enquanto o Sócrates tá, ele
tava na posição do cético, ele tava na
posição do questionador, ele tava na
posição daquele que não acredita que a a
excelência política é ensinável. Ele
tava nessa posição, ele se alega nessa
posição. Quando o Protágoras vai
defender essa posição, ele força, força,
força até mostrar que Protágoras não é
um bom defensor dessa tese. Eu acho que
o papel desse diálogo é esse. E,
portanto, se não tem um bom defensor
dessa tese, eu preciso continuar
perguntando. E aí, por isso que eu acho
que do ponto de vista eh narratológico,
do ponto de vista discursivo, você tem
que ler o Protágoras e na sequência você
tem que ler o Menom. Porque o menu ele
acaba o o ttet ele, perdão, o protágoras
ele termina com a exata questão. Olha,
eu te derrotei em relação à questão da
coragem. O próprio Protágoras diz:
“Olha, Sócrates, ele diz no final do
texto,
você é realmente um grande pensador,
maior do que qualquer outro que eu já vi
aqui. Eu acho que é esse que é o o
bastão sendo passado. Assim, ó, você o
Protágoras tinha a tese correta. Dá para
ensinar excelência política, mas o
Protágonas não sabe como. Então ele
transfere o bastão para para Sócrates
dizendo: “Olha, eu sou esse grande homem
que todo mundo admira, mas você é o
rapaz.” Porque o Protagus é o mais
velho. Isso é a isso é dito
insistentemente no texto. Ele é o ele é
o mais velho, mais sábio que tá ali na
situação. Mas eu tô te transferindo esse
bastão e você vai continuar essa
questão. Eu acho que tem essa transição
no final do texto. E o Sócrates termina
o texto dizendo: “Olha, eu até queria
continuar conversando aqui, mas eu tenho
que ir para não sei aonde, etc e tal”.
Ã, e o difícil é, eu não sei se dá para
ensinar a excelência, porque eu nem sei
o que a excelência é. Então eu vou ter
que descobrir o que é excelência é algum
dia, quem sabe pra gente continuar essa
discussão. E o texto que se linca com
isso, que começa assim é o Meno. Ó,
Menon, a gente tava conversando aqui o
que é excelência,
certo? Então eu acho que tem um link
muito claro entre o texto e outro. E no
próprio Meno, depois que vai aparecer o
cara que vai acusar o Sócrates, o cara
que é um dos acusadores do Sócrates, o
adulto acusador de Sócrates, é esse que
tá no diálogo do Beno e ele vai chegar
puto com a discussão dos dois e vai
falar: “Vocês são só um sofistas
safados”. E vai citar Protágoras no
Meno. Ele vai dizer: “Vocês são sóistas
safados, tipo Protágoras, etc e tal”. E
e insulta Protágoras. O o como é que é o
nome dele? Ai, quando ele começa com a,
eu não lembro o nome dele agora, mas
essa personagem ela ela entra, tá a
discussão Menon e Sócrates, ela entra na
discussão para sair insultando de
maneira espivitada, violenta, agressiva
todos os sofistas. E o Sócrates se
coloca assim: “Olha, veja bem, tudo bem,
mas você também não é essa Coca-Cola
toda.” E aí dá, ou seja, o texto, se
você linca esses dois textos com
Apologia de Sócrates, que cita que esse
é um dos acusadores, parece que esse,
que é um dos acusadores odiava de
maneira tão visceral o os sofistas que
ele não conseguia diferir os sofistas
que são mais sacanas daqueles pensadores
que estão buscando de fato conhecimento
a partir daquelas questões levantadas
pelos sofistas. Eu acho que é esse que é
o link. Aí tem essa tríplice eh
construção que é preciso observar para
entender a a a função da personagem
Protágoras é o Protágoras, O Menon e a
Apologia de Sócrates. Se você junta
esses três, eu acho que você enxerga
qual é a função do do Protágoras nesse
texto. E aí a questão da excelência que
tá colocando no livro primeiro, ou
melhor dizendo, no livro Protágoras,
quando ela aparece no menor é a mesma
coisa. Vamos discutir o que é
excelência. Eu sei o que é excelência.
Não sei o que é excelência. Talvez a
gente tenha entrado em contato com a
coisa em si, para usar um vocabulário
ã bem utilizado da filosofia alemã. Tem
entrado em contato com a coisa em si em
algum momento e de alguma forma a gente
tem alguma memória disso, que ela exista
independente do homem, não sujeita as
coisas subjetivas. Talvez isso seja
recuperado por uma reminescência da
época que a gente entrou em contato com
elas antes de encarnar em em vida e etc
e tal. A discussão do meu não vai por
aí, mas eu não sei de novo, Camil, mas
eu não sei. Só que tem uma coisa que ele
fala que também tá na no no final do
diálogo. Você vai pro final do Meno, ele
fala: “Olha, a gente continua sem saber
o que que é excelência para dizer se dá
para ensinar excelência política”. Mas
aí ele solta o termo técnico que aparece
numa construção que parece do ponto de
vista narrativo, que é a construção de
que se é assim, ó, Sócrates pensou nisso
pela primeira vez aqui, que ele fala
assim: “Ah, pra gente dizer o que é se
de excelência é ensinável ou não, a
gente tem que aprender o que é a
excelência em si mesma por si mesma.” É
um termo técnico que vai aparecer depois
da filosofia platônica, que é autó
cataltó. ela mesma por si mesma, tá na
no último parágrafo do texto do Meno. E
aí é eh é é que eu construo que esse
salto que o Protágonas não fazia, o
Protágonas raciocinava e tal, falava
sobre as relações entre coragem,
ah, coragem, sabedoria,
ã, coragem, sabedoria, temperança. E aí
ele raciocina sobre isso. Para você
dizer quais são as relações mesmas
dessas coisas, você tem que perguntar
sobre essas coisas ao toca tal. É essa a
construção que eu faço na minha tese,
que eh o entendimento do que o
Protágoras falhou é aquilo que você
enxerga na resposta do menor, quando no
menor, no final do texto, ele faz a
questão. Olha, para dizer que tem uma
sabedoria que tem como saber e tem como
ensinar, para dizer que tem uma
temperança, que tem como saber e tem
como ensinar, para saber ah, que tem uma
justiça que tem como saber e tem como
ensinar, ela tem que existir em si
mesma. Ela não pode depender da
subjetividade humana. Ela tem que ser em
si e depois a cabeça só encontra o que
ela é. Ela não inventa o que ela é.
Porque se for só todo mundo inventando,
aí você cai no problema relativístico,
né? Eu acho que é por aí que o que
Platão quer dizer.
Tem um monte de coisa que você colocou
muito interessante, porque é como se
fosse a distinção entre literatura e
filosofia também, como se você tivesse
lá, os sofistas estão continuando esse
jogo dos poetas,
mas aqui a gente vai moldar o jogo.
Aqui a gente tem um ponto metafísico, a
gente vai criar literatura fantástica,
ou seja, filosofia,
tipo, a gente vai subir um um tom no
discurso e a coisa por si mesma ela
mesma, né? E é muito curioso assim que
eu fiquei pensando no começo do diálogo
em que o pessoal, o personagem fala
assim: “Ah, Sócrates, se você tava ontem
conversando com com o Alcebiad: “Não,
não, o Acebid estava lá, nem prestei
atenção nele, porque a pessoa mais bela
tava lá, quem? Protágoras”. Então, como
se você consegue identificar
a beleza, então você consegue
identificar a aretê e diferenciar da
aretê de certa forma física que o mais
belo fisicamente era o biíads, né? tem
essa identificação, mas não tem a
definição, né? Tem lá esse jogo de
ambiguidades. E a gente sempre lê esse
diálogo do ponto de vista da ironia, né?
Da ironia e da arrogância. São duas
coisas que andam juntas, né? Elas são
jogos. Hã, e a figura do
do a figura do Sócrates das nuvens era
um sofista, né?
E aí você tem esse esse eh as tentativas
de se desvincular um pouco a dessa
imagem do sofista. Eh, e isso tá em
disputa na obra do Platão, a gente se
esquece desse tipo de disputa. Aí uma
coisa que me chamou atenção também, que
é sempre eh esses pretextos que não
podem ser desconsiderados, é aquela
coisa que o indo para conversar para o
lugar onde o sofista, onde o protágoras
está, ele e seu amigo Hipócrates, né,
eles tm um diálogo sobre um tema que não
é referido e eles só terminam o diálogo
quando chega um consenso.
Aí sim ele na casa, né? E aí você tem a
diferenciação entre diálogos que em que
você conversa para buscar o consenso e
diálogos que você disputa para vencer.
Uhum.
E a gente não pode dizer que o diálogo
entre Sócrates e Platão é um diálogo de
disputa para vencer.
Então isso é muito curioso. Isso é muito
curioso, né? Uhum.
Porque não dá para dizer, diferente do
trazímaco no no na república,
eh você tem um interlocutor,
você tem um interlocutor que tem
qualidades,
né? o intelecto. E esse discurso do
Prometeu, ele traz, mostra essas
qualidades. Eu vou te pedir, Pedro, eh
para você contar esse essa história que
o que o que o Protágoras conta, esse
mito do Epimeteu e do Prometeu, se você
lembra dele, para contar em mais
detalhes, porque eu acho que é muito
interessante até pela construção do que
é justiça, né? A ideia de dos debates
sobre justiça, eu acho muito
interessante essa ideia de pensar a
justiça como fator de sociabilidade,
inclusive.
É, exatamente. O o
a gente tem pelo menos duas outras
fontes anteriores a Platão eh falando
sobre esse mesmo mito, né, da criação da
humanidade.
E eles,
eu tô falando aqui de Esquilo, né, que
tem
o Prometeu acorrentado. E tô falando do
ah Exildo, né, que ele menciona a a de
passagem a a o nascimento de
da humanidade, tanto em trabalhos e os
dias quanto na teogonia. Eh, mas na
teogonia você tem uma concentração dessa
hierarquia de formação, né? Uma
historinha passo a passo que você
consegue enxergar qual seria o o papel
da criação de Prometeu. Enquanto em
Prometeu acorrentado, que é um texto que
há uma discussão se Prometeó acorrentado
é atribuível a Esquilo ou não. Ah, em
que medida a gente poderia saber o
conteúdo das duas outras obras que
formariam a trilogia, da tragédia e etc.
tem uma discussão grande sobre isso, mas
ficando só no no simples, né, no simples
do texto, aquilo reconhecido. Ah, é
primeiro por Esildo. Esildo apresenta eh
uma uma consideração muito simples.
Prometeu, é uma personagem que em alguma
medida é um benfeitor da humanidade, mas
ele não reconhece a autoridade ah
superior de Zeus e, portanto, faz
algumas ações que fazem com que tanto
ele quanto a humanidade sejam punida.
Parece que tem uma mensagem de fundo que
é não se briga com as forças superiores,
né? a impressão que se dá é que tem uma
mensagem de de de filosofia moral na no
texto de eh Exildo, que é não se briga
com as autoridades eh superiores. E me
parece que é muito lincável se trabalhos
e dias e teogonia é do mesmo sujeito.
Assim, me parece bastante óbvio que eh
Exildo tem algum problema com a
impunidade, né? Exildo é um típico eh eh
assim, se se eu fosse conservador, eu
faria muita questão de ensinar paraas
pessoas exildo, porque ela ela ela
exildo expressa essa vontade de punição
para as pessoas que desobedecem. E e se
trabalhos e os dias é dessa mesma
pessoa, dá para se explicar porquê.
Porque ele foi passado para trás pelo
próprio irmão numa questão de sucessão
do pai. Então o texto fala muito sobre
isso. Olha, você devia trabalhar pelos
seus próprios, suas próprias pernas,
pelas suas próprias mãos, mas você
insiste em ir para fazer sacanagem e
ludibriar juíz e etc e tal. É uma
desconfiança muito grande com as
condições humanas de resolução de
conflito. E é uma é uma briga, uma
declaração de guerra contra o irmão, o
trabalho e os dias, né? É muito
explícito isso. Então me parece que eh
Esildo tem uma vontade de justiça muito
grande e uma vontade de justiça
autoritária, no sentido de que olha, tem
que ter uma autoridade que pune esse
bando de desgraçado que não é
controlável por nada, né? Uma coisa
quase antinitiniana, né? Enquanto eh N
tem uma preocupação de, olha, a gente
deveria tentar fazer mais o que quiser
sem se preocupar com as autoridades. A o
exildo tá no extremo oposto da situação
dizendo se deixar o vagabundo do ser
humano fazer o que ele quiser, a
desgraça estará dada. E eu acho que a
mensagem que tem, eh, isso falando de
trabalho os dias, a, a mensagem que tem
no na passagem a respeito da figura de
Prometeu é essa. Ela é um ela ele é tão
talvez pessoalmente, né, mentalmente
embricado com essa questão que a questão
que aparece em Prometeu é: Prometeu fez
uma coisa que é boa pros seres humanos,
mas você tá errado porque você
confrontou a autoridade só. E somente
só. Ele ele chega a fazer questão de
dizer esse homem, né, ou essa criatura,
essa personagem, esse sujeito na
história que prometeu, ele é ele ele é
um dos mais inteligentes, ele é o mais
um dos mais ludibriadores, mas nem esse
homem, parece uma lição para criança,
mas nem esse sujeito transcendental, com
todas as suas capacidades, ele escapou a
punição. Então, eu acho que esse
registro do texto é muito importante
para entender o papel de Exildo. Em
linhas gerais, a história é ah, o ser
humano foi criado pela pelas mãos de
Prometeu
e, portanto, ele tinha um apego com
aquela figura e ele acaba, ah fazendo
com que ah ele tenha acesso ao fogo
divino. Accesso ao fogo divino, dá mais
poderes pra humanidade e ele consegue
fazer com que não precise se fazer
sacrifício para Zeus, queimando comida
de verdade. Ou seja, tem uma narrativa
que é ela a teológica, né? Ela explica a
causa, ela teológica e e ela tenta
explicar a causa de por quando vai fazer
sacrifício para Zeus, vocês têm que
queimar apenas osso. Você não precisa
queimar comida, né? Aí ele fala que o
Prometeu enganou Zeus para que ele
achasse que a que que quando ele fosse
escolher o que que ia servir de
sacrifício para ele, ah, fosse uma parte
gordurosa. A gordura que estava por cima
era só um enfeite. Na verdade, Zeus
escolheu os ossos. E, portanto, é por
isso que os gregos quando vão oferecer a
Zeus não precisam queimar comida, é só
dar os ossos e queimar os ossos. Então,
tem uma etiologia ali da explicação de
porque isso aconteceu. Isso é obviamente
um benefício, né? você não tem que
gastar comida, você tem que tacar eh
fogo na eh em apenas ossos. Então,
apesar disso ser um benefício, ainda
assim ele foi punido, porque ele como
ludibriador que foi, né, ele não escapa
aos desígnios de Zeus, ou seja, não tem
de ser espertinho, né? A mensagem que
tem ali é, não tem de ser espertinho.
Pois bem, ah, essa estrutura de de
ajudante da humanidade aparece em
Esquilo de uma maneira bastante curiosa,
porque Esquilo aparentemente é uma
pessoa muito devota também. A a os
textos de Eskos fazem referência e
reverência às divindades, essa
necessidade de ter a cabeça baixa, uma
coisa muito muito importante no etos da
da do período arcaico, né? que é a a
você evitar ter rilbres, né? Você ter
evitar ser achar que é o maior e tal.
Então isso também existe bastante em
isso existe, exista em Prometeu
acorrentado, existe uma discussão
curiosa sobre como Zeus está punido
injustamente. Se você lê o texto e
assim, a sensação é de que Zeus não é
exatamente um cara legal, então parece
haver um componente de confrontação
dessa coisa do que vem de cima. você
para e obedece porque parece um
injustiçamento. É Efesto, né? Efesto eh,
ou vulcano na literatura romana, né?
Efesto ele tá ele tá prendendo, eh,
prometeu e reclamando a vida, né? Ó
desgraça minha que estou aqui, né?
fazendo essa punição que eu não
gostaria, ou seja, anunciando que isso
não é exatamente correto. E as e os dois
comparsas, os dois colegas que tão com
Efésito no momento do do da punição de
pregar o homem no cáaso, eh, são força,
via e kratos, né? É força e violência. É
força e violência. Então assim, a
expressão do texto é: “A força e a
violência estão se impondo contra esse
personagem que é um salvador da
humanidade.” Então não parece ser um
texto muito elogioso. Isso é inclusive
um dos dos motivos que leva as pessoas a
dizerem: “Ó, esse texto de não parece
ser de porque é é muito devoto e etc.”
Bom, sendo ou não sendo, porque a gente
também não sabe a conclusão, porque
poderia depois tendo no na nos outros
textos da trilogia mudar esse aspecto,
não sei. Mas sendo ou não sendo, o fato
é que já tem uma, nesse texto já aparece
uma transição de que talvez os Zeus não
seja tão legal assim, né? Ou seja, a a
mensagem da violência da da do
justiçamento feito pela violência não
parece tão belo nesse texto, né? E a
mesma coisa que eh eh o o o personagem
de Protágoras, ele vai discutir com uma
mulher que tá vagando pelo mundo. Ela tá
vagando pelo mundo, fugindo de uma
abelha transformada num bicho, fugindo
de uma abelha que apica o tempo todo. E
ela para ali naquela situação lamuriosa,
chorosa, também por causa de Zeus.
também por causa de Zeus, porque Zeus
teve relação com ela. Era ficou chateada
com a moça que teve relação com Era
porque Zeus era que fazia isso e ela tá
agora sofrendo por causa de Zeus e de
era. Então, a a parece que o tema da
injustiça tá muito presente no no
Prometeu acorrentado. Bom, essas são
esses são os parâmetros que a gente tem
sobre a figura de ã Prometeu. Como ele
aparece em Protágoras? A ressignificação
vai para outro nível. Agora, a o
parâmetro é o mesmo. O parâmetro é da
criação da humanidade e da ajuda da
humanidade. Só que Protágoras faz uma
coisa muito parecida com o que Platão
faz, que é para ser feito a respeito do
ah da função dos deuses.
Platão diz nas leis que ah o que eu tô
fazendo é a tragédia das tragédias. Na
república ele expulsa a tragédia da
cidade, mas ele expulsa a tragédia e nas
leis ele diz eu, né, se tiver conexão
entre uma coisa e outra, eu expulsei a
tragédia. Por quê? Porque tá na minha
vez de fazer a tragédia. Tá na minha vez
de ensinar a população como é que se age
coletivamente. É essa leitura que eu
faço. Ele não expulsa a tragédia porque
ele é contra a arte. É porque ele vai
fazer a arte que vai educar a população.
Então é uma substituição. Se antes você
tinha os poetas e e na época de Platão
isso existe, né? Você sabe com certeza a
respeito disso, que tem os os eh os
decoradores de Homero que vão cantando
omerizando por aí e ensinando para as
pessoas. E você tem que fazer assim
porque o Homero falou porque então
assim, então existe esse componente do
do dos homeríadas, né, que eles vão ah
eles são eles eles influenciam na
política. E se os omeriíadas
influenciavam na política e talvez eles
estejam ah perdendo poder a a ponto de
Platão poder representá-los como
ridículos demais quando tento conversar
com socras, tem um outro grupo que tá
tentando substituir que são sofistas.
Então, talvez a a a o desenho seja,
olha, tem muita gente tentando
influenciar na política, os homeríadas,
os sofistas, mas vocês não entenderam
que os que têm que influenciar mesmo
somos nós, os filósofos, né, para
construir a grande narrativa coletiva
que vai construir uma sociabilidade
melhor. Me parece que a mensagem vai
mais ou menos por aí. Ela indo mais ou
menos por aí, eu chamo a atenção de que
o protágono está muito mais para cá dos
filósofos do que para lá dos eh dos
cínicos como o eh cínico, a van ela, né,
antes da palavra existir do dos caras
que são sofistas, que não acreditam em
nada e dizem assim: “Olha, você tem que
convencer os outros para cada um ser
coach, de ser coach, de ser coach, de
ser coach, para melhores pessoas
chegarem lá primeiro.” Parece que
Protagonas não desenha isso. Por que eu
digo isso? No livro dois da República,
reclamando dos poetas Exildo e Homero,
ã, Sócrates diz: “Sabe qual o problema
desses caras? Eles desenham os deuses
fazendo coisas ruins. Isso tá
terminantemente errado. Porque se você
coloca os deuses, que são obviamente
paradigmas comportamentais,
fazendo o mal, você não quer que a
população faça o mal também? É óbvio que
ela vai fazer o mal. E aí ele faz
referências explícitas a esses dois
autores, Homero e Exildo, e faz
referência a trechos, inclusive, né?
Então, na na
teogonia,
o Urano, o céu, né, ele é destronado por
Cronos e Cronos é destronado por Zeus,
todos com violência. Como é que você
coloca um cara para fazer violência
contra o seu próprio pai, cometer
violência contra o seu próprio pai? E
depois você fica surpreso que a
humanidade é doida, né? Então a gente
não pode ensinar esse tipo de coisa a
respeito dos deuses, que obviamente é
falso. E aí ele justifica do ponto de
vista conceitual. Os deus são bons. Se
os deus são bons, eles não podem fazer
maldade. Então o que eu tô dizendo é do
ponto de vista conceitual. Os deus não
podem fazer essas coisas, senão eles não
são bons. A não ser que você assuma a
premissa de que eles não são bons. Se
eles fazem tal, se tal. Aí ele constrói
isso no livro dois da República. Pois
bem, é exatamente o que acontece na no
mito da do nascimento da sociedade, que
é contado por protágoras. Nesse mito,
Deus nunca faz o mal. Seja Zeus, seja
protágoras. Ou seja perotágoras, não,
perdão. Seja Zeus, seja Prometeu. Zeu.
Então, agora sim, né, dando essa
introdução toda, o que que conta o mito?
O mito conta assim e primeiro ele
pergunta inclusive: “Vocês preferem que
eu contei que dá para ensinar excelência
por um mito ou por um logos?” Aí o
pessoal faz do jeito que você quiser,
você é o bonzão mesmo. Ele: “Tá bom,
então vou contar para um mito que eu
acho que é mais legal”. Aí ele começa a
contar para um mito. E aí ele conta o
mito. Mito é o seguinte: no início da
humanidade, no início da existência,
foi concebido que quem faria a a
humanidade seria Prometeu e Epimeteu.
Eles fariam não só a humanidade como
todos os seres vivos.
E, portanto, cada um foi distribuindo
um uma um atributo para cada animal, de
modo que os animais tivessem uma
perfeita coalizão com o universo, né?
uma perfeita estruturação em que se o
animal é fraco, ele tem que fazer muita
cria, ele tem que procriar demais,
porque vai morrer muito, mas aí vai ter
muito. Se o animal eh tem que pisar no
chão, ele vai ter uma crosta mais grossa
no na pata para poder não se ferir com
qualquer coisa e e machucar a a pata
simplesmente. Mas aí tem o frio, a
natureza, etc. e tal. Você tem que ter
penugem ou pelos. Então, foram sendo
distribuídas características. Esse voa,
esse é forte, esse é esse é rápido, né?
Para que tenha uma harmonia na estrutura
do universo.
Só que isso foi dado para Epimeteu e
Prometeu. Epimeteu que significa aquele
que tá com a visão turva, atrasada, né?
O que vê depois, uma visão lenta,
enquanto prometer o que vê adiante, né?
Ele não entrega característica nenhuma.
Ele ele ele ele foi tirando a sacola, as
características para colocar em outros
animais e acabou da cola. Então, em
nenhum momento o ser humano faz o o o a
divindade faz o mal intencional.
O mal que acontece paraa humanidade foi
um esquecimento,
foi um erro, foi uma amaria, não foi uma
coisa intencional como acontece em
Exildo e eh
em Exildo e Homero, onde eles fazem: “E
este Deus raivoso, com ódio, tacou o
trovão e causou 18.000 mortes ou eh ele
próprio atacou seu próprio, não tem não
tem maldade, não tem intenção, vontade
de causar prejuízo. É isso que tá
colocado. A divindade não tem intenção
de causar prejuízo. Se teve algum
problema pra humanidade, foi resultado
de um erro.
Esse erro acontece e o humano fica
pelado, fica fica igual a gente é. a
gente é mais aparentemente quando a
gente vê pros outros animais, sobretudo
se você tá falando de seres humanos
citadinos que vivem à base de trabalho
escravo, né, que tem pessoas trabalhando
para ela, você enxerga os seres humanos
são muito frágeis em comparação eh a a
cachorros, em comparação a lobos, em
comparação a cobras. Você vê que a
humanidade é muito frágil para
sobreviver na natureza. E aí, portanto,
se ela é muito frágil, o que que a gente
tem que fazer? Que que a gente tem que
fazer?
eh, prometeu, percebendo a situação, ele
pega a capacidade do fogo que representa
o desenvolvimento da tecnologia.
Desenvolvendo a tecnologia,
finalmente o ser humano pode fazer uma
camisa, né, um para para se cobrir do
frio, pode fazer um negócio para evitar
que a chuva caia na na no coisa. Então,
com o fogo, o fogo é um representativo
da dessa capacidade de desenvolvimento
tecnológico.
Mas o que acontece? Feras muito
poderosas, elas viam e destruíam a
humanidade. Mesmo assim, ela tava
destinada ao desaparecimento.
Toda vez que a humanidade começava a se
reunir para lutar contra animais
poderosos ou para fazer grandes caçadas
de mamute, eles tinham um problema.
Faltava outra coisa que a humanidade não
tinha. a capacidade de não
injustiçar-se.
Quando eles, como eles não tinham pudor
e nem justiça, eles se juntavam e toda
vez que eles se juntavam, eles se
desagregavam rapidamente, porque ninguém
queria ficar junto de um filha da [ __ ]
Ao desagregarse, ao desagregarem-se,
eles não conseguiam ter a capacidade de
se estruturar em sociedade. E aí Zeus
vai dar o último presente. Ele indica
que Hermes leve aos seres humanos pudor
e justiça. E aí os seres humanos
conseguem se agregar e sobreviver. Aí se
você perceber, eliminou aquela tensão
que tinha em Esquiu. Em Esqu é
claramente Zeus contra Prometeu. Isso
não tá em questão. Protágoras não coloca
os deuses para causarem mal pra
humanidade. E quando causa, que é o caso
de de Epimeteu, é um acidente. Ele não
fez por mal, percebe? Ele não fez porque
quis causar o mal. Então ele tá essa
narrativa que, que é isso que eu chamo
atenção na minha tese, muito antes de
ser antiplatônica, ela tá muito mais
próxima daquele projeto do livro dois da
República, que é não diga que os deuses
fazem mal intencionalmente do que
Heródoto ou perdão, do que Homero e
Esildo. Então, me parece que o o
Protágoras está sendo colocado na
descrição desse poema como uma ponte
entre uma coisa e outra, entre o projeto
platônico de criar a imagem ou a a
mitologia ou o discurso para criança,
como como se diz no livro dois, ah, como
uma coisa que sempre enfatize a
importância do do da ação boa. Isso me
parece muito conectado com o projeto ah
de exposição do ah do Protágoras no
diálogo homônimo. E nesse diálogo,
portanto, né, concluindo só para dizer o
significado da aretê. Então aí quando
ele diz, olha, você aí é aprendendo o
pudor, a a justiça e aí ele entende que
tem que ser eh corajoso e não sei o quê,
não sei o quê, não sei o quê. E e
pronto. E é por isso que a gente tem que
ter excelência humana. Ele vai dizer o
seguinte: “Olha, eh, a gente tem que ter
excelência porque no fundo, porque o
argumento de Sócrates era: “Mas todos os
atenienses chamam todo mundo”. Como é
que todos os atenienses chamam todo
mundo? Aí o o Protágos tá dizendo assim:
“Sim, chamou muito todo mundo”. E tá
certo os atenienses, porque no início da
sociedade humana, no início todos
aprenderam justiça, porque Hermes deu a
justiça para todos os seres humanos.
Enquanto as técnicas são
individualizadas, a técnica da justiça
ensinável, sim, ela foi aprendida por
todos na origem, todos da origem tinham.
E, portanto, eles têm que transmitir a
técnica, todos eles têm que transmitir a
técnica um pro outro pelas gerações. E é
por isso que você aprende desde a sua
escolinha. Olha, você não pode xingar,
meu filho. Você não pode bater no
coleguinha, você não pode levar o coisa
do coleguinha. Então, eh eh a a
mitologia serve para explicar que, na
verdade, na sociedade ateniense ela tá
certa deixar participar todo cidadão
homem adulto, porque todo cidadão homem
adulto, ah, que participou do processo
de educação ateniense, aprendeu a a a eh
modos de bem relacionar-se em
comunidade, porque se não existisse
isso, aí é uma condição sinequanon. Se
veja, se não existisse no início isso e
e o mito é porque Deus Deus deu, mas se
não existisse a humanidade não
conseguiria se juntar para de conversa.
Então no início era necessário que essa
condição desse tipo de comportamento
fosse mais ah generalizado do que
pessoas que sabem fazer barco, pessoas
que sabem fazer casa, porque se não
fosse generalizado isso, nem sequer as
pessoas se juntariam. Então, a a o
discurso é é condite ou sinequanão paraa
existência de sociedade. Então, desde
sempre a sociedade tá se ensinando,
geração após geração, ah, por que a
gente deve ser cuidadoso uns com os
outros? Porque se não fosse assim,
sequer a humanidade existiria em
comunidade. Então, é por isso que todos
têm o direito de participar. A, o
argumento é esse. Mas como ele aí ele
fala isso do jeito que eu falei, assim,
mais ou menos dessa maneira jogada, aí o
o Sócrates diz: “Não, pera aí, pera aí,
pera aí, pera aí, pera aí. Achei legal
essa tua história. Mas veja aí, tá
falando de excelência política. Do nada
você fala de justiça, aí do nada você
fala de pudor, aí do nada você fala de
de outra. Pera aí. Então me explica.
Tudo isso é uma forma de justiça, são
uma forma de excelência, são excelências
separadas. O que que você quer dizer? Aí
vai aí o o o buraco vai afunilando, né?
Aí o buraco vai afunilando durante o
discurso. Então o Protágoras defende.
Olha, é uma questão de que há uma
justiça só e ela é dividida em partes.
Aí protágas aí aí só pergunta partes.
Como assim? Partes tipo ouro. Tem vários
ouros no planeta Terra todo que eles são
todos ouro. Todos eles compõem o ouro.
Só que se você olhar para todos eles,
eles são todos iguais. Todos eles têm
aquela matéria ouro que a gente usa para
identificar todos como parte de uma
coisa só. ser ouro, né? Você tá dizendo
partes dessa forma ou você tá dizendo
partes tipo o olho é uma parte do rosto
que tem o olho é a parte do rosto, mas
nariz é a parte do rosto. Não é porque
eles são partes que eles são iguais.
Essa é a ideia. Eu eu dizer aqui que eu
tenho um pedaço de ouro e esse peda de
ouro, eles são iguais. Em essência eles
são a mesma coisa. Eles só estão
separados, mas são a mesma. Você tá
querendo dizer que são partes iguais e
que só se expressam em lugares
diferentes ou você tá querendo dizer que
são coisas diferentes que compõem uma
unidade? Aí Protagos vai dizer: “Não,
são coisas diferentes que compõem a
humanidade.” Aí é que o Sócrates vai
começar a tentar interrogá-lo até o
ponto de de mostrar que o ponto de
Protágonas não tá claro ainda. Então ele
vai admitir todas as a as as partes da
excelência que o Protágoras vai dar
nesse diálogo. Todas elas todas estão na
república. Por isso que eu digo que é
uma continuidade. São todas as partes,
todas, todas, todas. A discussão é com a
justiça, com a temperança. São todas que
estão na república. Por isso que eu digo
com a continuidade, a temperança, a
coragem e a sabedoria são todas. Então,
me parece que é como se o o o Protágono
estivesse conversando com Sócrates e
eles estivessem mapeando quais são as
partes da excelência política. E no
final das contas, eh, o que o que o
Sócrates não quer aceitar é que é
possível você ser
meio excelente. Tipo assim, se se
eh sabedoria é excelência
e temperança é excelência
e tudo é parte de uma coisa só, não tem
como você dizer que, ah, eu sou sábio,
mas não sou temperante. Você não pode
dizer que você é excelente. Aí o ponto
de Sócrates é tentar dar voltas no
Protágoras e impedi-lo de dizer que é
possível, por exemplo, você dizer: “Eu
sou sábio, eu sou um excelente ser
humano, eu sou muito sábio, eu conheço
muito, mas na hora que precisa comer uma
picanha ou preciso transar com a
vizinha, eu vou lá e faço que eu não
consigo me segurar”. Não, as duas coisas
separadas não dá. Ou você é sábio e
excelente, ou você não é as duas coisas.
O projeto do Sócrates é esse, mostrar
que essas coisas não podem ser separadas
pro cara não meter essa de dizer: “Olha,
eu sou sábio, eu sou temperante, mas não
sou corajoso”. Não, não. Ou você é
sábio, temperante e corajoso e você,
portanto, é excelente, ou você não é
nenhuma coisa. Esse é o ponto da da na
minha leitura que tá tentando construir
Sócrates, embora ele não fale isso
ainda. E ele vai conseguir mostrar que o
o Protágoras falha quando ele admite
exatamente na última passagem que ele
admite exatamente que dá para ser
corajoso. Essa é a parte da excelência
que dá para ser separado. Aí ele fala:
“Dá para ser corajoso sem ser sábio e dá
para ser corajoso sem ser temperante. Aí
aí o Sócrates pega no pé. Aí ele pega no
pé e leva até o final. Ele fala e ele
convence o Protégagoras. Aí ele mostra
que o Protágoras erra nessa questão, né?
Ele convence, não sei se tá certo, se tá
errado, mas no diálogo a representação é
essa. Aí o o protagonas fala: “Puta, aí
tu me pegou de fato, de fato eu tô
errado”. Que aí é aquela questão, olha
só, se um cara é coraje diz: “Olha, as
pessoas são muito corajosas, elas se
jogam do do precipício e
na na praia arriscando suas vidas. Aí
vai ter uma discussão sobre isso, não é
coragem. Isso é ser temerário. Isso é
ser em bom português a gente dizia, lá
vai o doidão. Ninguém olha pro cara que
corre riscos à toa e fala que isso é
coragem. A gente fala: “Isso é o doidão,
é o suicida, é o maluco e etc e tal”.
Então me parece que isso tudo tá sendo
plantado e no lax é que isso vai começar
a ser resolvido. No lax isso vai começar
a ser resolvido, onde o diálogo é sobre
a coragem. volta exatamente esse tema,
exatamente com exemplos parecidos com
esse, dizer que coragem não é exatamente
a mesma coisa de que, ah, eu vou pros
riscos, tem a coragem sábia, aí você
começa a perceber, não é, não é só
correr risco que é ser corajoso, é
correr risco sabiamente. Por isso que as
coisas estão conectadas. Por isso que as
coisas estão conectadas. E o e a falha
do do Protágonas foi ter dito exatamente
que a coragem, não, coragem, eu sou
corajoso, eu conheço um monte de cara
que enfrenta um leão, é um burro do
caramba. Não, não, não, não. Se enfrenta
um leão de graça, correndo risco de
graça, isso não é coragem, isso é
maluquícia, né? E aí, eh, eh, e isso tem
um aspecto político muito importante pra
história de Atenas, porque Atenas perdeu
a guerra do Peloponeso
porque foi enfrentar
a Siracuza a 500 milhões de zilhões de
de metros de distância.
Ah, e foi isso que derrubou Atenas, foi
achar, a gente é muito macho, a gente
vai lá e extermina todo mundo que a
gente pode. Essa confiança sem sabedoria
foi que matou até aí você não pode
elogiar, entendeu? Não, mas a gente é
macho, a gente vai lá e faz mesmo. Faz,
vai lá e faz. Então, aí foi lá e fez e
perdeu a guerra do Pelopones por causa
disso, como é bem narrado em tuides e
emofonte. Então, a gente tem consciência
de que Platão presenciou a queda de
Atenas por causa dessa circunstância
específica, inclusive eu diria que é
especificamente isso que tá pairando a
cabeça do cara, o o papel de Acibíads na
em jogar Atenas para enfrentamento,
porque olha como eu sou macho, eu vou lá
e luto e etc e tal. Não, isso não é
coraz, isso é maluquice. Eu acho que e
esse tema
tá no Protágoras, atravessa pro Lax e
ele é concluído na república. Eu acho
que a conclusão dessa temática acontece
na república. Eu acho que é assim que se
trabalha o tema da excelência em linhas
gerais. Eh, é assim que deve ser
interpretado o tema da da excelência em
linhas gerais na obra platônica,
tentando conectar o que ele tá tentando
ensinar. E eu acho que o que ele tá
tentando ensinar é isso, que não tem
como você ter excelências isoladas. Em
outros diálogos ditos anteriores, ele
trata das excelências isoladas, mas
quando o começa a pergunta pela
excelência em si, que acontece em
Protágonas e no Meno, você vê ele
tentando dizer quais são as coisas que
estão conectadas e que não podem se
desconectar. Eu acho que o pano de fundo
histórico é exatamente precisamente a
queda de Atenas por causa da guerra em
Siracusa.
Bem curioso porque é como se você
tivesse duas concepções de justiça, uma
como fator de
outra como algo individual, algo que
você possui que não é relacional. E de
certa forma o Platão vai usando a mão
nessa não relacional
a ponto de jogar para um plano
metafísico.
Uhum. Uhum.
E e aí tá bom, eu consegui o não
relacional, mas aí você não vai nesse
plano de realidade é tudo relacional,
né? Então é como se o preço que ele
pagou foi desconectar a a o debate para
outra outra instanciação para poder se
justificar, né? Eh,
eu tô interpretando assim e é como se
você puxasse de volta. Vamos ficar com
protágoras.
Então, mas é porque eu tenho uma
resposta a isso. Eu acredito que Platão
ele arrisca a ideia do não relacional,
mas a ideia do não relacional, ela é
jogada fora num diálogo que é entendido
de face madura, que é o sofista. O
diálogo sofista, ele apresenta a duas
versões de pessoas. as pessoas que
entendem que tudo é matéria e que tudo,
portanto, está em relação. E as pessoas
que são os amigos das ideias, é assim
que ele cham no sofista, os amigos das
ideias, eles acreditam que as coisas não
são relacionais. A crítica do sofista é
a crítica aos amigos das ideias que
acham que as coisas podem ser não
relacionais. Eu acho que e assim e eu
tenho uma certa segurança com isso, mas
esse seria meu trabalho de de
pós-doutorado se eu fosse continuar
estudando, porque eu fui nesses diálogos
de fase hã média e e inicial e depois eu
enfrentar os os diálogos de fase madura,
que tratam da figura de protágonos, que
é exatamente o teteto e o sofista, que
embora não apareça a personagem e e
aliás a personagem que aparece é o
Parmeneds e ele diz explicitamente, ele
diz explicitamente, a gente tem que
fazer o Armenidicídio.
Então, parar com essa papo de que tem um
um ser eterno imutável, intocável,
porque se tiver um ser eterno mutável,
intocável, não tem como ter
conhecimento. Tanto quanto se a gente
cair no fluxismo era crlítico do teto. O
o fluxismo era crlítico do teto, ele ele
inibe o conhecimento. Tudo estaria em
movimento. Você nunca conseguiria nem
fixar uma ideia na tua cabeça, porque
tudo seria fluxo eterno. Nãoia, não
haveria nem que se falar em percepção,
em, em nomenclatura de percepção. Isso
é, você não conseguiria construir se
tudo tivesse em fluxo permanente e e não
tivesse nenhuma capacidade de apreensão
e fixidez.
E no no sofista ele diz exatamente,
olha, não tem como as coisas serem
isoladas,
intangíveis, intocáveis, porque se fosse
assim, não, a gente não conseguiria
chegar também com entendimento nessa
coisa que qual qual seria a forma de
relação? E aí na na ele apresenta um um
cinco gêneros necessários em relação uns
aos outros, que daria base para
umaologia platônica. Então, ah, que que
faz a relação entre o ser e o outro, o
ser, o ser, o ser para de ser aquilo não
existente e ele vira sinônimo de ser
outro. E aí isso se mistura com a ideia
de movimento e de eh de fixação. E você
consegue construir através de cinco
gêneros um uma base ontológica sobre a
qual você er uma ontologia platônica.
Então eu acho que e aí a questão que eu
coloco é o seguinte: pensa-se que Platão
evoluiu e nesse sentido agora ele
abandona a teoria das ideias, formas
imutáveis em si e por si e agora ele
aponta para uma ontologia relacional. A
minha tese é que não tava tão assim não,
desde sempre. Quando ele fala, aí a
minha tese é o seguinte, na República
fica claro, a justiça, a única palavra
que Platão coloca na boca de Sócrates
para ele dizer resolvo é a justiça que é
na república. E o que é justiça?
justiça. Exatamente. As outras três,
eh, a, a, as outras três a aretai, né?
As outras três
excelências humanas organizadas e cada
uma no seu lugar. Como é que você vai
dizer que a definição de justiça é as
outras três organizadas e cada um em seu
lugar? Isso não é uma relação.
Então o que eu tô dizendo é que na
própria república, se você lê a
República sozinha, que foi o primeiro
livro de Platão que eu li na vida, eu
nunca imaginei, porque eu nunca eu eu
não eu não comecei por Platão lendo
manuais que me diziam me diriam que
Platão acha que as formas são isoladas e
etc e tal. E para mim não fazia sentido
quando eu começava a ler esses manuais,
porque na República, que é exatamente o
primeiro livro que eu li, que ele falava
o livro inteiro sobre justiça, quando
ele vai definir justiça, ele define de
maneira relacional. Como é que Platão é
o cara que fala das coisas isoladas,
eternas, imutáveis que não se tocam e
que não criam relações para serem
inteligíveis? Se nesse texto que ele
fala de justiça, que foi o primeiro que
eu li, o texto todo falando de justiça,
ele fala: “Justiça é exatamente quando
você tem a estrutura da relação entre
si”. E não só eh eh é tão relacional,
tão relacionado em fases. Ou seja, a
justiça é é a relação entre as três
outras partes da excelência, quando elas
estão bem organizadas, no topo
conhecimento, dirigindo o ímpeto para
coordenar os desejos, né? É uma
organização por si só. Isso vai fazer
que se você tiver essas coisas, você é
indivíduo, eu não vou querer eh pegar o
seu almoço, porque eu consigo usar a
razão para controlar o ímpeto, para
falar: “Calma, barriga e eu não vou
pegar o seu almoço.” E isso condiciona a
existência em sociedade coletiva, porque
se eu fizer isso, você fizer isso, o
colega fizer isso, todo mundo
relacionalmente vai ficar numa situação
melhor. Então, para mim, eu sempre
enxerguei com clareza da minha
interpretação pessoal de que a República
tá falando de relações
de tópicos que são identificáveis como
formas. Ainda que ele não fale que essas
aretis são formas, ainda que ele não
fale que essas aretais são formas, ele
tá falando de conceitos. O conceito de
justiça relacionado aos outros seis
conceitos que todos juntos formam a
excelência política. E ele apresenta,
para você ter uma cidade de excelência,
tem que estar os três. Não tem como você
ter um só. Se você tiver um e não tiver
outro, você não tem excelência. A
excelência só se manifesta quando tem os
três juntos. E isso me parece conectado
a à interpretação que já aí sim tá
falando de formas e ideias de maneira
muito clara do Fedon, que ele diz assim:
“Olha, se tem gelo, se tem gelo, não tem
calor. Se tiver acontecendo calor no
local, o gelo não tá lá. Tem coisa que,
ou seja, se predicar calor nessa região,
não predica gelo.
É assim, por algum motivo que eu não sei
explicar qual é essa. Quando uma coisa
tá, a outra não tá. Quando tem três tem
ímpar, quando tem dois tem par.
Se se você tem dois se você tem que
dedos na quantidade de dois, a
predicação par vem junto. Quando você
tem três, a predicação de imparidade vem
junto. Quando você tem calor, some a
predicação de gelo, de congelamento. Se
você tem frio, aí a água pode estar
congelada. Então, tem predicações que
parecem associadas. Só tem uma coisa se
tiver a outra. Eu acho que é o caso que
ele tá querendo dizer pra excelência.
Então, se você pensar do jeito que eu tô
falando, a República seria desdobramento
de discussão do Protágoras. Se
Protágoras estava dizendo que as coisas
são relacionadas, ele fala: “Não, a
coragem não”. E Platão põe no rabo dele
quando ele diz que a coragem não
república ele tá querendo dizer isso. Só
tem excelência política se for coragem
somada a temperança, somada a sabedoria.
Se não for os três somados e organizados
do jeito certo, não tem a excelência. Se
você disser assim: “Ah, mas esse cara é
muito corajoso, mas ele não tem
sabedoria”. Na verdade, você tá falando
que ele é muito temerário, não que ele é
corajoso. Se você tá dizendo assim: “Ah,
mas esse homem é muito temperante, mas
ele não é sábio. Temperante é uma [ __ ]
Esse cara tá se causando dano, ele: “Ah,
eu não como nada, eu sou temperante,
não. Você é anoréxico, você não é
temperante.” Éí, é essa a jogada. Quer
dizer, o conceito só se torn só se torna
excelência se as três coisas estiverem
no mesmo objeto no mesmo momento. Se não
tiver os três no mesmo objeto no mesmo
momento e na mesma ordem, na ordem
correta, aí você não pode falar em
excelência, que a excelência soma dos
três organizado nessa ordem que é o que
é justo. E aí o conceito de justiça fica
bastante interessante, que ele fica
ambíguo, ele significa a mesma coisa que
todo mundo sempre usou. Quer dizer, eu
sou justo quando eu faço o quê? quando
eu não persigo meus interesses acima de
todas as outras coisas. Mas não
perseguir o seu interesse acima de
outras coisas significa exatamente você
ser consciente de que você tem que usar
a violência sua para controlar a si
mesmo. Isso implica na prática em ser
aquela pessoa que não vai causar mal aos
outros sem precisar, que não vai
violentar o interesse dos outros sem
precisar, etc, etc.
Até por isso que o Platão fala, eu vou
explicar na cidade, não no indivíduo,
porque eu não quero confundir as coisas.
Existe uma confusão entre essas duas
perspectivas,
é asções.
Talvez exatamente, talvez os sofistas,
os sofistas sofistas, agora a gente tem
os sofistas filósofos,
os sofistas sofistas ficam presos no
indivíduo, né, isolado de alguma forma.
A gente pode até dizer, e eu acho que e
se a gente for levar em conta isso, é
como se essa justiça como fator de
suabilidade fosse esquecida e aí você
abre espaço pro relativismo extremo.
Uhum. Uhum.
E aí aí sim até o em si mesmo por si
mesmo pode ser postulado, mas ele é
postulado sem a base do do normativo,
né? Aí entra no relativismo que aí a
gente pode falar assim que antecipa
muitas dos debates contemporâneos, né?
Porque uma coisa é você falar que a
coisa é criada socialmente,
uma coisa é isso, outra coisa é você
falar que hã não existe padrão nenhum,
né, que vale tudo, né? Eu acho que que é
bem curioso assim
dentro dos debates do discurso público
depois da pandemia a gente teve muito um
discurso caiu muito num
na no 880. Ou você é um realista
absoluto ou você é relativista.
E aí essa ideia de que existe uma
normatividade pública que é construída,
que os seres humanos conversam e criam
normas, o ou eh não tem Deus na
história,
parece que não faz ou você tá um um
realista, vamos dizer assim, antiquado
ou você é relativista, né?
Uhum. Eu acho que faz sentido esse tipo
de de construção. Eu eu queria que você
fizesse a conexão. Então, eu acho que a
gente já tem um período de conversa.
Tenho que fazer três perguntas para
vocês ainda, que eu faço para todos os
convidados. Como você conecta o debate
do sofista com os debates contemporâneos
sobre o pós-modernismo, sobre a questão
da verdade?
Você fizer essa conexão com a gente,
certo? Eh, o que me move a no projeto do
doutorado já era isso. Eu fui para
estudar
até na no projeto de dissertação do
mestrado já era isso. Eu fui primeiro
estudar a república número um para
defender trazí. Eu eu fui ler o texto um
da República e me parecia que aquele
texto era bastante funcional na ideia de
apresentar uma espécie de ah
realismo não ontológico, como você
dizia, mas realismo político, no sentido
de que eh veja só, o mundo é difícil.
Se você olhar pra política é assim
mesmo. Alexandre Grande é Alexandre
Grande porque ele foi lá e foi, né? A
mesma coisa que Donald Trump. Donald
Trump é presidente dos Estados Unidos
que ele foi lá e foi, né? E aí é isso.
Você vai e diz: “Eu faço, aconteço, eu
sou bom mesmo. Quem não gostou chora,
né? E é isso, política é isso. O mais
forte sobrevive, o fraco morre”. Me
parecia que esse elemento parecia fazer
sentido. Quando eu li com calma, quando
eu chequei o grego e etc e tal, eu
percebi que não era muito bem por aí e
que Platão tinha uma resposta boa para
trazímaco, que era o seguinte: “Olha,
mesmo que isso seja verdadeiro, ou seja,
partindo dessa premissa, uma sociedade
onde as pessoas vivem assim é pior,
inclusive para aquele cara que quer ser
o grande, que quer fazer, que quer
acontecer e etc e tal.” A gente não
deixa muita dúvida isso agora,
exatamente por causa da pandemia, por
causa o que me levou a a essa discussão
foi exatamente que em Oxford,
né, a é o Ox é é o dicionário de Oxford
que é publicado todo ano. Aí tem uma
palavra chave que é tida e tal, a
palavra que era a grande utilizada da
época de, eu não lembro o ano, você vai
me desculpar, mas era a pós verdade, né?
Então o o dicionário de Oxfor naquele
ano que eu não lembro qual é agora, ele
disse: “Essa é a palavra do ano, é
pósverdade”. Eu falei: “Porra, então
temos um tema filosófico. Se a faculdade
de tá dizendo que isso aqui é o que tá
sendo debatido, então temos um tema”. E
e eu tava preocupado com essa tese,
exatamente que eu tava me referindo de
que se nós não temos eh se tudo é não
mais que disputa de poder, né? Se tudo
se se resume a a uma expressão nitiniana
de vontade de potência e nada mais pode
ser feito, você meio que tá
justificando. Você não tá só dizendo que
as coisas são assim, você tá dizendo que
elas são assim, só podem ser assim. E
quem tentar trabalhar para evitar que
vai continuar sendo assim, só vai piorar
as coisas, porque ou só vai ficar dando
uma desculpa para o seu jeito de
continuar fazendo a mesma coisa. Se você
pensa que isso é uma estrutura
ontológica. Então, todo mundo faz assim
porque tem que ser assim, não tem outro
jeito, a não ser assim. E qualquer um
que tente fazer o contrário vai est
forçando a barra, inventando uma mentira
para continuar fazendo assim. Essa é
quando você trata isso como ontologia,
esse é o resultado necessário. Isso me
incomodava. Ah, e o Platão tem uma
resposta boa para que é a lá na
República dizendo: “Olha, veja bem, eh,
imagine isso e vamos fazer uma metáfora.
Você tá falando que nas cidades são
assim: imagine isso entre barcos.
Imagine isso entre barcos de piratas”.
Você pega dois barcos de piratas. O, a
função do pirata é matar os outros e
levar o que eles têm. Tá tudo certo.
Vamos imaginar que é isso mesmo. A
humanidade serve para isso. Agora, quem
vai matar melhor e levar mais tesouro
dos outros? os piratas que se unem para
coletivamente fazer isso ou os piratas
que estão se matando uns aos outros
porque eles aplicam essa lógica de
maneira universal. Aí ele força trazima
com admitir, é realmente e os os
primeiros são melhores do que os
segundos. Então, se os primeiros são
melhores do que os segundos, não pode
ser ontológico. Tem um tem algum alguma
dimensão em que faz sentido até para
quem tá buscando seus próprios
interesses ah tratar bem e não
simplesmente pisar em cima dos outros.
Tem alguma lógica em tratar bem aqueles
que estão a em companhia de um projeto,
né? Então essa esse exemplo do barco do
pirata, eu acho que para mim foi uma
metáfora assim bem para criança, para eu
entender o problema da gente admitir que
política é e não pode deixar de ser só a
disputa pelo interesse próprio, né?
Porque se você junta no partido e você
entrou no partido para derrubar o líder
do partido, para você ser o líder do
partido, esse partido é disfuncional em
comparação ao partido que todo mundo
entende o seu lugar ao sol. Você não
precisa ser o melhor, você não precisa
ser o maior. Você pode estar ali como
auxiliar, né? E isso também é legal.
Cada um. Você não precisa estar todo
mundo tentando derrubar o de cima para
tentar ser o capitão. Se todo mundo
tentar derrubar o de cima para tentar
ser o capitão, esse partido é
disfuncional. Ele rachará em 5 segundos
e ele deixará de exercer aquela função
que essa é uma força para o objetivo
político de impor pela força aquilo que
a gente acredita em coletivo, né? Então,
tentar mostrar que a gente é forte em
quantidade para fazer maioria e fazer
valer aquilo que a gente acredita. Se
você faz isso a cada vírgula com todas
as pessoas que te cercam, você não
consegue nem juntar em partido. Então
você não consegue o objetivo de ser
forte. Então é disfuncional nesse
sentido. É isso que eu tô dizendo que a
metáfora do barco me explicou de maneira
muito clara. Então, se você constrói um
partido com objetivos políticos que vai
fazer aquele coletivo se dar bem, mas no
fundo você também tá querendo se dar bem
dentro do partido, você vai ser
disfuncional para aquele objetivo
primeiro que você tinha. Então, a a
minha primeira questão era essa,
discutir isso, eh, que tem que ter
alguma coisa para além. E aí no texto do
Protágoras, ele me parece que dá essa
ontologia, essa ontologia por vias de um
mito de que na verdade a compreensão de
que a gente não pode fazer só o que nos
interessa e pisar em cima dos outros o
tempo todo, isso é claramente
disfuncional, inclusive para aquele
projeto de vontade de potência. Mesmo
que você tenha uma uma percepção ética
nitiniana, você tem que entender que
para você efetivamente ser ótimo em
realizar o máximo daquilo que você está
destinado ou impulsionado internamente
para fazer, você tem que saber agregar.
E aí se você não souber agregar, como no
mito de Protágoras, você vai tentar ser
o forte e você vai se desfazer porque
você precisa da ação coletiva para ser
forte. Então, ah, foi esse o meu
primeiro movimento, ou seja, desde o
início ele era para falar de mundo
contemporâneo. E a gente consegue ver
isso com clareza, por exemplo, ah, em o
nazismo, que muito bebe bidnite, dessa
ideia de a gente se expressar de
verdade, daquele interior que a gente
tem, de manifestar o nosso ah o nosso
grupo, o nosso sentido, a nossa força
contra todas as outras que estão aí,
tentar fazer expansão, né? E, e, esse
impulso parece muito, né, forte,
poderoso, etc. e tal. Hitler não
sobreviveu aí, certo? Então, a a Itália
de Mussolini não sobreviveu aí. Ah, o
Trump, muito apesar dele ter esse
discurso inflamado, a força, eu faço, eu
aconteço,
os Estados Unidos está rachando em dois.
Aí o que eu tô dizendo é exatamente o
que Platão tinha avisado, certo? você
vem com esse ímpeto de não, eu, eu, a
gente, quem coloca comigo, os fracos tem
que tal, tal, tal, você racha a
comunidade que você tem, né? Então, a
expressão que me pareceu válida para ir
a investigar essas questões é isso. É é
é essa coisa que eu já tinha enxergado
lá no mestrado, mas no doutorado que eu
entrei em contato com o teto, que eu
achei interessante, que isso tem uma
perspectiva epistemológica para além de
política. No teto, eu nunca tinha
preparado para prestar atenção antes de
ler com vontade de fazer um trabalho
sério.
Eu percebi que tem política no TT. Eu
não tinha percebido, eu tinha passado ao
largo. Esse texto é um texto de
epistemologia. Passei ao largo assim,
passei corrido. E aí eu percebi que tem
um trecho do texto que ele fala
exatamente isso. Olha, se tudo é
relativo, como Pretágoras tá dizendo,
eh, o que é certo é certo para cada um,
na medida de cada um. O humano é a
medida dessas coisas. E, portanto, cada
comunidade, cada sociedade, cada cultura
e etc, etc e tal. Se isso é verdadeiro,
se essa perspectiva epistemológica
verdadeira, conclusão, a política não
pode ser nada mais do que dizer o que é
verdadeiro para aquele grupo para você
ser um grande feitor de coisas boas,
segundo a a ótica daquele grupo. Então,
se você tiver entre um grupo que
acredita que X é bom, você tem que ficar
reproduzindo que X é bom para você
melhor representar o grupo em X, para
você executar X, que é bom para aquele
grupo, né? Ah, qual é o problema disso?
do ponto de vista político vai dizer eh
Platão nessa discussão. O problema é o
seguinte, que se tudo é relativo e na
verdade a função da gente na política é
tentar ah convencer as pessoas de que
cada coisa é verdadeira ou não e não tem
um verdadeiro mesmo. Então a função do
político é tentar convencer a maioria de
que aquilo que ele acredita é melhor. E
essa palavra é muito importante, melhor,
desde que seja o melhor para ele. Então
a gente vai, a, o resultado é se o Trump
tiver dizendo, por exemplo, o resultado
seria paralelamente, se o Trump tiver
dizendo o que é melhor para ele e
convencendo a população de que o que é
melhor para ele é melhor para todo
mundo, é isso mesmo que ele tem que
fazer. E todo mundo politicamente
deveria fazer. É, é mais do que um, uma
sinalização de fato. A, a sinalização
sobre a epistemologia, a conclusão sobre
a epistemologia vira uma sinalização a
respeito da ética. Se tudo é relativo e
não a verdade, nada mais a fazer na
política do que tentar convencer de que
aquilo que é melhor para você é melhor
para todo mundo. E aí vira a eterna
briga de todos contra todos, que agudiza
aquilo que a gente conversava no início.
Ou seja, cada vez mais as pessoas vão
estar tentando construir visões
conscientes de que política não passa de
construir visões, que todos temos visões
a respeito do que é melhor e pior. E
cada um tem que de disputar por essas
visões, dizer o que tiver que ser dito,
de fazer o que tiver que ser feito e no
fundo estará todo mundo preocupando só e
única e exclusivamente o que é melhor
para você próprio. Seria a conclusão
disso. Acabaria o processo político. De
fato, a política se converteria numa
simples guerra. Só não haveria espaço
para tentar construir nada politicamente
no sentido moderno, que a gente fala no
sentido rabermasiano, né? Não haveria
espaço para buscar consenso. Seria a
radicalização seria sair do da da
seria sair da esfera do do ingênuo
rabermasiano e ir pro extremo oposto do
cinismo, dizer que olha existe maneira
da gente de fato convergir porque o que
o meu interesse é meu, o seu é seu e a
gente nunca vai conseguir construir um
meio de campo contra isso, em respeito a
disso. E aí não tem política mais, né?
Aí é mintas, [ __ ] faz o que for
possível, porque o outro do outro lado
tá tentando fazer a mesma coisa. Aí é o
pior dos cenários da teoria dos jogos,
né? Você você entra num combate ou numa
disputa ou numa negociação em que o
outro com certeza vai votar pela pela
pior posição. Se o outro com certeza vai
votar pela pior posição, então você
também tem que votar pela pior posição.
E aí há o esgaro do tecido social, né?
que eu acho que é o que tá acontecendo
no mundo.
O me parece que é como se você é como se
você colocasse o paredes fora e
colocasse essa ideia de que não, o
protágono tem idade para ser parte de
todo mundo aqui,
só que esse aqui a gente precisa matar.
É, é, eu acho no sentido de que eh vamos
pensar no Cal Schmith, amigo, inimigo,
filósofo sofista.
Uhum. Uhum. Se a gente ficar repetindo
amigo e inimigo, a gente vai desgarçar o
tecido social também.
Então, para você criar o filósofo, tem
que ter sofista amigo. De alguma forma
você tem que criar uma ponte,
né? Ah, ou talvez Orfeu no começo,
um a citação de Orfeu, como se fosse o
poeta que tem a força do encantamento
ainda de trazer as pessoas juntas,
né? como se você criasse essa conexão,
você não se aparta de tudo, senão você
joga fora. É o barco de Nor sem sem
madeira nenhuma, né?
Para fazer a o barco. Então, faz sentido
essa aproximação aí do sofistas
filósofos, amigos inimigos do Cmit.
Então, eh,
acho que sim. E acho que sim. E nesse
sentido é que a minha leitura tenta
apresentar que os sofistas foram lido
lidos no texto de Platão como incuráveis
a antitéticos à filosofia. E eu acho que
mesmo quando você tá lendo o Sofista em
que ele faz a distinção entre uma coisa
e outra, gente, é só ler o texto com
calma. É, o sofista é igualzinho
o o eh o o sofista é igualzinho o
filósofo com pequeniníssimas diferenças.
As diferenças são e eh você vai fazendo
a distinção, você precisa separar
exatamente o que eles parecem muito,
eles têm muito em comum, né? E eu acho
que é isso que do ponto de vista
estético eu diria, é necessário
recuperar, que o filósofo não é tão
diferente do ser humano. Ah, ele saiu da
caverna e etc.
Não, não é. É diferente. É diferente.
Você olha para Sócrates, você sabe que o
Sócrates ali da personagem platônica,
ele tá tentando ser desenhado como uma
pessoa excepcional, mas não é tão
diferente. Ele morre igual. Ele morre
igual. Ele ele eh na narração, por
exemplo, do Protágoras, eh, o o
Protágoras usa um argumento que Platão
deixa a ver que é tão bom que o o o
Sócrates sente como se ele tivesse dando
tomando um soco de pugilista. Ele narra
inclusive esteticamente aí eu senti as
coisas rodando e etc e tal. Depois
daquele argumento até aí veja, é tão
evidente isso que eu tô falando que ele
ele ele o Sócrates em primeira pessoa
ele narra. Eu usei um sofisma, eu olhei
tonto para todos os lados, chamei o
outro cara que não tinha nada a ver. Aí
perguntei: “E aí me responde o negócio
aí sobre a palavra?”
Aí o cara fica delirando sobre a palavra
e aí ele me deu tempo de me recuperar,
né, e tal. Então ele próprio narra, eu
ajo como sofícito. Tá escrito no texto,
não eu ajo como sofista, mas ele narra,
olha, eu estou perguntando essa coisa só
para ganhar tempo, para poder pensar a
respeito do assunto e etc e tal. Eh, ele
diz isso expressamente. Então, eu acho
que o texto deixa elementos para que o o
o filósofo não se entenda tão distante,
não tão especial, tão grandioso. E eu
acho que falha-se na filosofia
contemporânea, quando a filosofia
contemporânea tenta simplesmente e pegar
o o Platão estereotípico em que existe
os sábios que governam e os outros que
são idiotas que merecem ser governados,
que eu acho que isso é estereotípico,
mas você pega isso e fala assim: “Olha,
eu sou tão radical que eu vou inverter
isso e eu vou falar que legal mesmo é o
sofista”. E, portanto, o sofista nunca
fez nada de errado. Todos os sofistas
são maravilhosos. Eu acho que isso é um
erro grosseiro, infantil em muitos
sentidos, ã, porque é claro que você tem
que ler a contribuição eh da retórica e
etc e tal, mas isso também os filósofos
não deixaram de fazer. Não à toa que o o
Aristóteles tem um texto chama retórica,
né? Então eu eu acho que a a gente
observar mais tons de cinza do ponto de
vista estético paraa educação do
filósofo, ele sentir que tem diferença.
Ele nunca admitir que olha, eu sou
filósofo, eu eu leio há 15 anos do autor
tal, desculpa, eu sei mais do que você
sobre o autor tal, mas talvez eu não
sei, eu não saiba fazer um bom frango a
assado a milanesa. Não sei. Talvez eu
não saiba fazer um bom frango milanesa.
preciso de pessoas para negociar
aprendizagens múltuas, em que a pessoa
me ensine a fazer um frango à milanesa e
eu ensine passagens de Platão para ela
ou hã fale a respeito da política. Eh,
quer dizer, eu posso falar a respeito da
política conectando com a tradição
filosófica, mas de repente o jornalista
tem muito a me ensinar sobre o que tá
acontecendo no cotidiano. De repente tem
muito a me ensinar um um ah um
profissional do direito a respeito de ah
como determinadas eh violações são muito
claras, porque às vezes um jogador lá
que é formado em direito sabe muito mais
do que eu. Eu acho que porque eu sou
filósofo, eu posso julgar aqui a a
economia,
o direito, a a moral, posso julgar todo
mundo. E nada tem nada, ninguém tem nada
a contribuir comigo, porque afinal de
contas eu sou filósofo, eu vejo de muito
de cima. Então eu acho que assim é
reconhecer que o papel da filosofia é um
papel de engrandecimento em um aspecto
específico das capacidades humanas, mas
ela também, como eu disse na na
tentativa, no meu elogio da conexão, que
é minha tese de doutorado, que ela só
faz sentido em conexão a essas outras
capacidades, seja para você ter uma uma
um conhecimento plurissignificativo, né?
Por exemplo, agora eu eu eu encarno
mesmo que eu faço no meu texto, eu levo
a série, não é só um texto. Então, hoje
eu tô fazendo na UnBatrônica.
Por quê? Porque sim, porque a gente tem
que ampliar as nossas capacidades e na
medida que eu não ampliar e na medida
que eu não não poder dentro de um só
sujeito ah preservar essas qualidades
todas, nessa medida eu preciso me
conectar com outro que me complementa. E
eu digo, e isso tá no men. Ele diz
assim: “Quando eu tô procurando um local
com eh tipo assim, se eu vou para um
local e eu não sei chegar lá, eu vou com
opinião verdadeira, esse é o caminho
certo, mas eu não sei se é, mas eu vou,
eu vou só com opinião verdadeira dá na
mesma de que você vá pro caminho certo
com conhecimento. Então veja, eu não
preciso conhecer, eu posso perguntar
para você que sabe.
Se você, eu, ou seja, se você me disser,
olha, faz assim, assim, assado, que você
vai curar essa ferida. Por quê? Não sei,
mas se você souber pro grupo e e aí a
metáfora do indivíduo da cidade é
importante. Olha só, se tô eu e você e
você sabe me curar, eu vou e eu não sei
me curar, eu vou impedir que você me
cure. Não, você, a gente enquanto
coletivo, a gente sabe, ainda que eu não
saiba. Então, eu individualmente tô
dotado apenas de opinião verdadeira, mas
na prática equivale ao mesmo de ter
sabedoria se eu estiver em conjunto com
você. na prática, você vai me levar a
passar o remédio correto na ferida,
mesmo que eu não saiba porê, você sabe.
Então, se a gente a gente eh se a gente
levar o menos em consideração de que ter
opinião correta na prática na prática
equivale ao mesmo que ter conhecimento,
eu me abro para admitir que eu, enquanto
filósofo, pensador, eu tenho direito de
não saber. Eu nunca saberei tudo, mas em
conexão com outras pessoas que sabem, eu
consigo chegar num lugar melhor. E aí a
gente consegue eh trabalhar socialmente,
que é isso que eu acho que a gente tá
precisando, esse ceticismo, esse
cinismo, essa coisa de como é que a
gente vai acreditar nessas Isso, isso é
destrutivo. A gente precisa, olha, eu
preciso acreditar no médico para
medicina, ele sabe tudo. Não, mas
preciso depositar fé na gente. O
mecânico, não é possível. Vou levar o
carro no mecânico, não vou acreditar.
eventualmente não vai dar certo, mas
assim, se eu não acreditar nunca e tocar
fica na garagem. Então assim, eh tem uma
função a crença no no coletivo,
inclusive pro engrandecimento próprio. É
é isso que eu gostaria que que as
pessoas entendessem mais. pro
engrandecimento próprio, acreditar nos
colegas tem função. A gente tá muito
cínico.
E essa essa última fala sua me fez
lembrar da passagem do do Platão que eu
mais gosto, que tá no diálogo Fedon, que
eu detesto o diálogo,
de certa forma é compreensível, mas tem
uma passagem que ele começa a falar
sobre misantropia.
Uhum.
Uhum.
E é e é bem isso assim que ele vai
falar. Quando você acredita de mais uma
pessoa que ela tem todas as virtudes e
ela se mostra imperfeita, de repente
você desacredita você desacredita em
toda a humanidade. É.
O Platão fala: “As coisas não são
assim”.
Uhum.
Porque as pessoas têm gradações.
Sim.
E pro conhecimento é a mesma coisa. O
Platão fala: “Pro conhecimento é a mesma
coisa”. Você acha que algo tem toda a
verdade, de repente você percebe que não
é assim, você desacredita de todo
conhecimento.
Isso acontece no Meno. No Men, ele fala
isso, tipo do ponto de vista
epistemológico. No no no Fed ele fala
sobre as pessoas, né, virzem
misântropas. Ah, então danse todo mundo.
Mas no menos ele fala do ponto de vista
epistemológico também. Exatamente. Você
tem que eh eh você acha que poderia
saber tudo e você se dá conta de que não
sabe nada, então tudo vira a mesma
coisa. não vira necessariamente a mesma
coisa, né? Aí a essa gradação, opinião
verdadeira, ela vale também, mesmo que
você não saiba exatamente por, ela te
leva naquele resultado também. Então, se
tiver alguém que tem conhecimento e te
informa da opinião verdadeira, então tem
essa gradação que é que que hoje eu acho
que é muito cara, inclusive pra
justificação da ciência. Tipo assim,
veja bem, se você for falar de ciência,
a ciência
enfiada na dialética do mundo, no
conhecimento parcial humano, veja bem, o
que a gente sabe sobre dilatação de
ferro hoje, provavelmente é mais do que
a gente sabia há 500 anos sobre
dilatação de ferro. Hoje é a última
palavra, não, mas é melhor reconhecer o
papel do melhorzinho, né? Olha, a gente
sabe como é que é a cara de um átomo.
Ainda não. Mas assim, o modelo de hoje é
melhor do que o modelo de eh Thompson. E
o modelo de Tompson era melhor do que o
atomismo antigo. Por favor, é claro que
é melhor. Não é não é um desenvolvimento
de versões diferentes. É um
desenvolvimento que tem mais contato com
o objeto. É um desenvolvimento. Eu acho
que a gente perdeu. Isso é que mais me
assusta no mundo contemporâneo, essa
coisa de dinamitar a tradição, dinamitar
o o o,
ou seja, tentar mostrar os problemas do
que a gente vive hoje para dizer assim:
“Olha, o mundo não é tão bom assim do
jeito que gostam de pintar os
otimistas”. Eu acho que você vale, mas
assim, no ponto de dinamitar tudo e dar
a impressão de que na verdade é uma
sucessão de versões, não há ganho
qualitativo. Ah, eu acho isso
profundamente desesperador, inclusive
profundamente desesperador. Imagina
penicilina.
Penicilina
é um cart cartesianismo decolonial.
É, eu acho que eu eu acho que acho que a
gente
repete a dúvida de Decart em relação a
tudo.
É exatamente
para falar, para afirmar que Decart não
ajudou em nada.
É, repete
para dizer que não funciona. Só que
Decart tornou uma razão procedimental.
Ele colocou, tem passo a passo e você
não resolve um teorema matemático hoje
sem Decarts. Você não entra no avião sem
Decarts.
Exatamente.
E aí você, professor, está defendendo
Decarts?
Sim, sim. Tem que depender de carart,
mas não precisaria, né? Ô, Pedro, tenho
três questões que eu passo para todos os
convidados. A primeira é mais simples,
talvez. Eh, o que é filosofia?
Ah, é simples, simplesão.
Ah, bom. Eh,
eh, eu posso eu posso me afugentar e me
fugir, me esconder atrás da da
etimologia. Ah, bom. Ah, filosofia do
grego significa afinidade a ao a saber,
né? Afinidade ao saber. E eu acho
interessante porque tem essa distinção
entre o sábio e aquele que tem afinidade
ao saber. Olha só, eu tenho afinidade a
minha esposa, mas eu não sou a minha
esposa. Então, quando eu digo que eu
tenho afinidade ao saber e não sou ah
sábio, significa que eu tô tentando
sempre estar me aproximando desse
negócio. Onde esse negócio tiver, eu
quero estar lá. Eu acho que é legal ter
essa percepção, porque aí e eu acho que
isso tá presente na filosofia platônica,
até quando ele diz que não chega, quer
dizer, ele não diz que não chega, ele
não te diz o que é uma porcaria de uma
forma, né? Ele não vem assim, olha, e
portanto a forma de bem é isso, né?
Porque se ele viesse isso, acabou a
discussão, né? Eu não preciso escrever
livro, não. A forma de bem é isso, três
frases, né? Eu leio a frase, tá
explicado do ponto de vista
proposicional. Por que que eu vou
estudar mais? A forma de justiça é isso,
a forma de amor é isso. Então, se a
coisa tem a ver com o conhecimento, eu
cheguei no conhecimento, acabou, não é
isso? Então, eu acho que a noção de
filosofia, ela encaixa-se muito melhor,
inclusive, ao pensamento científico
contemporâneo do que uma propositura
aristotélica de de eh sistemas, né?
Então assim, vem esse sistema aqui, tá
escrito, você já aprendeu, você repete
500 vezes até se decorar e aí você
aprendeu o sistema do saber. E a ciência
contemporânea, ciência moderna, ela se
dá conta de que, na verdade, há um
processo inloco, né? A gente tá enfiado
na história. Então tudo que a gente
tiver produzindo não vai chegar a um
fim. A gente não vai chegar um momento,
por exemplo, se eu for fazer em qualquer
matéria, é até mais fácil fazer falar
disso quando você tá falando de uma
matéria relacionada a a a minha área ou
as minhas áreas, né, que elas, eu acho
que elas são desdobramento da mesma
coisa. Em que sentido? Direito e
história. Eh, tanto o direito quanto a
história trabalham com a noção
indiciária, né? Então, quando você tá
falando de história, você não encerra o
assunto, porque o assunto, para eu
encerrar o assunto, como é que eu iria
dizer,
como é que eu iria contar a história? de
um de uma cidade do século eh 9 ao
século X.
Se eu tenho de vida 80, 90 anos, como é
que eu vou contar? Eu tendo que almoçar,
tendo que dormir, tendo que viver minha
vida, contar a história de 100 anos de
uma cidade, alguma coisa vou ter que
omitir, né? Você percebe pela própria
noção como é que eu vou contar a
história do que aconteceu. E eu não tô
dizendo a min a história de um sujeito,
tô falando de uma cidade. Então, a a só
por você raciocinar em abstrato sobre
isso, você já percebe que ah, então eu
vou contar a história do Brasil do
século XVI. Vai, não vai não. Você vai
não, não vai, não vai, porque não tem
como. O a o tempo hábito de vida de você
para você falar sobre a história do
século XVI, você vai recortar. Então
você vai cortar um pedaço da história,
vai ter outra pessoa que vai cortar
outro pedaço da história e você vai
poder, né, com um conjunto de eh pedaços
da história sendo contados, você compor
melhor o seu entendimento sobre isso ou
aquilo. você não extingue o objeto. Não
vai ter uma pessoa que vai vir contar a
história definitiva a da República
Brasileira ou do Império Brasileiro.
Mesmo o império sendo ridículo de curto,
né? de 22 a 89, não dá nem 100 anos, mas
tem muita coisa para você contar em
muitos aspectos, em muitas curiosidades
que eh sempre vai estar aberto, não
necessariamente para correção, mas para
complementação, não necessariamente para
correção. E muitas das vezes sim, para
correção. Às vezes um ótimo historiador
vai precisar ser corrigido. Isso vale na
história. Isso vai valer eh como a gente
observa na história da ciência
contemporânea. É dado. Ninguém, nenhum
epistemólogo acha o contrário. Todo
mundo sabe que aquilo que tá sendo
empiricamente desvendado pelos autores
atual e cri autores atuais e e e
exacerbado para modelos explicativos é
um modelo explicativo para aquilo que
empiricamente se observou até hoje.
Então se observa uma outra coisa naquela
mesma matéria, o modelo vai ter que
virar. Então,
como a nossa ciência é inserida dentro
da história, eu acho que descobrir isso,
que a ciência dentro da história, ao
longe de fazer o que acabou de fazendo a
a filosofia no nosso momento, que é foi
assim separar, ah, não, ciência tá para
cá e filosofia é uma outra parada. E aí
algumas vezes as pessoas falam: “É o que
sobrou”, né? Sei lá, filosofia ética,
filosofia eh epistemologia, porque
ciência não é isso. Então é o que
sobrou. Quando você percebe que a
ciência ela ela se enxerga assim
evolutiva em construção e e e etc, eu
acho que isso deveria aproximar a
ciência da filosofia e não contrário,
porque conceitualmente filosofia sempre
foi isso, aquela aquele impulso ao
conhecimento e aquele impulso ao
conhecimento que tá sempre em
construção.
E de certa maneira eu sou influenciado
também pelo
errador, né, que caracteriza a filosofia
antiga como a filosofia antiga não como
um projeto sistêmico de conhecimento do
mundo, mas até quando é um projeto
sistêmico de conhecimento do mundo, é
para eh eh explicar ou organizar uma
forma de viver. Pierrador diz isso que a
filosofia antiga é assim. Aí eu falo pro
Pierreador, tá certo, mas você tá muito
certo, muito mais certo do que você
queria, porque a filosofia antiga me
parece ser isso também, mas quem disse
que Heidegger não é também um cara que
criou um sistema para expressar aquilo
que ele queria fazer no mundo, viver,
vivenciar, alterar a realidade. Quem diz
que não foi a mesma coisa que foi feita
pelo Sartre, não foi a mesma coisa que
foi feita por
Decar. DD Carar não tava tentando
explicar um sistema para construir um
modo de viver no mundo, ao mesmo tempo
em que lutava como um espadachim. Ah,
DK. Foi, fo foi foi cara, como é o nome
disso? Ele foi a pior profissão que pode
existir no planeta. Eh, [ __ ] de rei.
[ __ ] de rei. Ou seja, se vende para a
seja, ele ele mata pessoas a salário,
né? Eh, eh, era isso, era a atividade, a
atividade DEC era bastante era bastante
concreta, era bastante pisada do dentro
do chão. Eh, e, e, e essas pessoas que
pensam, eu acho que pensam sempre no
sentido de organizar a sua forma de ser,
porque eu tenho uma pegada
existencialista muito forte. Eu acho que
não tem como separar os autores. Depois
os autores viram só o texto separado,
sem biografia. Só o texto, o texto fala
por si. Só o texto tem sua mensagem. Eu
acho que isso foi um ponto negativo que
a gente criou eh a a partir de Foucault
e de e de Batisk, que que o texto o o
autor morreu e etc e tal. Mas cara, que
legal mesmo é o autor, por que que um
cara chegou a essa conclusão que que
tava passando? Eu acho isso
interessantíssimo. Acho que isso devia
ser eh reanimado, a tese de que por trás
de um epistemólogo, por trás de um
ético, por trás de um historiador, tem
um um modo de enxergar o mundo. E eu
acho que isso deveria ser avalizado.
Você vai enxergar um Heidegger. É
importante para ir ler Heidegger com
medo. É importante ler Heidegger sabendo
que o cara se tornou nazista. Isso virou
isso a a ao mesmo tempo que é uma uma
forma de de ah einger se tornou nazista,
então toca fogo no livro, então não vou
ler, isso é um problema. Mas também por
outro lado fal: “Ah, mas também não
importa a vida do Higer.” Claro que
importa. É claro que importa, porque aí
você vai ver que todo aquele projeto
existencialista do Heidger envolve um
risco. A pessoa que lê aquele texto, ela
pode acabar caindo no olha, eu construo
a minha forma de ver porque eu sou um
ser absoluto independente da
construção dos meus valores. E é isso
que eu pera aí, se você souber que o
autor disso tá boi e fascista, talvez
você achea que tem que complementar isso
com uma outra com uma outra leitura, uma
outra visão. Então eu acho que filosofia
é isso, é buscar ao mesmo tempo tá
buscando conhecimento numa coisa que
nunca acabará e um e um projeto
existencial também. Eu acho que eu gosto
muito disso. Eu gostaria muito que a a
filosofia se se entendesse
existencialista de maneira eh fulcral,
que tudo que a gente produz, a gente
produz porque a gente quer entender o
que a gente é, esse martelo que a gente
usa porque eu ligo o computador e etc e
tal.
pros
quem acompanha o canal, seu canal, a teu
informa vão saber que você foi fazer
robô para fazer filosofia. É isso. Eh,
das filósofas ou filósofos que você
conheceu pessoalmente, qual foi o que
mais impressionou
pessoalmente? Você diz fisicamente
entrando em contato, [ __ ]
pessoalmente.
Caraca.
Tá. Eh,
ó, eu vou te dizer por um motivo
existencial também. Giovani Cacertano.
Eh, o Giovanni Cacertano é um italiano
que participa do meu grupo de
pós-graduação e que ele
ele ele é quase como se fosse um herói
lá no nosso grupo. Ele é uma
personalidade realmente importante e
tal, mas eh ele faleceu há pouco tempo e
ele faleceu de câncer.
Quando ele descobriu que ele tinha
câncer, quando ele descobriu que ele
tinha câncer, ah, os,
e tem é uma pegada bem raíano que eu vou
contar para vocês. Eh, quando ele
descobriu que ele tinha câncer, ele ele
ele fuma charuto, aquele charuto que é
aquela desgraça que mais acaba com o teu
pulmão, que mais vai te matar mesmo. Aí
eles, o, os médicos disseram para ele:
“Olha, você tá com câncer bastante
avançado, bastante avançado mesmo.
E você tem que diminuir o o uso da do
tabaco, da da nicotina, porque isso vai
acelerar o seu processo de morte. Ah, e
você tá assim, é quase certo que não tem
como voltar
e e você vai aumentar, vai acelerar isso
assim, inegociavelmente, é isso que vai
acontecer. Aí ele disse: “Tá, mas se eu
parar de fumar, tem como eu melhorar?”
Não. Então é isso, então eu vou fumar.
Então assim, eh eh eh eh isso me chamou
atenção, isso me chamou bastante
atenção, eh porque eh a construção do
Cacertano, eu quero fazer um elogio à
obra do Certano, porque o Cacertano tem
um trabalho muito grande, inclusive
recuperando isso que a gente tava
falando agora. Ele tem um livro só sobre
a sofisco. Eu tava até olhando aqui para
ver se eu acho. Não, não me parece que
tá em um local visível, mas ele tem um
texto só de tradução, de de
interpretação, eh, da sofíica. ele é ele
é um autor que trabalha muito com eh
pressocráticos, ele tá sempre
trabalhando com pressocráticos e eh e
ele tem uma ah uma influência
sobre
a a minha visão da necessidade da
recuperação da sofísica, ou seja, de
voltar a estudar a sofísica, de jogar
luzes sobre coisas que parecem só uma
piada para muita gente que não para para
estudar, porque se cria um preconceito,
se cria, então assim, jogar luzes para
isso. Eh, em em certa medida, a minha a
minha caminhada nesse sentido foi por
culpa dele, por causa dele. E o o essa
vivacidade que o Casertano teve
pessoalmente ao meu lado, né, de sempre,
mesmo depois dessa descoberta da
situação de saúde dele, ele ficou
trabalhando com a gente sempre, tava
sempre junto da gente, ah, produzindo.
Porque é isso? Porque quando a gente
gosta de fazer é igual eu tá aqui, né?
Eu não tô ganhando nenhum centavo para
estar aqui. A gente a gente faz porque a
gente gosta. Se puder ganhar dinheiro,
melhor. Mas assim, eh, e eu acho que
essa essa essa vocação existencial é uma
coisa que as pessoas deviam aprender. Eu
vejo que tem muita gente deprimida,
sabe? Eu não, eu não, assim, com todo
respeito e tal, a, a, eu não consigo,
eu acho que essa epidemia tá muito
errada e, e eu acho que essa epidemia,
eu, eu chamo atenção para isso com uma
certa constância, com o perigo de ser
insensível, porque eu sei que tem
questões químicas, etc., relacionada a
problemas de a pessoa, por exemplo, se
ela não produz lítio direito, ela vai
ter problemas na psiquê, etc. Então eu
sei que tem questões físicas reais e
sérias, mas eu vejo que às vezes as
pessoas têm problema de filosofia mesmo,
que o coach substituiu a função da da
filosofia nessa nesse impacto
existencialista de que ah há uma
necessidade da gente procurar a
finalidade, o que que que eu que que eu
quero e não é ninguém que tem que me
dizer, eu é que tenho que experimentando
até achar o lugar onde eu me encaixo. Eu
acho que o Certanão, além de escrever
sobre o tema que me inspirou e que eu
gosto por causa de do contato com a
literatura, eu acho que quando eu via
ele falando de filosofia, quando eu
ouvia falando de filosofia, eu enxergava
isso. Uma pessoa que tava ali, não
porque ninguém mandou, mas é porque
porque eu gosto para caceta. Eu acho que
isso é uma coisa que tem que todo mundo
ter, todo mundo devia aprender com isso.
Acho que é um pouquinho do do texto de
Sócrates. Sócrates tá ali, não é porque
ele acha certo, porque ele acha errado,
porque ele tá jogando xadrez 900D. Ele
tá fazendo o que ele acha que é bom. Ele
não se vê fazendo outra coisa. Eu acho
que mais do que tentar se mostrar como
superior moral. Ah, por que que você não
foge, só cri? [ __ ] vou fugir. Eu
tenho 90 anos, vou me enfiar na cidade
no esgoto. A gente tá aqui no top das
cidades do mundo. Eu quero viver se for
do jeito que eu vivia. Se for para viver
com a torneleira eletrônica, fugindo por
aí, chorando nos cantos, não quero nada.
Quero nada.
Qual o seu filósofo ou filósofo
favorito?
Cara, é, eu, essa eu respondo rápido e
essa eu respondo rápido de uma maneira
ousada. Ah, esse personagem ele diz para
o mundo que ele não é nada demais e que
perto de seu amigo ele é o segundo
violino numa grande sinfonia filosófica
que é Friedrich Engels. Para mim, esse
cara é, ele é meu filósofo favorito e eu
acho um erro real ele ter sido tão
humilde assim a ponto dele ficar tão na
sombra e tão amesquinhado e muitas vezes
por motivos de disputa política e de é
quase como se fosse a religião antiga,
eu sou dos Zeus, aquele aqui é do da
Atena e uma coisa meio esquisita e tal
por motivos de disputa política dentro
da União Soviética, por causa da adoção
que fizeram de Engoss na União
Soviética. Outras pessoas para ficar
antissoéticos
relegaram a imagem de Engos eles ser um
completo idiota. E eu acho isso um um
atentado a a para eu acho isso realmente
um crime contra a humanidade, um crime
de lesa humanidade, porque eu acho que
ele tem uma contribuição muito grande a
respeito de alguns tópicos que a gente
tangenciou aqui, eh, envolvendo o fato
de que o mundo é fluxo e nem por isso
deve se negar a ciência, que é o que
aparece no TT. No TT, se você for muito
pro fluxo, parece que não tem
conhecimento. E eu acho que o Engels
conseguiu achar um meio de campo legal
entre as coisas sim estarem no fluxo e
sim ser importante estudar. Eu e por
isso eu respeito muito.
Eu queria pedir indicações para fechar
nossa conversa. O que que você gostaria
de indicar de texto, de filme, de música
que você esteja ouvindo, que você acha
interessante,
tá? eh um uma indicação
de
filme, de filme,
na verdade série, vamos ser bastante,
vamos fazer, vou ser bastante
contemporâneo, atual. Eh,
vamos pensar aqui. Eu sou péssimo paraa
arte, cara.
Eu sou péssimo para arte. Eu fico entre
o fluxo aqui de de parecer um nerdão e
de parecer o extremamente
e demasiadamente popular e o
demasiadamente erudito.
Hã, a verdade é que eu não tenho eu não
tenho muita prática de consumo de nada
que não seja blockbuster para diversão.
Recentemente eu tenho,
depois de muito tempo sem ler nada,
depois de muito tempo sem ler
absolutamente nada de de ficção, eu li
ACMV.
E aí, se tem se você não me conhece, tá
me ouvindo pela primeira vez, eu indico
tudo que for possível de Isaac Mov. H, e
eu li simplesmente o texto mais básico,
que é aquela compilação de texto que se
chama o Robô, que deu até um filme
famosinho que se inspira nele, embora
não seja exatamente a reprodução do que
tá contido em Robô. Aí o Robô é uma
compilação de pequenos artigos que se
somam para contar uma história ah em que
o filme vai se inspirar. Esse texto
assim realmente mexeu bastante comigo.
Eu fiquei muito feliz de ler esse texto.
Tem muita gente que gosta da fundação.
Diz: “Olha, Pedro, se você gostou de AC
Móvel, leia a fundação imediatamente.”
Eu não comecei a ler, um texto muito
longo e e portanto por isso eu não
comecei a ler. Eu sei que tem uma série
também da fundação que dizem que até é
legalzinho, mas também não foi atrás,
que eu queria ler o texto antes. Ah,
então eu faria essa indicação de texto
para ficar na na no tópico do robozinho,
né? ficar no tópico do robozinho.
Eu vou indicar, claro, a leitura do
Protágoras. Aí você vai procurar a
edição de Protágoras que você tiver mais
acessível. Eu comecei a ler a edição do
Carlos Alberto Nunes e já li que o texto
ali já é um dos melhores textos de
Platão que eu já tinha, eu já tinha eh
que eu já li, assim, eu acho que fica o
banquete e o Protágoras, como textos que
podem ser literariamente equivalentes,
assim, eh
a tradução do Daniel Lopes, RV Lopes, eu
não sei qual o sobrenome dele, eu acho
que tem as notas e talvez pode ampliar
um pouquinho mais o debate para quem tá
procurando.
H, dentro da filosofia. É uma indicação
interessante. Eu queria indicar também o
livro Amigos da Ciência do Carlos Rua e
do Guibon, que é um livro que
transformou a divulgadores científicos
em heróis de quadrinhos, né? Tal pirula
como herói dentro do livro lutando
contra os terraplanistas. Então eu acho
que é uma indicação interessante para
quem eh porque o outro indicação é o
canal ATU informa, né? Eh, eu acho que
eh essa perspectiva
eh de você eh buscar uma explicação
científica do mundo tem que ser
defendida, né? Eh, infelizmente a gente
tem que defender essa perspectiva e
levar isso até as últimas consequências.
Isso não significa você se isolar das
pessoas. O Richard Hort, que é o
filósofo que eu mais estudei, ele era um
ateu, agnóstico e tudo. E quando o amigo
dele escreveu um texto elogiando a
convergência e apontando para Deus, o
Charles Taylor, ele começou a defender o
politeísmo romântico. Ele falou: “Não, é
melhor então ter vários deuses e ser
romântico do que ter um deus só, porque
o problema todo do do da monocultura, do
monoteísmo é pior.”
Mas ele eh vivia de certa forma isso
porque ele era casado com amórm, né?
Tipo, ele era ateu, mas casado com
amórm, né?
A gente tem que ver as os problemas que
a gente leva. E ele ele nesse ponto acho
que acertou muito eh em considerar que
há uma convergência entre a forma como
você vê a verdade como metafísica ou
desconectada da realidade e o monoteísmo
do pensamento sustental. Eu achava que
tinha uma uma proximidade nisso. E às
vezes as pessoas falavam assim: “Você
acredita em Deus ou você é um um ateu
perigoso?
Você é um você acredita na verdade ou
você é um relativista perigoso?” Tudo
isso para não ter gradações entre as
coisas.
É,
tudo isso para ser 880, né? Exato.
Exato. E
eu acho que eh o grande o grande
ensinamento é a do era aceitar a
contingência.
A dificuldade que a gente maior que a
gente tem é aceitar que as coisas são
contingentes. E aí a até a contribuição
na psicanálise que ele dá é essa assim.
E então eu vou indicar o contingência
ironia e solidariedade do Hort que é o
diálogo mais forte que ele tem com
Platão, né? O Rmas falava que o R é um
platonista, ele é platonicamente
motivado. Ele começa com Platão, assim,
o a promessa de Platão levou ele. Mas eu
acho que é difícil você não ser
platonicamente motivado para fazer
filosofia. Quem vai mexer com filosofia
tem que ler alguma coisa interessante
para se apaixonar. Então, Platão é um
bom motivo, né? Então fica essas
indicações. Canal ATU informa, o
Protágoras que é um bom começo para quem
quer se interessar por Platão, o
Contingência solidariedade é um livro
mais difícil, mas é um livro legível,
Rocha escreve muito bem. E o canal At
informa que a gente é o canal do Pedro
Ivo. Pedro, eu queria agradecer esse
diálogo e queria deixar o espaço aberto
para você divulgar o que você quiser
divulgar,
tá? Eh, bom,
eh, a primeira coisa que eu quero dizer
também é agradecer, Marcos, a sua, o seu
carinho, a sua receptividade.
Eh, fico muito feliz em participar aqui.
Eu gostei muito do do de tudo. Acho que
se você puder me deixar, me
disponibilizar a uma versão para eu
também colocar no meu canal, eu
agradeceria muito que eu gostei mesmo do
que a gente produzir aqui. Eu até fiquei
um pouco surpreso porque eu eu eu não
mexo nesse texto em pelo menos um ano. E
e assim, reviver essas coisas e pensar
sobre esses temas é uma coisa que às
vezes eu esqueço, porque assim, quando a
gente tá fazendo doutorado eh eh depois
de um tempo, é um inferno, né? Porque é
só aquilo que você tem na cabeça, é só
sobre isso que você pensa, é só sobre
isso que você fala. E aí você pega uma
espécie de enjoo, né? Eh, mas assim, foi
muito gostoso voltar para esse tema, de
verdade. E hã fico agradecido por você
me dar oportunidade fazer isso aqui
hoje. A indicação que eu tenho para
vocês, gente, é, se eu posso dar uma
indicação para vocês, é, gente, não
sejam doidos, tá? A vida a gente tem uma
só, certo? A gente tem uma só. Então,
tentem consumir a vida que vocês têm,
que é isso que vocês farão. Consumir
cada dia que você vive, é um dia que
você morre, né? Então, tenta pensar numa
construção. Acho que a gente vive em
momentos políticos muito difíceis, muito
tensos internacional, nacionalmente. E
eu acho importante a gente ter
alguma vocação de construção. A gente
precisa não só pensar destrutivamente,
né, de de superação dos problemas, mas
pensar, beleza, mas e depois? O que que
a gente tá construindo? O que que vocês
estão fazendo? A gente tem, certo?
Então, tem uma uma indicação que eu
quero fazer para vocês em cima desse
diálogo que eu faço.
Eh, se vocês pesquisarem na internet,
eh, eu tenho um grupo que eu tô
montando, se chama a Associação dos
Ateus do Planalto Central. Na sigla, ela
se chama A C. A P de pato, C de cavalo,
E de égua. A de avião, A B C E. Então,
se você eh pesquisar por APCE na
internet, você vai achar 500 coisas, mas
aí tem a palavra bubble de bolha, apps,
APCE, bubble apps, apps de aplicativo,
apps,
bubble apps, né, poniio. Tá, é longo,
né? É longo. A gente tá montando um
aplicativo, né, da PCE.bubbleaps.io,
bubbleaps.ioiio
que você vai conseguir encontrar na
internet. E a gente queria convidar
vocês a participar desse aplicativo que
a gente vai querer eh lá entrando no
aplicativo, a gente vai querer dar
cursos lá. A gente vai querer ã além de
cursos, produzir eh revista, uma revista
com um saída trimestral,
eh semestral. a gente vai pensar quando
é que quanto gás que a gente tem para
fazer eh lições eh custos de línguas, de
inglês, de francês, para de repente a
gente fazer igual o pessoal lá do Três
Elementos fez, fazer uma viagem paraa
França e aí discutindo o ateísmo na o
surgimento do ateísmo, a casa de Derrô,
a casa de Dalber, né, fazer esse tipo de
coisa. Eh, ou seja, a gente quer vender
coisa, né, para girar essa economia,
para dar eh para quem quer produzir
conteúdo, um jeito de ter entrada para
continuar produzindo conteúdo no sentido
de divulgação daquilo que eu acredito
que seria valoroso se a gente tivesse
mais ateus em sociedade com com
relações sociais, como tem outros grupos
sociais ou étnicos, que às vezes eles
têm produção de conteúdo, produção de
final de semana, você tem um clube
Imagina se a gente, eu queria muito que
isso exigisse de verdade, que a gente
conseguisse transformar isso numa coisa
que virasse ação social, que virasse
outras atividades, que de repente a
gente tivesse dinheiro, inclusive
investido do estado pra gente fazer uma
universidade. Não tem uma universidade
católica porque não pode ter uma
universidade ateísta. Na universidade
católica tem professores que são ateus,
tá tudo certo, mas quem comanda
administrativamente são católicos. Por
que que não poderia ter uma uma
universidade ateísta com professores
eventualmente católicos? Bis, sem
problema, mas com administração
reconhecidamente, com princípios ateus,
falando sobre isso, divulgando isso. Eu
tenho esse sonho, sabe? E esse sonho
começa com esse aplicativo. A gente
junta mais ou menos umas 20 pessoas.
Nesse ano, por exemplo, na UnB, a gente
chamou o Pirula, que você mencionou mais
cedo, eh, e mais o Alexandre do
Epifania, experiência, mais o professor
Ricardo Oliveira, que que é professor de
história na Universidade eh Federal de
Mato Grosso do Sul, eu acho, eu sempre
confundo se é Mato Grosso do Sul, é Mato
Grosso, eh, município de Dourados, né,
na na no
como é que é o nome disso quando você
fala lote não, né? Não. Bom, ele dá aula
em Dourados. Ele dá aula em Dourados.
Eh, então a gente chamou várias pessoas,
várias professoras
de psicologia, a gente chamou o Daniel
Gontio, a gente chamou um monte de gente
e deu mais ou menos 200 pessoas. Por
quê? Por causa dessa PCE. Então, a gente
quer fazer isso, criar um grupo que
tenha algo a entregar, né? Então eu
gostaria que vocês checassem lá. Eh, eh,
esse, esse, esse, esse aplicativo ele tá
na fase beta dele, então ele é muito
problemático ainda. Você vai logar,
fazer o login, etc. e tal, entrar na
conta, ver qual é a cara que ele tem,
uma fase beta ainda. Ã, mas baseado em
tudo que eu disse aqui,
ã, eu queria fazer essa divulgação que a
gente tem um trabalho que ele pretende
ser coletivo. E se você tá vendo meu
e-mail aqui embaixo, se você tem
interesse, inclusive em participar,
sobretudo se você for do Centro-Oeste e
quiser colaborar com mão de obra, ah,
mas eu sou programador, não, mas eu sou
milionário, mas eu sou qualquer coisa,
eu quero compor o projeto, chega junto,
manda o e-mail para mim.
Fala o e-mail, porque no podcast a gente
não vai ter a
Tá, vou só letrar o e-mail. O meu, o meu
nome é Pedro Ivo, SA de Souza de
Alcântara, então o e-mail é Pedro Ivo,
Pedro normal. Ivo
sadesouzadealcantra@gmail.com.
Pedroivsa@gmail.com.
Aí você manda o e-mail para mim se você
tiver interessado em ajudar, em
colaborar. Lembrando que nesse momento a
gente tá nascendo, somos 20 pessoas.
Ahã. Ninguém recebe salário nenhum. A
gente tá se reunindo aos finais de
semana, cada mês para tocar os assuntos.
Já temos CNPJ, etc. e tal, mas a coisa
ainda tá muito devagar, né? Então, na
medida que a gente for
profissionalizando, quem sabe daqui a
pouco a gente tá pedindo currículo ao
invés de pedir ajuda, né? Mas vamos ver
para mais paraa frente.
Muito obrigado. Então, então, fechamos
aqui. Deixa eu concluir aqui.