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Bolsonaro em Prisão Domiciliar e a Negação da tentativa de Golpe de Estado, para tentar de novo

เฮ
A gente não saiu das quatro linhas, vai
ter uma hora que a gente vai ter que
sair ou então eles vão continuar
dominando a gente.
Povo tá nas ruas pedindo para que haja
uma outra eleição de forma que possa ser
cobrado
de uma forma mais clara. Pô, meu velho,
só quem tem quatro estrelas no homem não
tá vendo isso. Eu acho que o pessoal
poderia e fazer essa descida aí, né? E
travancando mesmo, porque com a massa
humana chegando lá não tem que segura,
atropelar a grade e vai invadir, depois
não tira mais, né?
Que preto, o decreto é real, foi
despachado ontem com o presidente.
É,
tá com medo de ficar pra história de
dizer que fomentou um golpe? É a hora da
gente, cara.
O Fantástico teve acesso com
exclusividade a áudios inéditos e expõe
os bastidores da trama gopista.
Os arquivos extraídos de celulares e
computadores, a partir de apreensões e
quebras de sigilo, mostram conversas
entre envolvidos na tentativa de golpe
de estado. E, segundo as investigações,
revelam a participação de militares e
civis no plano de tentar por fim a
democracia brasileira. como esse áudio
enviado pelo tenente coronel Guilherme
Marques de Almeida, que na época estava
no comando de operações terrestres do
exército em Brasília. Se tiver alguma
possibilidade de influenciar alguém dos
movimentos, eu tô tentando contar isso
nas redes onde eles estão. Tô
participando de vários grupos civis.
Neste trecho, militares em postos de
comando incitavam a participação popular
e discutiam como usar os manifestantes
em frente aos quartéis como massa de
manobra para pressionar por uma
intervenção.

Não adianta protestar na frente do que
do exército em que congresso e as forças
armadas vão agir por iniciativa de algum
poder. Porque assim, todo mundo quer
forças armadas por quê? Quer um
mecanismo de pressão chamado arma, né?
Para apaziguar, a gente resolve.
eh destituir a invalidar a a eleição,
colocar voto impresso, fazer uma nova
eleição com o C Bolsonaro.
Militares de alta patente mantinham
canal aberto e contato direto com
manifestantes.
Bom dia, general. Tudo bem? Eu tô
precisando de um
de um apoio aqui. A gente comprou uma
tenda e o pessoal não tá deixando ela
entrar para para trocar a polícia do
exército daqui do
QG. Eu preciso de um apoio paraa
liberação.
Neste outro áudio, um caminhoneiro
questiona o general Mário Fernandes até
quando eles deveriam permanecer em
frente aos quartis. Eu queria ver para o
senhor aí qual que é a perspectiva, até
quando vocês querem que a gente fique
aqui, né, vê que com o presidente aí,
né? Eu não saio daqui. Eu quero ser o
último a sair. Somos um soldado.
E quando os militares não tinham
autoridade para resolver, apelavam para
que os pedidos para proteger os
manifestantes chegassem até o então
presidente Jair Bolsonaro.
Parece que existe um um mandato de busca
apreensão
do TSE,
né, ou do Supremo em relação aos
caminhões que estão lá. Já andou havendo
prisão realizada ali pela Polícia
Federal. Se o presidente pudesse dar um
input ali pro Ministério da Justiça
para segurar a PF, eu tô tentando agir
diretamente junto às forças, né, pô, se
tu pudesse
pedir pro presidente ou pro gabinete do
presidente
atuar,
gente tem procurado orientar tanto o
pessoal do agro como os caminhoneiros
que estão lá em frente ao QG. Eu puder
vir junto ao presidente, falar com o
ministro Anderson,
segurar a PF
para esse cumprimento de ordem ou com
comandante do exército pra gente
segurar, pô, proteger esses caras ali.
Para a Polícia Federal, os áudios
mostram que a estratégia do grupo era
manter as manifestações nas ruas e a
contestação das urnas eletrônicas.
A gente tá recebendo cara de TI, hacker.
Eu não bebo cerveja, mas depois eu te
conto as coisas que a gente já fez aqui,
né? A gente tem cara infiltrado quant
lugar, monitorando e passando pra gente
as informações, refutando ou ajudando
aigar, né, digamos assim, matemático,
estatístico, PhD, aquelas e denúncias.
V encontrar o cara no mercadinho, vai
encontrar o cara na garagem, cara, passa
um pen drive, tem de tudo, cara.
Mas nem ninguém ainda chegou com uma
coisa que consiga abrir uma
investigação.
Mauro Sid, então ajudante de ordens do
presidente Jair Bolsonaro, encaminhou
para o tenente coronel Sérgio Cavalieri
o que seria o áudio de um hacker do
interior de São Paulo sobre as urnas
eletrônicas.
Logo que saiu os arquivos PS, vou pegar
esses arquivos aí para ver o que que dá
para fazer e buscar agora qual que é
inconsistência desse negócio aí. Por que
tá essa votação? Mas a gente teria que
encontrar alguém lá de cima, né, do
governo, principalmente. Por
coincidência, Matja da Damares, da
ministra. Eh, aí a Damares, ela escutou
e passou um contato de uma assessora do
Bolsonaro. De alguma forma chamaram o
pessoal da BIM, da agência nacional.
O suposto hacker afirma que chegou a
receber uma visita dos agentes da ABIM e
admitiu que eles não encontraram nada
nas supostas provas apresentadas por
ele.
Bol esses cara da Bin vieram aqui,
ficaram dois ou três dias aí não é
desmerecentaram para entrar num
concurso, passaram no concurso, mas
tecnicamente [ __ ] são fracos demais. A
Polícia Federal apreendeu 1200
equipamentos eletrônicos com os
envolvidos na tentativa de golpe de
estado e conseguiu extrair desses
aparelhos milhares de mensagens de áudio
e vídeo. Se uma pessoa tivesse que ouvir
tudo, levaria anos. Por isso, os peritos
usaram um programa de computador
desenvolvido no Instituto Nacional de
Criminalística, capaz de transcrever 25
minutos de áudio a cada segundo. Os
peritos federais elaboraram 1214 laudos
que, segundo a investigação, revelam as
vozes do golpe. Para os investigadores,
os áudios mostram que integrantes do
alto escalão do governo Bolsonaro agiram
também para pressionar os comandantes
militares a aderir à ruptura
institucional.
Força, Guid Preto. Qu preto, algumas
fontes sinalizaram que o comandante da
força foi a vorada para sinalizar o
presidente que ele podia dar a ordem.
Pô, se o senhor tá com presidente agora
e ouvir a tempo, pô, blinda ele contra
qualquer desestímulo. Isso é importante.
Que de preto,
força.
Nesse áudio, o coronel George Roberto
Oliveira Lisboa, que na época era
assessor especial no gabinete da
Secretaria Geral da Presidência, faz um
desabafo. E agora tá ficando muito claro
que o alto comando, e não é o exército,
é o alto comando do exército, ele tá se
fechando em copas, talvez como a maioria
contra a decisão do do presidente,
mas pensando em primeiro lugar na
instituição,
pensando em primeiro lugar no próprio
exército,
quando deveria estar pensando em
primeiro lugar no Brasil. Senhor, sei
quanto o senhor tá eh comprometido com
essas ações ou risco que todos nós
estamos correndo, né, participando dessa
frente. Grande abraço, general.
Mauro Cid informa aos envolvidos que o
presidente Bolsonaro tinha editado a
minuta do chamado decreto golpista para
ganhar apoio dos militares.
O documento autorizaria o cancelamento
da eleição e daria sustentação jurídica
ao golpe.
Ele entende as consequências do que pode
acontecer. Hoje ele mexeu naquele
decreto, ele reduziu bastante, fez algo
muito mais eh direto, objetivo e curto
eitado.
Mas a demora numa decisão do presidente
mexe com os ânimos dos envolvidos no
plano de golpe.
Pô, nós temos já passagens dos comandos
de força e aí, pô, já vamos passar o
comando aqueles que estão sendo
indicados
para o eventual governo do presidiário.
E aí tudo fica mais difícil, cara, para
qualquer ação.
Eu só espero que o silêncio que esteja
acontecendo seja que para que passa
alguma coisa, porque se realmente não
acontecer nada,
a gente vai cair num descrédito
total.
Por nota, a defesa do general Mário
Fernandes disse que ainda não teve
acesso completo ao conteúdo resultante
das quebras de sigilo e que a denúncia
apresenta apenas trechos desconexos.
A mensagem também afirma que o general
Mário Fernandes prestou relevantes
serviços ao Brasil
e demonstrará a sua inocência. A defesa
do tenente coronel Mauro Cid disse que
não vai se manifestar. Procurada pela
reportagem, a ex-ministra e atual
senadora da Maris Alves disse que não se
recorda do episódio em que teria passado
o contato de uma assessora do presidente
Bolsonaro para apurar denúncias de
fraudes na UN controlar quem usa o nome
dela para qualquer que seja o propósito.
Fantástico não conseguiu contato com a
defesa dos demais citados. Nestas
conversas, os envolvidos na trama
apontam os motivos para o fracasso da
tentativa de golpe. Acabei de falar com
Tid, cara. Falou que não vai ter nada,
tá pronto. Só que ele não vai assinar
por conta disso que eu te falei. O alto
comomando tá rachado e não quer, não
quer encampar a ideia. Tá sento, deu
ruim, tá? Acabei de falar com o nosso
amigo lá, falou que não vai rolar nada.
O alto comando não vai topar. A marinha
topa. Mas só se tiver outra força com
ela, porque ela não aguenta a porrada
que não vai tomar sozinha. É aquilo que
eu tinha conversado contigo. Segundo a
Polícia Federal, o grupo sabia das
consequências de dar um golpe sem o
apoio total dos militares. Fó, cara,
pode esquecer. O decreto não vai sair, o
presidente não vai fazer. Só, eu só
faria se tivesse apoio das suas armadas,
que ele tá com medo de ser preso. Falei
com ele agora de manhã.
Neste áudio, um desabafo irritado e
irônico. Reconhece que o plano de um
golpe de estado não deu certo.
Agradeço aí nossos líderes formado
naquela escola de prostitutas, né? E o
presidente não vai embarcar sozinho
porque ele tá com decreto pronto, ele
assina e aí ninguém vai, ele vai preso,
então ele não vai arriscar. E bem-vindos
ao Venezuela.
Domingo, 24 de novembro,
exclusivo Fantástico começa com os
áudios da investigação de uma trama
golpista revelada esta semana. Tem que
debater o que que vai ser feito. Força
que de preto.
Mensagens trocadas entre militares de
alta patente que planejavam tomar o
poder no país depois das eleições de

  1. Vamos nessa. Tô pronto. Força.

Segundo a Polícia Federal, uma
conspiração para matar o presidente
Lula, o vice-Geraldo Alkmin e o ministro
do STF, Alexandre de Moraes.
Neste corredor ficava o gabinete da
Secretaria Geral da Presidência da
República dentro do Palácio do Planalto.
Segundo a Polícia Federal, no fim de
2022, conspiradores prepararam neste
gabinete uma investida contra a
democracia brasileira.
Mário Fernandes, general da reserva e
número dois da Secretaria Geral da
Presidência, usou a impressora do
gabinete. E o que surgiu, revela a
investigação, foi uma trama de morte
para dar um golpe de estado. O plano
punhal verde amarelo.
Qualquer solução, Caveira, tu sabe que
ela não vai acontecer sem quebrar ovos,
né? Sem quebrar cristais.
A investigação afirma: “Foi Mário
Fernandes quem elaborou o documento.
Levou no mesmo dia uma cópia até o
Palácio da Alvorada, onde estava o então
presidente Bolsonaro. A data, 9 de
novembro de 2022, 10 dias depois do
segundo turno da eleição vencida por
Lula. Lá
lá.
O plano prev estratégias militares, o
uso de coletes, a prova de bala e o tipo
e a quantidade de armas necessárias para
ação contra autoridades que só se
movimentam com carro blindado e
segurança policial. Como uma
metralhadora assim que dispara 800 tiros
por minuto.
Um lança granada com quatro granadas que
atinge alvos a 400 m de distância e um
lança rojão que consegue parar até um
tanque de guerra. O planejamento cita
três alvos de assassinato com codinomes
Jeca, Joca e Juca. Para a PF, Jeca é o
presidente da República, Luís Inácio
Lula da Silva. Joca o vice-presidente
Iraldo Alkmin. A polícia ainda não sabe
quem é Juca. O ministro do Supremo
Tribunal Federal, Alexandre de Moraes,
não tem apelido no documento, nem é
citado nominalmente, mas os
investigadores afirmam que ele era o
principal alvo. O ministro poderia ter
sido vítima de sequestro, prisão
arbitrária e até assassinato. Segundo a
PF,
além do general da reserva, Mário
Fernandes, a PF diz que o planejamento
também teve envolvimento direto de
outros militares de alta patente.
Fantástico teve acesso a 55 áudios da
investigação, todos exclusivos. Mário
Fernandes se mostra exaltado em várias
conversas, fala dezenas de palavrões.
Tá na cara que houve fraude. Não dá mais
pra gente aguentar esta. Nesse áudio de
4 de novembro de 2022, ele alega sem
provas que houve fraude na eleição.
Pessoas próximas a Mário Fernandes e
oficiais do exército responderam assim:
“Tô pedindo a Deus para que o presidente
tome uma ação enérgica e vamos sim pro
vale tudo. Eu tô pronto a morrer por
isso.”
O presidente ele tem que fazer uma
reunião petir comitê. Esse pessoal acima
da linha da ética não pode estar nessa
reunião. Tem que ser a rataria, tem que
debater o que que vai ser feito.
A Polícia Federal diz que o plano Punhal
Verde Amarelo detalha as estratégias do
ataque ao ministro Alexandre de Morais,
como a realização de um levantamento
prévio da movimentação dele com horários
e itinerários e das agendas oficial e
pessoal. O plano também estipula a
demanda, a quantidade de pessoas
necessárias para o atentado. No mínimo,
duas equipes com dois homens cada e
outras duas com um homem e um telefone
descartável para cada uma dessas seis
pessoas. Segundo Polícia Federal, um dos
seis responsáveis pela execução do plano
é o tenente coronel Rafael Martins de
Oliveira, integrante dos Kids Pretos, um
grupo de operações especiais do
exército. A investigação revelou que os
executores do plano tinham um grupo num
aplicativo de mensagens chamado Copa
2022, que compraram chips de celular em
nome de outras pessoas e para dificultar
ainda mais a identificação, se chamavam
por países Alemanha, Argentina, Brasil,
Áustria, Gana e Japão, e que Japão era o
tenente coronel Rafael Martins de
Oliveira.
De acordo com a Polícia Federal, o
primeiro alvo do ataque seria Alexandre
de Moraes. Na época, ele era presidente
do TSE, o Tribunal Superior Eleitoral,
e, segundo a PF, passou a ter os passos
monitorados pelo grupo. Por exemplo, no
dia 23 de novembro, das 6:19 da tarde
até 10:30 da noite, Rafael ficou perto
da residência funcional do ministro.
No dia seguinte, 24 de novembro, Rafael
Martins de Oliveira se envolveu num
acidente nesse trecho da BR060.
Tinha chovido e a pista estava
escorregadia. Um carro bateu na traseira
do veículo do militar. Nada grave, mas o
que o motorista, que provocou o acidente
não imaginava é que o nome dele
apareceria nas investigações.
No local do acidente, o militar tirou
esta foto que mostra a carteira de
habilitação do motorista. alegando que
precisava da imagem para acionar o
seguro. Os dados desse documento
serviriam para registrar um dos chips de
celular usados no monitoramento do
ministro. A fraude passaria despercebida
se não fossem esses dedos que aparecem
na foto.
O sistema ele nos trouxe um rol de
candidatos. Então, à medida que o
papiloscopista foi realizando a
comparação morfológica, ele chegou na
identificação daquela impressão digital.
Era mesmo de Rafael Martins de Oliveira.
As investigações concluíram que foi
assim, usando um telefone em nome de
alguém que não tinha nada a ver com a
história, que o militar partiu para o
passo seguinte do plano.
Era dezembro de 2022. Apoiadores
radicais de Jair Bolsonaro estavam
concentrados em frente a quartais do
exército. Muitos pediam golpe de estado,
nem que seja para inflamar a massa, para
que ela se mantenha nas ruas.
Segundo os investigadores, acampamentos
faziam parte de um movimento
orquestrado, principalmente por
militares. O general Mário Fernandes se
comunicava frequentemente com alguns
líderes desses grupos. Talvez seja isso
que o o que a defesa quer.
Tu me desculpa a expressão, mas quatro
linhas é o quatro linhas da
Constituição. É o Estamos em guerra,
eles estão vencendo, está quase acabando
e eles não deram um tiro por
incompetência nossa.
Num outro áudio, o general Mário
Fernandes disse que teve uma conversa
com então presidente Bolsonaro sobre a
diplomação da chapa Luli Alkim no TSE.
Durante a conversa que eu tive com o
presidente, ele citou que, pô, o dia 12,
pela diplomação do vagabundo, não seria
uma uma restrição. Qualquer ação nossa
pode acontecer até 31 de dezembro e
tudo, mas na hora eu disse: “Pô,
presidente, mas o quanto antes? a gente
já perdeu tantas oportunidades.
Não fica claro que ação seria essa. No
dia 12 de dezembro, data da diplomação,
manifestantes tentaram invadir o prédio
da PF e incendiaram carros e ônibus em
Brasília.
15 de dezembro de 2022.
Segundo a Polícia Federal, nesse dia, as
mensagens trocadas entre os integrantes
do grupo Copa 2022 demonstre que os
investigados estavam em campo, divididos
em locais específicos para possivelmente
executar ações para prender Alexandre de
Moraes. A investigação mostra que dois
homens estavam parados neste
estacionamento no Parque da Cidade em
Brasília. O horário 8:33 da noite. A
cerca de 7 km dali próximo ao STF,
estava o tenente coronel Rafael Martins
de Oliveira. Ele avisa: “Estou na
posição”. Um outro estava perto da
residência do ministro Alexandre de
Moraes. Às 8:57 da noite, um integrante
do grupo escreve: “Tô perto da posição.
Vai cancelar o jogo?”
Segundo a PF, o homem que estava no
comando da ação dá ordem, abortar.
Naquele dia, a sessão do Supremo
terminou mais cedo. O que pode ter
atrapalhado o cerco ao ministro
Alexandre de Morais? E uma nova
informação apurada pelo Fantástico pode
explicar por ação não foi concluída.
Nesse mesmo dia, segundo investigadores
da PF, o então comandante geral do
exército foi até o Palácio da Alvorada
para uma reunião com o presidente
Bolsonaro e o resultado dessa conversa
pode ter interferido no plano golpista.
Marco Antônio Freire Gomes foi o
comandante geral do exército entre março
e dezembro de 2022.
Ele disse em depoimento a PF que se
recorda de ter participado de reuniões
no Palácio do Alvorada e que sempre
deixou claro que não participaria de
qualquer ato para reverter o processo
eleitoral. Em outra mensagem, Mário
Fernandes reclama que Bolsonaro não
assinou o decreto do golpe.
Cara, por o presidente tem que decidir e
assinar também. Vai esperar virar uma
Venezuela para para virar o o jogo.
Cara, democrata é
a impressora do gabinete da Secretaria
Geral da Presidência da República volta
a funcionar contra a democracia no dia
16 de dezembro. Segundo as
investigações, o general Mário Fernandes
imprimiu esta minuta num papel timbrado
da presidência com carimbo secreto, bem
grande estampado. São as diretrizes para
a criação, nesse mesmo dia, de um
gabinete institucional de gestão de
crise, formado em sua grande maioria por
militares. Para a Polícia Federal, esse
é mais o indício de que estava em curso
um golpe de estado e o chamado gabinete
de crise governaria o país até a
realização de novas eleições, mas sem
data para acontecer.
Então, meu amigo, partir para cima,
apoio popular é o que não falta. Um
abraço, Caveira. Força.
O plano para matar autoridades diz o
seguinte sobre Jeca, que para a Polícia
Federal trata-se de Lula, considerando a
vulnerabilidade do seu atual estado de
saúde e sua frequência a hospitais,
envenenamento ou uso de química, remédio
que lhe cause um colapso orgânico. A
investigação apontou que o agente da
Polícia Federal, Vladimir Matos, passou
ao grupo que planejava o golpe de
estado, informações sobre a equipe de
segurança e a localização de Lula. No
dia 13 de dezembro, um dia depois da
diplomação do presidente eleito,
Vladimir mandou esse áudio.
Lula estaria ali no prédio, né, do
Meliar. Tem que virar logo. Não dá para
continuar desse jeito não, irmão. Vamos
nessa. Tô pronto.
O plano Punhal Verde Amarelo fala o
seguinte sobre Joca, que seria o
vice-geral do Alkm. Considerando a
inviabilidade do 01 eleito por questão
de saúde, a sua neutralização
extinguiria a chapa vencedora. A Polícia
Federal não tem dúvidas. O plano propõe
os assassinatos de Lula e Alkim. Eu sou
um cara que eu tenho que agradecer agora
muito mais porque eu tô vivo.
A tentativa de me envenenar, eu e o não
deu certo. Nós estamos aqui. A
investigação afirma: “A organização
criminosa tentou criar um ambiente
propício para o golpe de estado
e que os fatos investigados levaram ao
dia 8 de janeiro de 2023, quando
radicais invadiram e depredaram as sedes
dos três poderes.”
Na terça-feira passada, cinco pessoas
foram presas por determinação do
ministro Alexandre de Moraes. Entre
elas, o general Mário Fernandes, o
tenente coronel Rafael Martins de
Oliveira e o policial federal Vladimir
Matos Soares. Na quinta-feira, a Polícia
Federal encerrou a investigação sobre a
tentativa criminosa de manter Jair
Bolsonaro no poder. 37 pessoas foram
indiciadas e nessa lista também constam
os nomes de Mário, Rafael e Vladimir. O
indiciamento também incluiu o general
Braga Neto, candidato derrotado à
vice-presidência na chapa de Bolsonaro e
o tenente coronel Mauro Cid, ex-ajudante
de ordens da presidência. Uma das
acusações, participação deles numa
reunião em 12 de novembro de 2022 na
casa de Braganeto. Segundo a PF, o
assunto foi o plano punhal verde
amarelo. A defesa de Braga Neto repudiou
o que chamou de indevida difusão de
informações relativas a inquéritos.
Ainda na quinta-feira, Mauro Cid prestou
um novo depoimento ao STF. O ministro
Alexandre de Moraes confirmou a validade
do acordo de colaboração premiada de
Mauro Sid, firmada em setembro do ano
passado, e considerou que ele esclareceu
as omissões e contradições apontadas
pela Polícia Federal. A defesa disse que
o ex-ajudante de ordens continua em
liberdade sob a condição de não sair de
Brasília. O ex-presidente Jair Bolsonaro
também foi indiciado pelos crimes de
abolição violenta do Estado democrático
de direito, golpe de estado e
organização criminosa. Durante a semana,
ele reproduziu trechos de uma entrevista
que deu ao site Metrópolis. disse: “O
ministro Alexandre de Moraes conduz todo
o inquérito, ajusta depoimentos, prende
sem denúncia, faz pesca probatória e tem
uma assessoria bastante criativa, faz
tudo o que não diz a lei.”
O suposto plano de morte de Lula e Alkim
deixa uma dúvida: quem seria Juca, outro
possível alvo do grupo golpista? No
texto, a pessoa é descrita assim:
eminência parda do 01. e uma das
lideranças do futuro governo, ou seja,
alguém próximo a Lula e que exerceria
influência nas decisões dele. O plano
diz: “A neutralização de Juca
desarticularia os planos da esquerda
mais radical”. A Polícia Federal não
conseguiu identificar essa pessoa.
Quando nós disputávamos as eleições,
eu dizia que um dos meus desejos era
trazer o Brasil à normalidade,
a civilidade democrática,
em que a gente faz as coisas da forma
mais tranquila possível, sabendo que
você tem adversário político, sabendo
que você tem adversário ideológico,
mas sabendo que de forma civilizada você
perde, você ganha,
Você consegue fazer uma coisa, na outra
vez você não consegue. É esse país. É
esse país, companheiros,
sem perseguição.
É esse país sem o estímulo do ódio. É
esse país sem o estímulo da desavença
que a gente precisa construir.
Um abraço,
boa noite. Olá, boa noite.
Quase todos os dias com milhões de
brasileiros você recebe um telefonema.
Não sei, cara. A gente tá recebendo cara
de Ti. Hacker, cara. Você tem que ver o
que a gente já montou aqui, cara. Depois
tem certas coisas que eu tenho que poder
te contar só depois, né? Eu não bebo
cerveja, mas depois eu te conto as
coisas que a gente já fez aqui. Eh,
cara,
é tudo assim, se o se esse o hacker
mostrar quem foi, por onde entrou e como
entrou,
pronto, aí a gente ainda ganha o jogo.
Mas que ninguém consegue mostrar isso, o
cara mostra o número estatístico. É
suspeito, muito suspeito. Só que aí tudo
bem, como é que o cara mudou isso aí?
Quem mudou isso aí? Como que ele mudou
isso aí? Como ele entrou? Esse que a
gente não tem.
Cara, é muita, é muita denúncia, mas não
é pouca, não é muita. E e matemático,
estatístico, PhD,
eh eh aquelas eh denúncias eh sigilosas,
vai encontrar o cara no mercadinho, vai
encontrar o cara na garagem, o cara
passa um pen drive, tem de tudo, cara.
Mas nem ninguém ainda chegou com uma
coisa que me que fale que que consiga
abrir uma investigação,
entendeu? É complicado, cara. É
complicado. E e vou dizer,
99,9%
das coisas até agora você consegue
refutar quando você pega. Você não, isso
aqui é por causa disso, disso, disso.
Isso aqui é por causa disso, disso,
disso. Isso aqui não bem assim porque
tem outros fatores que não é só o
numérico, né? E aí você começa a ver
realmente aí o cara, o outro cara
justifica. Não, eh, isso que aconteceu
realmente assusta, mas aconteceu por
causa disso, disso, disso, né? A gente
tem cara infiltrado em tudo quant lugar,
monitorando e passando pra gente as
informações, refutando ou ou ou ajudando
a a
instigar, né, digamos assim. Bom dia,
general. Sei que o momento não é o
apropriado, mas só para atualizar o
senhor, o presidente vem sendo
pressionado aí por por vários atores a
tomar uma medida mais radical, né? Mas
ele ainda tá naquela linha do que foi
discutido, que foi conversado com os
comandantes, né? E com o ministro da
Defesa. Ele entende as consequências do
que pode acontecer. Eh,
hoje ele ele ele ele ele mexeu naquele
decreto, né?
ele reduziu bastante, fez algo muito
mais eh direto, objetivo e curto e
limitado, né?
Eh, e acho que a ideia de falar com o
general Teófilo é conversar como ele,
né, ele tá muito preso no no Alvorada,
então é uma maneira dele desabafar e
falar um pouco dele tá pensando. e ouvi
eu, né, alguém que
não que possa dar uma solução, mas que,
né, e eu acho que se não,
eh, se não botar pilha, digamos assim,
né, se não botar lenha na fogueira, né,
ele ele mantém ali a aquela linha que
tava sendo que tá sendo tomada
inicialmente.
Boa tarde, general. Só para atualizar o
senhor, o que vem acontecendo é o
seguinte. O presidente tem recebido
várias pressões para tomar uma medida
mais pesada, obviamente, utilizando as
forças, né? Mas ele sabe, ele ainda
continua com aquela ideia que ele saiu
da última reunião, mas a pressão que ele
recebe é de todo mundo, né? Ele tá é
cara do agro, são alguns deputados, né?
Eh, né? Então, a pressão que ele tem
recebido é muito grande. Eh, hoje o que
que ele fez hoje de manhã? ele enxulgou
o decreto, né, aqueles considerantes que
o senhor viu, e enxugou o decreto, fez
um decreto muito mais eh eh resumido,
né? E e o que ele comentou de falar com
o Genel Teófilo, na verdade ele quer
conversar, ele gosta, ele gosta de bater
papo, né? Eh, acho que de alguma forma
como ele tá sem sair do alvorada, como
ele tá preso no alvorada ali, é uma
maneira que ele tem de
de desopilar ou de de de
tocar paraa frente, porque se não for,
se a força não incendiar,
eh, a, o status core mantém aí como o
que tava previsto, o que tava sendo
feito, o que tava sendo levado nas
reuniões em consideração.
Que que tá rolando aí, velho? Eu falei
com o Cid hoje, o Sid falou: “Porra, vai
esquecer que não vai rolar nada não”. Eu
falou: “Cara, pode esquecer. Não,
não deve.
O decreto não vai sair, presidente não
vai fazer. Só só faria se tivesse apoio
das suas armadas, porque ele tá com medo
de ser preso. Se acontecer alguma coisa,
vai ser preso e caramba e tal. Não, não
vai soltar nada não. Falei com ele agora
de manhã. Que que tá acontecendo?
Novidade aí,
Renata, investe um tempinho. Eu ouve o
Olavo de Carvalho nesse nesse vídeo aí,
tá?
Ah,
eh, lógico, ele fala um monte de
besteira, né, como sempre, né, ele é
radical direita, né? Eu não gosto muito
dele, principalmente quando ele fala mal
dos militares.
Hum.
Mas fora o que ele vai falar mal dos
militares, ele vai falar, ele vai
descrever aí uma manobra a ser
realizada,
né? P, esse cara já morreu tem tempo,
mas enfim. O que ele falou é válido, tá?
Então assim, primeira coisa, se tu tiver
alguma
eh,
eu falei, né?
Eu avisei, né?
Avisei, né?
Possibilidade de influenciar alguém dos
movimentos? Eu creio que não, mas eh eu
tô tentando plantar isso nas redes onde
eles estão. Tô participando de vários
grupos civis. Tô falando, não adianta
protestar na frente do QG do exército,
tem que ir pro Congresso porque o
executivo é envolvido, o judiciário não
vai fazer nada. Então só sobrou o
legislativo e as forças armadas vão agir
por iniciativa de algum poder e o
mecanismo de pressão, porque assim, todo
mundo quer forças armadas, por quê? Quer
um mecanismo de pressão chamado arma,
né? Apontar, botar arma na cara do do do
supremo. Mas não é isso que resolve. a
gente tem que ter um outro mecanismo de
pressão, o mecanismo de pressão
econômica, que é a greve, a paralisação,
né, que já tá anunciada, só que aí leva
um tempo ali para isso se fortalecer,
né? Esses vídeos aí do do que estão
saindo do da fraude da urna são bons
porque mantém o povo mobilizado, só que
assim, eles estão com foco errado, tá?
Entendo que pelo Brasil todo eles
estejam na frente dois, mas em Brasília
especificamente eu acho que é a única
cidade onde esse foco tem que ser mudado
e tem que ir pro Congresso Nacional e
não no queijo do exército, porque assim,
as forças armadas não agirão para
iniciativa própria, ponto isso é
pacífico. Então, algum outro poder, né?
Eh, esse mecanismo de greve, né? Pô, o
pessoal que é investidor, os grandes
investidores brasileiros, quem tem muito
dinheiro, vai pressionar o Congresso com
certeza, porque eles é que financiam o
partido e tudo mais. Vai dizer para os
caras: “Ó, vocês arrumaram essa esse
essa porcaria, agora vocês vão limpar
essa M que vocês fizeram, tá? Então, e
aí é a hora que, vamos dizer assim, não
sei se vai chegar a entrar em convulsão
social ou não, e a hora que as forças
armadas entrariam. E aí a gente não,
para para apaziguar, a gente resolve eh
destituir a invalidar a a eleição,
colocar voto impresso, fazer uma nova
eleição com sem Bolsonaro. Aí não sei.
Muita gente fala: “Não, ele não pode
entrar porque aí é a serraria esquerda”.
Eu acho que ele tem que entrar porque
ele não fez nada de errado. Mas enfim,
isso é um outro problema para realizar,
para resolver. Mas assim, e é um
caminho, é um caminho viável. Asadas não
vão ter iniciativa. Isso aí tu sabe
muito bem, pô. Tu é filha de militar, tá
casado com militar, tu sabe disso, tá?
Eh, embora a panela de pressão esteja
grande nos quartéis, mas acho que a
gente tem que tentar direcionar o povo
para que eles vão lá para o Congresso. É
isso.
Gente, isso isso são pessoas indo embora
ou pessoas chegando?
Como que a segurança pública deixou que
isso acontecesse?
Já viu diversas mensagens e vídeos
falando sobre isso antes.
Não seguraram.
Não tem como segurar.
A galera já tá no congresso. Já tá no
congresso.
Bora.
Não, não. A gente não vai entrar. A
gente vai invadir
a casa do povo. Estamos dentro. Somos
dentro.
Domingo, 8 de janeiro de 2023, o mundo
para tentar entender o que acontece em
Brasília.
Não
era um grupo de manifestantes qualquer.
Entender as raízes do que aconteceu
naquele dia em Brasília não é tarefa
simples.
O 8 de janeiro é resultante da mistura
entre fenômenos globais e mais de uma
década de mudanças e momentos de
inflexão na política e na sociedade
brasileira.
Mais um ponto importante na linha do
tempo é o dia 30 de outubro de 2022,
quando Jair Bolsonaro perde a disputa
pela reeleição e uma série de notícias
falsas leva milhares de pessoas às
portas de quartéis em todo o país. Na
noite daquele domingo, mensagens
compartilhadas nas redes sociais
acusavam sem provas que a vitória de
Luís Inácio Lula da Silva era uma fraude
e diziam que o presidente Bolsonaro
poderia invocar o artigo 142 da
Constituição para pedir uma intervenção
militar e reverter o resultado das
urnas.
Os brasileiros têm 72 horas para sair
nas ruas e pedir o artigo 142. O
presidente não pode nem pensar em
cogitar uma coisa dessa, senão será
acusado de golpe. É o povo que tem que
pedir. Temos três dias para tentar
salvar o país. Vamos ver qual é a reação
das Forças Armadas.
A fake news do artigo 142, assim como a
da fraude na urna eletrônica, não nasce
nas eleições de 2022. Ela já havia sido
mencionada por Bolsonaro em 2020 e desde
essa época constitucionalistas têm
reiterado que em nenhum trecho o artigo
autoriza uma intervenção militar. O STF
inclusive já se manifestou em 2020 por
meio de um eliminar declarando que os
militares não têm a prerrogativa de
exercer a função de poder moderador e um
cenário de conflito entre executivo,
legislativo e judiciário.
Artigo 14. Nós queremos cumprir o artigo

  1. Todo mundo quer cumprir o artigo com
    a 2. Emcidade. Qualquer dos poderes
    pode, né, pedir as Forças Armadas, né,
    que intervenham para restabelecer a
    ordem no Brasil ou naquele local, sem
    problema nenhum. Em paralelo, Bolsonaro
    não reconhece a derrota e o silêncio do
    presidente alimenta outra notícia falsa,
    a de que ele precisaria ficar calado por
    72 horas, enquanto as pessoas fossem
    espontaneamente paraas ruas para que
    pudesse pedir uma intervenção militar
    sem ser acusado de tentativa de golpe.

Frente ao quartel general.
Bolsonaro faz o primeiro pronunciamento
mais de 40 horas depois do Tribunal
Superior Eleitoral confirmar o
resultado, o que não é praxa entre
candidatos derrotados.
OK, posso começar?
e não reconhece formalmente que perdeu a
eleição. A essa altura, seus apoiadores
já haviam bloqueado rodovias pelo país.
Os atuais e movimentos populares são
fruto de indignação e sentimento de
injustiça de como se deu o processo
eleitoral.
As manifestações
pacíficas sempre serão bem-vindas,
mas os nossos métodos não podem ser os
da esquerda, que sempre prejudicaram a
população, como invasão de propriedades,
destruição de patrimônio
e cerciamento do direito de ir e vir.
A direita surgiu de verdade em nosso
país.
Quem fala sobre transição de governo é
seu ministro da Casa Civil, Ciro
Nogueira, que só se pronuncia depois que
Bolsonaro deixa o local da entrevista.
O presidente Jair Messias Bolsonaro me
autorizou quando for provocado com base
na lei, nós iniciaremos o processo de
transição.
A fala ambígua de Bolsonaro, que de um
lado condena o fechamento de vias, mas
de outro justifica os movimentos como
fruto de indignação e sentimento de
injustiça com o processo eleitoral, é
interpretada por muitos apoiadores como
um aval ao que vem como uma resistência.
As 72 horas da fake news espalhada no
dia da eleição passam, mas a tese que dá
sustentação a ela vai sendo renovada e
os acampamentos em frente aos prédios do
exército ganham fôlego. O de Brasília,
que ficava aqui em frente ao quartel
general do exército, vai se tornar um
dos maiores do país.
A gente chegou e veio o bac da
estrutura, porque as pessoas vinham
extremamente preparadas. Era uma época
que chovia muito em Brasília e então as
pessoas traziam lona para conseguir eh
dar suporte pra barraca. As pessoas
trouxeram estruturas de alimentação,
banheiro químico, tenda, palco, eh,
gerador de energia.
Ana é jornalista, produtora da TV Globo
no Distrito Federal e durante quase 70
dias frequentou o acampamento
disfarçada. Ela vem sofrendo ataques na
internet e pediu para não ser
identificada.
Então tinha uma estrutura muito grande e
foi quando a gente percebeu que ninguém
tinha ido para passar um dia ou dois.
Era de fato para ficar. A gente só não
sabia até quando e para quê.
Me fala um pouco sobre o que você chamou
de tenda dos youtubers.
Essa tenda, ela foi montada algumas
semanas depois que a estrutura de
acampamento já tinha sido feita. E aí a
primeira coisa que surpreendeu foi que
tinha muito equipamento dentro dessa
tenda. Então, a gente via computadores
de edição grandes, câmera, eh gerador de
energia, roteador de internet, para eles
conseguirem eh ter um suporte mesmo
técnico, operacional de câmera,
fotografia, internet, iluminação, tudo.
Afonso é colega da Ana na Globo e também
trabalhou na cobertura do acampamento.
Uma das coisas que eu sempre falei para
meus colegas foi a quantidade de comida
e
a barraca do agro, onde eles fornecem
várias refeições. De carido mais de uma
tonelada,
mais de uma tonelada de car. Então
divulga esse vídeo o máximo que você
pode e diz: “Vem pra Brasília porque a
guerra começou”.
A questão até para carregar o o os
celulares, eles faziam tipo uma
gambiarra, tinha ali atrás um uma
espécie de tomada que eram várias
tomadas assim. um ponto. Então eles
faziam praticamente uma fila para poder
carregar eh o celular.
No saquinho e na garrafinha você deixa
seu celular. Hoje tem três geradores e
pelo menos
200 tomadas penduradas aqui.
Tinha um palco aqui também.
Tinha. Tinha um palco, era um palco
improvisado.
Eu quero fazer uma convocação para
vocês.
A pessoa pedia local de fala, subia numa
ordem que se escrevia no caderninho e
você conseguia falar, fazer o que você
quisesse. Mas era onde eles arrecadavam
dinheiro, noticiavam, por exemplo,
quantas pessoas estavam aqui, se chegava
uma cidade nova, um ônibus de uma cidade
nova, o horário dos caminhões, onde eles
falavam horários de marcha, enfim, o
palco era o a central de notícias deles,
digamos assim. Teve dias aqui de quando
que a gente tava de fato muito cheio,
que eu mesma vi R$ 5.000 serem
arrecadados em coisa de 30 minutos.
E daqui a pouco eu subo aqui para falar
quanto a gente arrecadou. Amém.
E dinheiro vivo, eles não pediam muito
Pix assim. Então eles pegavam uma
bandeira, transformavam a bandeira como
se fosse numa numa comumbuquinha e as
pessoas jogavam o dinheiro ali e eles
iam falando quanto que arrecadou. Aí
assim, embora R$ 5.000 pareça um valor
expressivo, pra estrutura que tinha
aqui, pra alimentação que tinha aqui,
pra quantidade de pessoas que tinha
aqui, não é suficiente. Eles tinham uma
rotina muito bem definidinha, na
verdade. Então assim, de manhã tinha um
horário do hino nacional, aí depois do
horário do hino nacional eles formavam
pelotões e marchavam como se eles fossem
militares por estarem na frente do QG.
Então cumprimentavam soldados que
passavam, ficavam numa estrutura de
marcha. Aí depois tinha o horário das
refeições, à tarde tinha o horário que
todo mundo ia para onde os caminões
estavam estacionados, que eles faziam um
buzinaço, que era para tentar fazer
barulho, chamar a atenção da imprensa e
aí todos se reuniam ao redor dos
caminhões, ficavam aplaudindo.
E aí eles tinham também um minuto de
silêncio que eles faziam vez ou outra em
homenagem ao ex-presidente.
E quem eram as pessoas que estavam aqui?
Que tipo de gente você encontrou?
A gente via de fato gente de diferentes
cantos do país. Vi também gente
diferentes idades. Não tinha só idoso,
não tinha só jovem, era uma coisa muito
misturada.
Muitos patriotas aqui,
muita gente aqui, brother.
Impressionante.
E olha o que eu saí daqui ontem, 6 horas
da tarde, ó. Para aí, gente, ó a
quantidade de barraca.
Mas assim, eu vi poucas famílias. O que
a gente viu eram pessoas sozinhas que
ficavam andando por aqui. Tinha as
pessoas aqui eram pessoas sozinhas que
pegaram às vezes carro, barraca, botaram
no carro e vieram e que estavam com uma
expectativa de que algo acontecesse
aqui, de encontrar o seu grupo aqui, um
núcleo que pensasse igual, enfim, mas
eram pessoas mais solitárias e classe
média.
58 milhões de brasileiros votaram em
Bolsonaro no segundo turno de 2022. 2
milhões a menos que Lula. e esse grupo
adverso. Uma parte é essencialmente
antipetista, outra votou pelo discurso
liberal de seu ministro da economia. Uns
se identificavam com a pauta de costumes
conservadora e outros com a própria
figura do capitão reformado.
A pesquisadora Ângela Alonso é livre
docente do departamento de sociologia da
Universidade de São Paulo.
É essa minoria no fim das contas que são
uma coisa em torno de 15%. entre oscila
entre 15 e 20% desde a hora que ele foi
eleito até a hora que ele saiu, que são
aqueles que eh eu até num artigo chamei
de bolsonaristas de coração, porque eles
têm uma aderência que não é racional
puramente, é um tipo de adesão emotiva a
esse líder.
E aí não, eu não acho que tem a ver com
o fato de que ele tá produzindo algum
tipo de lavagem cerebral ou qualquer
coisa assim. É porque tem uma uma grande
coincidência de crenças.
Cada um dos grupos que votou em
Bolsonaro é mais ou menos receptivo ao
seu discurso. Mas essa comunicação tem
uma particularidade do século XX. as
redes sociais que t protagonismo nesse
enredo. Foi através delas que, por anos,
bolsonaristas radicais conseguiram
disseminar desinformação e notícias
falsas de forma sistemática.
É um uso estratégico, né? Não é um uso
puramente eh instrumental de de
transmitir alguma coisa que já tá tá
pré-definida. Eu acho que eles foram
muito eh bem-sucedidos nisso. E tem uma
outra coisa importante com imagem que é
o uso das emoções
e assim do que se comunica e como se
comunica. essa maneira enfática de
falar, por exemplo, que que dá um
sentido de urgência, né, de até um pouco
a produção às vezes de um certo pânico
em torno de um certo eh assunto. Então,
tem uma forma de transmissão da da
mensagem que ela própria vai mantada,
né, de de conteúdo.
Assim como em 2018, a desinformação
atravessou o ciclo eleitoral de 2022. No
primeiro turno pro segundo, a gente
percebia que havia uma estratégia muito
clara de propagação de fake news. E aí
isso era mais difundido nos grupos que
tinham um teor mais de direita. Eles já
tinham uma estrutura de como fazer isso
e faziam com muita consistência.
Luiz Facuri e Felipe Bailei são
fundadores da empresa de tecnologia
Power, uma plataforma de escuta social
que monitorou mais de 15.000 1 grupos de
WhatsApp durante as eleições. A empresa
fez parte de forma voluntária de uma
força tarefa contra desinformação
organizada pelo TSE,
porque antes era uma confiança muito
grande de que eles venceriam as eleições
e que era impossível do Jairo Bolsonaro
perder. E caso perdesse, isso indicaria
uma fraude no sistema eleitoral. Até
isso já havia alguma alguns indicativos
de vídeos pedindo código fonte da
participação do exército dentro da da
auditoria do processo eleitoral. Então,
já havia diversas mensagens e vídeos
falando sobre isso antes. Quando o Lula
vence as eleições no dia 31, o tom muda
bastante. As pessoas começam a falar
sobre um ato golpistas, sobre fechamento
de de estradas para tudo, que as
eleições foram vencidas não pelo Lula,
mas pelo judiciário. Então esse tom
ganha uma uma força muito grande nas
redes. E aí os grupos antidemocráticos
começam a surgir a partir daquele
momento, logo no primeiro dia.
Assim como a adesão à retórica de
Bolsonaro varia entre seus eleitores, o
significado das convocações para ação
também muda de um grupo para outro.
Então a gente havia grupos que falavam
em pacificação, em atos pacíficos, em
ficar na frente dos quartéis pedindo uma
um acionamento do artigo 142, enquanto
outros grupos já partiam para uma tomada
mais radical de poder. Mas nos grupos
radicais, isso desde o primeiro momento
já havia uma chamada mais forte, uma
chamada que a gente tem que tomar o
poder por nós mesmos. Eles não
acreditavam tanto nessa eh vinda das
Forças Armadas. Era mais uma coisa, a
gente tem que fazer alguma coisa e esse
ato tem que acontecer.
Estamos todo mundo aqui junto.
Dependendo de vocês, cara. Vem para cá,
vem para cá,
vem para cá. Cada um fazendo sua parte.
Gente, melhor. Vem, vem.
Quanto mais gente melhor, por favor,
pelo Brasil.
A violência retórica vira violência
política. Em 12 dezembro, o Jen Lula é
diplomado, ou seja, quando recebe
formalmente do TSE o título de
presidente eleito.
No dia em que Lula é diplomado,
Bolsonaro cumprimenta apoiadores no
Palácio da Alvorado. Mas fique em
silêncio.
À noite, Brasília sofre uma série de
atos de vandalismo.
Bolsonaristas tentam invadir a Polícia
Federal e atacam uma delegacia. É o
primeiro de uma série de episódios que
em menos de um mês vão desaguar na
invasão e destruição dos prédios dos
três poderes.
Em 24 de dezembro, um artefato explosivo
é encontrado perto do aeroporto de
Brasília.
No dia 28, a Polícia Militar do DF chega
a tentar desmontar o acampamento, mas
recua e interrompe a operação.
Agora isso, fizeram, estão saindo,
estão saindo.
Os agentes são recebidos com hostilidade
e depois de uma ordem do exército, a
operação é interrompida. Dois oficiais
da PM, o coronel Jorge Eduardo Naim
Barreto e o ex-comandante Fábio Augusto
Vieira, disseram em depoimentos que o
exército impediu pelo menos três
iniciativas da Polícia Militar para
desmobilizar o acampamento. As forças
armadas não se manifestaram sobre esse
assunto e, em nota, afirmaram que a
ordem para suspender a desmobilização em
dezembro fora dada no intuito de manter
a ordem e a segurança de todos os
envolvidos. Em 30 de dezembro, Bolsonaro
deixa o país, viaja pros Estados Unidos
em um avião da Força Aérea Brasileira.
Ele se recusa a passar a faixa
presidencial para Lula na cerimônia de
posse.
Como foi difícil
ficar dois meses calado, trabalhando
para buscar alternativas?
Lula é empoado no dia 1o de janeiro de

  1. Já Bolsonaro mantém nas redes
    sociais sua descrição como presidente do
    Brasil e candidato à reeleição e segue
    publicando conteúdo sobre as ações de
    seu governo.

No sábado do dia 7 de janeiro, pelo
menos 100 ônibus trazendo apoiadores de
Bolsonaro chegaram a Brasília.
Chegando mais outro ônibus lá pra
frente, ó. Gente aqui, tem que vir
muita.
A polícia não deixou ontem, mas a
polícia não conseguiu segurar os ônibus
que tá chegando. Ó, a todo instante
chegando ônibus aqui no QG de Brasília.
Eu moro aqui no sudoeste, que é um
bairro vizinho à Praça dos Cristais.
Então eu passo aqui com bastante
frequência. Eu passava por aqui mais de
uma vez por semana, porque é uma maneira
de cortar caminho para eu ir pro
Hospital Universitário, onde eu faço o
acompanhamento de saúde.
Ana Carolina Rocha é funcionária pública
e assistiu às diferentes fases do
acampamento.
tinha sempre eh um carro de som eh
dizendo palavras de ordem ali e e aí com
o tempo essas tendas daqui da beira
foram virando comércio. Então começaram
a ter faixas, barbearia do fulano,
lanche da ciclana e etc. Então foi
virando um comércio aqui na frente e
muita gente, muita gente durante o dia,
faça sol, faça chuva,
literalmente,
literalmente, na madrugada do dia 7 pro
dia 8, eu tinha saído, eh, passei aqui
no eixo monumental, aqui na beira da
Avenida do Exército, e eu vi de
madrugada, bem no meio da madrugada,
ônibus chegando com gente, descendo com
gente. Que que a senhora pensou?
Naqu no primeiro momento eu parei e
olhei assim e falei assim: “Gente, isso
isso são pessoas indo embora ou pessoas
chegando?” As pessoas estavam chegando e
de diversas partes do país. A convocação
tinha circulado dias antes pelas redes
sociais.
A gente vai fazer uma concentração lá no
QG para pra gente conseguir
reunir todas as pessoas pro plano B, OK?
A partir do dia 3 de janeiro, a gente
percebe que muitos vídeos começam a
aparecer de pessoas reunidas no queijo
de Brasília e fazendo uma convocatória
para que outro outros manifestantes
pudessem do Brasil inteiro pudessem ir à
Brasília e que lá aconteceria um grande
ato. E aí no dia 5 isso se torna muito
forte, muitos vídeos sendo
compartilhados de ônibus chegando, de
caravanas chegando. Aquela altura, as
autoridades já sabiam que havia
possibilidade de manifestações em
Brasília. Às 10 da manhã do dia 6 de
janeiro, representantes de pelo menos 10
órgãos haviam se reunido para planejar o
esquema de segurança do domingo. O
receio de uma invasão em Brasília não
era exatamente novo. Dois anos antes, em
6 de janeiro de 2021, apoiadores de
Donald Trump tinham invadido o
Capitólio, coração do Congresso dos
Estados Unidos. Também lá eram
seguidores de um presidente derrotado,
inconformados com o resultado nas urnas,
inflamados por notícias falsas e meses
de acusações de fraudes sem provas.
Diante das muitas coincidências, muitos
viam, no caso do Capitólio, um prenúncio
do que podia acontecer no Brasil.
O ministro da justiça, Flávio Dino,
estava trabalhando em Brasília naquele
domingo e assistiu aos ataques das
janelas de seu gabinete, que fica de
frente pra Praça dos Três Poderes. Foi
lá que nós conversamos no fim daquele
janeiro. Obviamente todo mundo sabia que
haveria manifestações, todo mundo sabia
porque havia ampla divulgação na
internet e houve uma preparação similar
àquela que foi feita para posse, levando
em conta as competências constitucionais
de cada um dos órgãos de segurança
pública.
Cerca de 8.000 1 agentes haviam
trabalhado no esquema de segurança da
posse de Lula poucos dias antes. Esse
número cai para menos de 400 no 8 de
janeiro, efetivo considerado pequeno pro
volume de gente que havia chegado à
Brasília nos dias anteriores.
Como essa é uma cidade com status
especial, Distrito Federal, o
planejamento de segurança para
manifestações é particular. envolve
tanto órgãos ligados ao Ministério da
Justiça quanto a Secretaria de Segurança
Pública do DF com competência estadual.
Portanto,
naquele momento, o governador era Ibanês
Rocha e seu secretário de segurança,
Anderson Torres, ex-ministro da justiça
de Bolsonaro. Ele assumiu novo cargo em
2 de janeiro e logo depois viajou de
férias aos Estados Unidos.
Antes de deixar o Brasil, o ex-ministro
de Bolsonaro exonerou dois funcionários
que ocupavam cargos centrais na
estrutura de planejamento e coordenação
da pasta, o secretário executivo de
segurança pública e o subsecretário de
inteligência. Eles foram substituídos,
respectivamente, por Fernando de Souza
Oliveira e Marília Ferreira Alencar. Em
depoimento, no início de fevereiro,
Torres afirmou que essas foram as únicas
pessoas que ele trouxe de sua antiga
equipe do Ministério da Justiça para
ocupar funções de relevância na
secretaria. A ata da reunião de 6 de
janeiro mostra que os comandantes da
segurança tinham percepções diferentes
sobre o risco de manifestações.
Enquanto um diz que não havia consenso
sobre o alcance das convocações, que
havia inconsistência sobre o
deslocamento de caravanas paraa
Brasília, outros se mostravam mais
preocupados, inclusive com risco de
ações violentas isoladas.
Como de pra do encontro sai um protocolo
de ações integradas.
O protocolo, ele não é só um papel onde
você coloca as decisões que foram
consensuadas,
assina e pronto. E diz assim: “Eu
determinei que as providências fossem
adotadas, né? Não é só criar um foguete,
né? Você precisa monitorar isso, porque
se você não monitora, esse foguete não
sai de chão. Tânia Pink é pesquisadora
associada do laboratório de análise da
violência da ERGE, trabalhou por 25 anos
na Polícia Militar do Estado de São
Paulo, é major da reserva.
É, é, é muito provável que grande parte
do que estava previsto no protocolo não
tenha sido colocado em prática. Isso é
um problema no fluxo de comunicação,
porque quando você eh você precisa fazer
com que a informação ela chegue no lugar
certo, na hora certa. E e para isso você
precisa monitorar. Ela explica que o
planejamento das operações para
manifestações geralmente acontece no
médio escalão dos órgãos de segurança. E
aqui há dois pontos chave. a predição do
risco, ou seja, entender o grau de
ameaça que o evento representa e o
diálogo com o alto escalão para que se
possa estabelecer uma comunicação entre
diferentes agências envolvidas e
coordenar as operações.
É importante eh levar em consideração
que tudo isso tá acontecendo dentro de
um contexto de transição de governo.
Então, o que que pode ter acontecido que
acabou interrompendo ou descontinuando
esse fluxo de comunicação?
Levei essa pergunta ao ministro da
justiça, Flávio Dino.
Houve eh relatos do então secretário de
segurança em exercício no Distrito
Federal ao governador e o governador me
passava no sentido de que tudo estava
planejado, organizado, que não havia
risco, etc. E claro que a cadeia de
comando era essa. Muita gente pensa que
aqui, por ser o Ministério da Justiça e
Segurança Pública, eu posso mandar na
PM. Não, quem manda na PM é o governador
do Distrito Federal, assim como os
governadores dos estados. Muita gente
pensa que a Polícia Federal pode ser
posta para fazer policiamento oftensivo.
Não pode, legalmente não pode. Eh,
algumas pessoas acham que a polícia
rodoviária federal, pode simplesmente
aprender ônibus porque quer aprender.
Não, só é possível aprender se houver
alguma ilegalidade eh pré-existente, uma
ilegalidade configurada. Então, é claro
que o que nos cabia diante daquela
circunstância pública, notória, que
todos sabiam que haveria manifestações
aqui, era exatamente dialogar com as
autoridades do Distrito Federal e isso
foi feito intensamente. Parte desse
diálogo foi registrado pelo ministro em
suas redes sociais, inclusive um ofício
alertando o governador Ibanês Rocha
sobre intensa movimentação de pessoas
que inconformadas com o resultado das
eleições 2022 estão organizando
caravanas de ônibus para se deslocarem
até Brasília. O governador também se
manifesta publicamente no sábado e em
tom mais a meno da entrevista, dizendo
de forma vaga que a manifestação no
domingo estaria liberada desde que fosse
pacífica. Ele ficou 64 dias afastado do
cargo e é investigado no inquérito que
apura as responsabilidades pelo que
aconteceu naquele domingo. A BBC News
Brasil procurou para uma entrevista e um
de seus advogados respondeu dizendo que
ele não se manifestaria. Também
procuramos a PM do Distrito Federal e as
forças armadas que não responderam
nossos pedidos de entrevista.
Amanhã do dia seguinte, 365 policiais
militares e 30 policiais legislativos se
encaminham para dar plantão na eslanada
dos ministérios.
a a nossa inteligência, né, em conjunto
com a com a inteligência das outras
forças, eu percebo nos passá de que os
ânimos estavam acirrados e que poderia
sim acontecer alguma situação.
Adilson Pais é diretor da coordenação de
segurança orgânica do Departamento de
Polícia Legislativa. Mais tarde, naquele
dia, ele passaria 3 horas ao lado dos
colegas, em confronto direto com o grupo
que invadiu a Câmara dos Deputados.
O que a gente tinha essas informações,
mas a gente não tinha dimensão de que
haveria aquele aquela quantidade de
pessoas descendo ao mesmo tempo. Começou
a marcha para o Congresso Nacional.
No domingo à 1 da tarde, uma multidão
sai daqui do local onde o acampamento
estava montado, rumo à Praça dos Três
Poderes.
Histórico.
Um momento histórico aqui, certo?
A galera
é, meu filho, agora ninguém para mais
não.
À 1:23, o secretário de segurança
pública em exercício, Fernando de Souza
Oliveira, nomeado por Torres Diasantes,
manda um áudio ao governador do Distrito
Federal dizendo que está tudo bem.
Governador, bom dia. Delegado Fernando
falando, tá? O clima bem tranquilo, bem
ameno, uma movimentação bem bem suave e
a manifestação totalmente pacífica. Até
agora nossa inteligência tá monitorando,
não há nenhum
informe de questão de agressividade
ligada a a esse tipo de comportamento.
Enquanto descem a explanada dos
ministérios, os manifestantes são
escoltados pela polícia.
Quem também estava trabalhando naquele
dia era Afonso, jornalista que
frequentou o acampamento nos dois meses
anteriores. Eu lembro que eu tava
sentado próximo ao ministério, aí uma
pessoa chegou e falou assim: “Ó, o
pessoal do QG tá descendo, tá descendo,
a gente a gente vai entrar”. Aí a pessoa
falou: “Não, a gente não vai entrar, a
gente vai invadir”.
Você ouviu isso?
Isso. E aí
aquilo já me deu um alerta.
São quase 8 km até a entrada do
Congresso. Quando os invasores chegam
aqui, eles encontram uma barreira de
proteção e alguns agentes policiais.
aquela contenção, aquela linha de
contenção, eh, não é para para conter um
público que tá disposto a praticar atos
violentos, é muito mais para conter um
grupo pacífico, né? Então você vê a
fragilidade da contenção, uma única
contenção ali e também o equipamento que
os policiais estavam portando, né?
Então, não tinha escudo, não tinha o
equipamento antitumulto. Então, os
policiais estavam muito vulneráveis ali
também. Às 2:42,
a barreira é rompida. Começam as 5 horas
de destruição que deixariam o 8 de
janeiro marcado na história.
A primeira linha de PMs tenta conter os
invasores com gás de pimenta, uma
estratégia que praticamente não surte
efeito.
Em pouco tempo, a área aqui do gramado
do Congresso está tomada. Eles sobem a
rampa, ocupam o teto, quebram vidros e
invadem o prédio.
Bora descer,
bora descer. Na hora de descer.
Não seguraram, não tem como segurar.
A galera já tá no congresso. Já tá no
congresso.
Bora.
Mais próximo do Congresso, há uma
segunda linha de contenção da Polícia
Legislativa ligada aos órgãos policiais
da Câmara e do Senado.
Neste momento que eles romperam a linha
e tomaram ali o gramado, a gente já
começou a lançar algumas algumas bombas
de efeito moral.
Onde você tava nesse momento?
Nesse momento eu estava na rampa, na
rampa do Congresso.
Você viu então a quebra da barreira?
Vi a quebra da barreira, vi tudo, né? A
primeira atuação realmente foi da minha
linha de poliçamento, né? estava ali na
rampa. Então a gente começou a lançar as
granadas de efeito moral, só que a gente
viu que tava não tava surtindo quase
efeito por conta da posição do do do
vento, né? O vento tava contrário a
gente e por conta da quantidade de
pessoas e descendo correndo, né? Eles
desceram de uma forma tão rápida que
eles gastaram 40 apenas 40 segundos até
chegar a rampa, né? E a partir disso eu
fui para mais paraa lateral da ali
próximo ali a a o espelho d’água para
tentar conter o pessoal que tava
descendo para a Chapelaria que era um
grande acesso ali com uma área muito
grande de vidros. Eu não tinha
policiamento ali,
né? E aí a outra linha que tava na
cupla, né? Ela ia me cobrir para impedir
que as pessoas subissem pela rampa. Só
que realmente foi uma quantidade absurda
de de pessoas e tudo. E logicamente que
nem o efeito do gás assim, o efeito
mínimo ou quase nenhum efeito, né? Eram
30 os policiais legislativos de plantão
naquele domingo. Outros 70 estavam de
sobreaviso. Esse era o esquema, segundo
Adilson Pais, que o Depol vinha
mobilizando desde o início do
acampamento. Depois da invasão, todos os
que estavam de sobreaviso se juntaram
aos colegas na explanada.
E aí, naquele ponto onde a gente estava,
tinha uma viatura. a gente sempre coloca
a viatura ali para dar um suporte maior
pra gente. Só que nossos policiais,
realmente eh o o esses invasores
chegaram tão rápido que eles não
conseguiram sair. E aí quando os
manifestantes invasores chegaram até até
a a viatura, eles foram os nossos
policiais foram retirados à força, né,
de dentro da viatura. E realmente um, os
nossos policiais foram espancados ali.
Em pouco tempo começa a destruição no
Senado e na Câmara, mas ainda tem gente
lá fora.
Uma parte dos invasores segue descendo
essa via rumo ao Palácio do Planalto,
que tá ali adiante. Às 2:50 eles entram
no prédio. เฮ
Enquanto isso, as redes sociais já estão
inundadas de imagens dos ataques,
inclusive de policiais militares,
supostamente tirando selfies e
socializando com os invasores. Logo após
os ataques, a corregedoria da Polícia
Militar instaurou pelo menos seis
inquéritos para apurar a conduta de
agentes e a omissão de comandantes. No
início de fevereiro, quatro PMs foram
presos.
Pouco depois, das 3 da tarde, o ministro
da justiça, que estava em Brasília
naquele domingo, chega a seu gabinete
e o mundo parou meio estarrecido para
ver o que tava acontecendo aqui no
Brasil. Eu queria saber como o senhor se
sentiu a assistindo tudo isso, né? As
imagens que o senhor mesmo disse sem
precedentes na nossa na nossa história,
né? Como que o senhor se sentiu eh
quando chegou aquí? Em primeiro lugar,
perplexidade, porque era uma situação eh
que não era crível, porque, como disse,
era uma situação de fácil controle,
tradicionalmente explanada já em outros
momentos já recebeu 100, 200.000
pessoas, na posse recebeu 300.000
pessoas. Então, a Polícia Militar do
Distrito Federal é acostumada a lidar
com grandes protestos na explanada.
Então, primeiro lugar, perplexidade,
segundo lugar indignação, mas ao mesmo
tempo movimento, porque naquele instante
só tinha eu, não tinha dois, não tinha,
não havia duas pessoas, só havia uma eu
aqui nessa sala tendo que tomar decisões
que a princípio não me cabiam
legalmente, mas que o dever do cargo
impunha que eu procurasse de alguma
forma suprir as lacunas derivadas dessas
falhas, omissões, erros, crimes, enfim.
E obviamente eu identifiquei um efetivo
policial muito pequeno, diferente do que
constava do planejamento. E aí procurei
tomar as providências possíveis naquele
momento de contato com os poderes,
inclusive o presidente da República e
contato com o governo do Distrito
Federal. Enquanto isso, os invasores
partiam pro terceiro al
Praça dos Três Poderes ficam o
Congresso, Planalto e o STF. Esse foi o
último prédio tomado por volta das 3:30.
A cadeira do Xandão. Olha, olha aqui,
gente. A cadeira do Xandão. Olhaão.
Cadeira do Chandão. Agora é do irmão
Fábio. E já era. Tomou a cadeira do
Chandão.
O senhor lembra quando o senhor
conseguiu falar com o governador Ibanês
ou vocês não chegaram a se falar no
domingo?
Não, nós não nos falamos no domingo, né?
A presença do governo do Distrito
Federal aqui veio com a chegada do chefe
da Casa Civil e da vice-governadora.
O ministro se refere a Gustavo Rocha e
Celina Leão, que chegaram perto de 4 da
tarde. Ele diz ter tentado ligar e
mandar mensagens para Ibanês Rocha
naquele dia, mas não conseguiu contato
direto com o governador.
Eu obviamente os interpelei. Bom, cadê a
polícia que estava no planejamento? a
polícia ausente praticamente e eles eh
ficaram aqui durante um bom tempo,
algumas horas, creio eu, eh também
tentando mobilizar a PM do DF com alguma
dificuldade eh as os processos
administrativos, os inquéritos policiais
militares vão revelar o que se passava
lá. Eu presenciei aqui a dificuldade
deles de contato e a busca deles de
mobilização dos efetivos. E aí a
providência cabível naquele instante era
assumir o comando da segurança do
Distrito Federal diante dessa inércia,
falha ou ou conivência, não sabemos
ainda, dessa cadeia de comando.
O ministro da justiça começa então a
redigir um decreto de intervenção
federal que submeteria à assinatura do
presidente Lula.
Enquanto isso, dentro do Congresso, os
policiais legislativos tentavam conter o
caos.
Pessoal, bora avançar devagar lá. Os
anotos errados e tá saturado o ambiente.
Moral, [ __ ] Bora lá.
Cuidado, cuidado.
Segura, segura, segura.
Atenção, galera.
E aí, você pode eh me contar um pouco
sobre o que que você viu dos
manifestantes, né, das pessoas que você
encontrou aqui.
Pois é, num ponto que eu tô na na parte
na parte externa, né, que eles começam a
tomar, quebrar todas as bidraças e e
começam a tomar todas as nossas áreas,
né? Eu concentrei nosso policialmento no
salão, no salão verde, né, aqui na área
do plenário, eh, via rádio, né? Aí,
então eu tive o quê? Eu tinha que
acessar por aqui onde que eles estavam,
né? E quando eu entrei realmente foi
algo assim que foi muito assim que eu eu
me impactou muito. Muitas pessoas de
joelho rezando, né? Aquelas pessoas que
estavam mais à frente, os mais jovens,
né? Os mais preparados estavam à frente,
né? Tentando tentando invadir, tentando
quebrar e muitas pessoas realmente de
joelho rezando. Então aqui aqui
exatamente aqui nesse ponto e na parte
aqui da escada, né? né? No início daqui
da escada que dá dá o acesso ao salão,
salão
e o que que eles conversavam entre? Você
conseguia ouvir alguma comunicação?
Pois é, entre pessoa que tava rezando
não, mas entre os outros sim. Essa
situação de que eh o objetivo deles era
era que chamasse a atenção, que seria a
única forma de as forças armadas
realmente eh eh eh apoiarem a causa
deles, né, uma intervenção militar. É,
então, todo momento eles falavam: “Não,
as suas armadas vão vir nos apoiar, vão
vir nos apoiar”, né? Eh, lógico que
seria só na cabeça deles, né? porque eh
eh as Forças Armadas não iam prestar a
esse papel, mas pela cabeça deles era
era que a partir do momento que eles
invadissem os três palácios, né, as
forças armadas dariam todo o suporte
para para que fosse lá decretado um um
golpe militar ou algo do tipo.
Com o salão verde da Câmara tomado, os
policiais decidem guardar o plenário, um
espaço simbólico da casa. E você pode
mostrar pra gente o lugar onde vocês
ficaram, passaram as treinas de combate
antes.
A gente ficou exatamente onde estão as
pontaletes. Então a gente retirou esses
pontaletes e fizemos a linha exatamente
onde estão as pontaletes. Os momentos
momentos mais críticos, né, é que eles
começaram a jogar muitas pedras, né, e
estilingues, né, com com bolas de good,
né, roljões. A gente teve que recuar
atrás dessas portas de vida.
Escudeira, escudeira, escudeiro.
Teve que concentrar ali porque aqui
também tava muito contaminado com gás e
como eles estavam atacando muita coisa
da gente, a gente não conseguia
visualizar muito bem.
Cara, calma, calma.
Na Câmara, os policiais conseguiram
evitar a invasão do plenário. Eu
sempre falei falar pra minha linha, né?
É questão de honra. Nós vamos ficar
aqui. Nós vamos, não vamos sair daqui. É
questão de honra. Eles não ganham o
plenário. Eles não ganham o plenário.
Bora. Vai passar. Sustenta.
O mesmo não aconteceu no Senado.
Sustenta, galera.
Sustenta. Sustenta,
[ __ ] Sustenta aqui. [ __ ]
Daquele lado do Congresso, os agentes
também viveram horas de intenso embate
com os invasores.
A cavalaria da PM chega à praça dos três
poderes por volta de 4 e5.
Pelo menos um agente é espancado e
derrubado do cavalo.
Pouco mais de 3 horas após a quebra da
barreira em frente ao Congresso. Já
perto das 18 horas, o presidente Lula dá
uma coletiva de imprensa em Araraquara,
em São Paulo, anuncia uma intervenção
federal em Brasília e nomeia como
interventor Ricardo Capelli, número dois
do Ministério da Justiça.
E eu queria dizer para vocês que todas
essas pessoas que fizeram isso
serão encontradas
e serão punidas.
Eles vão perceber que a democracia
ela garante o direito de liberdade, ela
garante o direito de livre comunicação,
de livre expressão, mas ela também exige
que as pessoas respeitem
as instituições que foram criadas para
fortalecer a democracia.
Chega o reforço.
O interventor determinou a convocação de
todo o efetivo disponível, conforme
consta em seu relatório. As forças de
segurança começam a dispersar os
manifestantes, mas os prédios só vão ser
completamente esvaziados por volta de 8
da noite.
Elas sabiam onde é que para onde é que
iriam e o que fariam. Acho que cada um
ali tinha tinha uma uma uma missão, uma
orientação do que fazer ao chegar aqui,
tá? Então, não era um grupo de
manifestantes qualquer, era um grupo que
de fato eh a gente acredita que e eles
planejaram essa situação do do da
invasão durante muito tempo.
Vocês chegaram a se preparar para esse
momento depois que viram que aconteceu
no Capitóleo? Teve algum tipo de
conversa entre vocês? Houve um
documentário a respeito da da invasão do
Capitólio. A gente pegou eh eh esse
documentário e fizemos um grupo de
estudo em relação a a a o que aconteceu
no católico, as falhas que que, né, que
aconteceram e qual a situação da reação
dos policiais lá. Fizemos um grupo de
estudo, sim. Então, a gente a gente já
tava realmente e eh é ciente mais ou
menos do que do que tinha acontecido lá.
Nos Estados Unidos, cinco pessoas
morreram na invasão ao Capitólio, sendo
um deles um policial. espancado pelos
manifestantes.
Mais de 100 agentes ficaram feridos.
Eu acho que isso ajudou muito também,
principalmente a questão da dispessão e
de contenção aqui dentro. Mas lógico que
a gente nunca imaginava que aquilo
poderia também acontecer de uma forma
muito parecida com aqui no com com o
Brasil.
Aguarda um pouco para ninguém machucar.
Aguarda um pouco para ninguém machucar.
No Brasil, oito policiais legislativos
foram feridos, quatro hospitalizados.
Entre os PMs, dezenas foram feridos,
vários com gravidade.
Centenas de pessoas foram levadas pela
polícia.
São quase 8 da noite e 5 horas depois do
rompimento da barreira, finalmente chega
ao fim a invasão e depredação dos três
principais prédios da República. Menos
de uma hora depois, Lula desembarca em
Brasília. Acompanhado de ministros do
STF, ele caminha por entre os destroços.
Em seu pronunciamento mais cedo, o
presidente afirmara que Bolsonaro havia
estimulado os atos de vandalismo
e aproveitaram
o silêncio de um domingo,
quando a gente ainda está montando o
governo
para fazer o que eles fizeram hoje. Todo
mundo sabe que tem vários discursos do
ex-presidente da República estimulando
isso. Ele estimulou invasão na Suprema
Corte, estimulou invasão, só não
estimulou invasão no palácio porque ele
tava lá dentro, mas ele estimulou,
estimulou invasão nos três poderes
sempre que ele pôde. E isso também é da
responsabilidade dele. Isso é da
responsabilidade dos partidos que
sustentam ele e tudo isso vai ser
apurado, sabe, com muita com muita força
e com muita rapidez. Pouco depois das 21
horas da Flórida, Bolsonaro faz um
comentário breve pelas redes sociais.
Manifestações pacíficas, na forma da
lei, fazem parte da democracia. Contudo,
depredações e invasões de prédios
públicos como ocorridos no dia de hoje,
assim como os praticados pela esquerda
em 2013 e 2017, fogem a regra. Ao longo
do meu mandato, sempre estive dentro das
quatro linhas da Constituição,
respeitando e defendendo as leis, a
democracia, a transparência e a nossa
Sagrada liberdade. No mais, repudiu as
acusações sem provas, a mim atribuídas
por parte do atual chefe do executivo do
Brasil.
Quero me dirigir aqui, primeiramente ao
presidente Luís Inácio Luna da Silva
para pedir desculpas pelo que aconteceu
hoje na nossa cidade.
Pouco depois da meia-noite, uma decisão
do ministro do STF, Alexandre de Moraes,
afasta Ibanez Rocha do cargo de
governador do DF. Exonerado do cargo
ainda no domingo, Anderson Torres foi
preso no dia 14 de janeiro, logo após
desembarcar no Brasil. seria solto em 11
de maio. Em sua casa, a polícia
encontrou a minuta de um decreto para
instaurar estado de defesa na sede do
TSE. O objetivo seria mudar o resultado
das eleições. Em depoimento, o
ex-ministro da Justiça de Bolsonaro
afirmou que o documento seria
descartável e sem viabilidade jurídica e
que não teria sido ele a colocá-lo em
uma pasta na sua estante.
Meses depois, uma minuta com teor
semelhante seria encontrada no celular
do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro,
tenente coronel Mauro Sid. Ele foi preso
em maio.
Além de investigações e processos na
justiça, o 8 de janeiro levaria a uma
comissão parlamentar mista de inquérito
ao CPMI. também provocariam a queda do
primeiro- ministro do novo governo Lula,
o general Gonçalves Dias do gabinete de
segurança institucional, que apareceu em
imagens vazadas ao lado de invasores no
andar do gabinete presidencial no
Planalto. Dias e membros do GSI foram
acusados de serem amigáveis e ajudar os
invasores. Ele nega e diz que estava
evitando estragos e encaminhando
invasores para serem presos.
Ainda na noite do dia 8, alguns
servidores visitam os prédios
depredados.
A gente vê um uma cena de muita
destruição, né?
Marcelo Sad de Souza é diretor do Museu
da Câmara dos Deputados.
Os vidros quebrados, eh muita muitas
garrafinhas d’água como lixo por todos
os espaços, né? havia água, né, eh, nos
nos salões. E então o cenário era
realmente esse assim de um de uma grande
destruição.
Sem poder tocar os objetos que ainda
passavam pela perícia, as equipes que
estavam nos prédios naquele primeiro
momento estavam ali para mapear os
danos. Em muitos casos dar notícias aos
colegas que assistiram a tudo de casa.
Esse aqui é um prédio tombado. Nós temos
várias obras de arte integradas ao à
edificações. Então a nossa preocupação,
será que fizeram alguma coisa com o
nosso de Cavalcante?
Marisa Seixas Prata é diretora da
coordenação da administração de
edifícios, uma área que conta com 900
funcionários e que foi fundamental na
limpeza dali pra frente.
Então, no dia seguinte, chegamos aqui às
6 da manhã, mais ou menos com o efetivo
aí de umas 160 pessoas, né, que eu
trouxe. Para quê? para que a gente
pudesse retornar à normalidade com a
maior rapidez possível. Tinha ainda um
resto de cheiro de gás de pimenta. Tanto
que assim, de 6 até às 8, toda hora a
gente ia no banheiro lavar o rosto
porque a pele ardia um pouquinho, como
se você tivesse tomado sol demais.
Então, no plenário você tinha o
vidraceiro repondo, fechando a área lá
de cima, a gente aspirando o vidro, o
tapeceiro vendo os danos no móvel, o
marcineiro trabalhando no coisa. Então
assim, eram equipes grandes. No salão
verde eu tinha uma equipe aspirando água
na metade de lá do salão, que a lâmina
d’água era uns 5 cm. E o lado de cá a
gente lavando o mesmo carpete porque ele
estava cheio de resíduo de pó químico de
extintor, porque eles soltaram muitos
artefatos, né, de e tentaram botar fogo
em vários lugares. Todos era vidro
demais, gente, era vío demais porque
eles quebraram todas as vitrines, eles,
os vírus alguns estavam pendurados de
forma perigosa. E lá vem o vidraceiro.
Serób chegou aqui com uma equipe enorme
também. O serviço de obras são todas as
especialidades
aqui no lugar onde a gente tá. Eh, a
gente vê que o pessoal tá limpando o
vidro e tem uma janela ainda sem vidro.
Sim, por causa disso, né? A empresa tá
fabricando diariamente os vidros e
distribuindo para os diversos palácios
que foram danificados. São vidros de
grandes dimensões. A vai fabricando e
vai trazendo e a gente vai colocando. E
essa essa envoltória da Câmara, nós
tivemos uma perda de 700 m² de vidro
quebrados. Outro local, ainda com as
marcas do vandalismo, semanas após a
invasão, era o painel Ventania do
artista plástico Atos Bucão.
E aí aqui por toda essa área, como há
esses gradis protegendo essa parte
zenital aqui de cima, a gente consegue
ver vários pontos em que houve
quebra dos azulejos, né, de
desprendimento das peças. Essas barras
aqui, algumas delas elas já foram eh
elas tinham sido danificadas e já foram
devidamente trocadas, já já houve esse
serviço de reparo. Em alguns pontos dos
azulejos, a gente consegue ver os pontos
de contato, né, em que houve quando
soltaram esses gradinhos e utilizaram
até como escada, né, para para subir,
para descer
os pontos de dano, né,
nessas peças, dá para ver esses cortes
bem fortes em ao longo dessa desses
pontos aqui do painel.
E aí aqui essa escultura que é o anjo
que foi criado para Alfredo de
Cesquates.
Ah, a gente consegue identificar essas
peças, esses esses pontos de dano na
peça que a gente acredita que foram
fruto justamente da reação química, né?
Então, o pó químico com essa água que
escorreu aqui e a gente acredita que
talvez até com outros elementos químicos
que estavam aqui presentes, como gás
lacrimogênio e qualquer outra substância
que possa ter sido utilizada aqui,
provocou alguma reação química que que
gerou alterações na peça, né? Então ela
tem essas manchas, né, esses
escorrimentos e uma mudança de cor
mesmo, a oxidação em alguns pontos dela.
A gente
isso daqui não era original da peça,
não. Não era o original da peça. Essas
manchas, esse esse tom mais esverdeado,
eh, mais forte, né, mais agussadas, não
são elementos originais da peça. Aqui
era o módulo escultórico, né, o muro
escultórico.
Ah, ele fica aqui.
Ele ficava aqui. Ele tá desmontado, né?
Uhum. Porque o que aconteceu foi que
como o carpete inund ele é de madeira, a
gente não podia deixar ele montado
também, né? Porque podia ser que a a
humidade provocasse um estufamento,
rebentasse a madeira. Então,
ele foi desmontado
e e não e não é simples montar essa peça
porque ele ela requer toda uma tem um
mapinha assim do que de que ele é um
quebra-cabeça realmente assim, ela tem
que ser montada de uma forma exata.
Imagina
e remontada também dessa mesma forma
exata.
Mas o destaque desses dias foi realmente
a
a bailarina.
Como que vocês a encontraram?
É, a gente quando chegou aqui no
domingo, a a gente só encontrou a base
vazia. Essa peça não estava aqui por uns
longos poucos minutos, né? os cinco
primeiros minutos a gente pensou que a
peça poderia realmente ter sido levada
ou estar em algum outro ponto aqui do
prédio, jogado em algum lugar. Mas aí
até o a Cláudia, uma colega nossa de
trabalho, que também trabalha no museu,
eh enxergou eh essa peça embaixo de uma
poltrona dessas que estava aqui próxima.
Isso tava bem por aqui. E aí ela sofreu
os procedimentos de limpeza, de
polimento e foi a primeira peça assim a
voltar pro seu lugar de origem.
O trabalho de recuperação das peças é do
setor de restauração, chefeado por Gilci
Rodrigues Azevedo, que está à frente dos
serviços de preservação da Câmara. Ela
está há 30 anos na casa, 20 nesse setor.
Quando a gente chegou lá, o pessoal do
museu já tinha feito o primeiro
salvamento e aí nós passamos a fazer o
recolhimento desses pedaços que você tá
vendo. Nós pegamos lanternas e fomos
fazer um trabalho de garimpo, de, né,
arqueólogo, né, no meio daquele caos,
porque tava muito lixo, muito vidro,
muito pedaço de coisa por tudo quanto é
lado.
Algumas peças sofreram danos menores,
outras passaram quase ilesas pelos
ataques. É o caso da obra Candangos do
pintor de Cavalcante, que fica no salão
verde da Câmara. O de cavalcante do
Palácio do Planalto, nesse caso as
mulatas, não teve a mesma sorte, foi
rasgado em oito pontos.
O relógio de pêndulo de Baltazar
Martinou, uma peça do século X7 que
chegou ao Brasil em 1808,
também foi bastante avariado.
No caso do Planalto, o órgão encarregado
da restauração é o IFAN, o Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional. Na Câmara, a mesa da entrada
do setor de restauração serviu por
semanas de anteparo às peças mais
danificadas, caso dos presentes
protocolares, lembranças trazidas por
autoridades de outros países.
Então aqui basicamente são vasos, né?
Esse vaso aqui foi um presente da
Hungria. Esse aqui é um vaso chinês, né,
de porcelana chinesa, que foi dado como
presente protocolar.
Esse aqui é da Índia, esse presente, né?
Esse aqui é da Coreia, né? Aquele lá é
outro vaso chinês.
E a gente tá tá aguardando para junto
com os nossos gestores eh resolver qual
vai ser a melhor técnica a ser utilizada
no restauro dessas peças. Ou nós faremos
um um o máximo que a gente pode um um
restauro mais artístico, né? ou um
restauro mais arqueológico, que é a
gente monta o objeto com o que tem, né,
com o que tem, mas a gente deixa nessa
montagem todos os vestígios do dano
causado ao objeto, inclusive as lacunas,
inclusive as emendas.
Pessoalmente, você prefere qual técnica
de restauração?
Depende muito nesse nesse caso eu
prefiro que deixar na peça o vestígio
histórico, o vestígio da história,
porque eu acho que ela vai falar muito
mais alto.
A equipe de preservação cuida de 23.000
1000 m lineares de acero. Faz parte do
trabalho estar preparado para lidar com
algum dano ou prejuízo a uma das obras.
O departamento tem um plano de gestão de
salvamento e emergência, no qual estão
mapeados 10 tipos diferentes de
sinistros. Um deles é o de vandalismo
usado no 8 de janeiro.
Você já tinha colocado em prática o
sinistro contra vandalismo antes?
Nunca.
Pensou algum dia que ia colocar no?
Nunca.
Como que você se sentiu quando você
chegou e viu e viu o que tinha
acontecido? Ah, essa pergunta é difícil
de responder,
né? Como cidadã,
como funcionária dessa casa, né? A gente
mora aqui
8, 10 horas aqui dentro. É a nossa casa
também, né? Então é difícil. Foi muito
difícil.
Como se tivesse invadido teu carro.
Isso. No momento a gente esqueceu e
trabalhou, né? Mas no dia seguinte,
eh, a gente começou a pensar, né,
na na significação de tudo isso. E, e eu
acredito que a nossa condição de povo
pacífico, né, ficou um pouco maculada,
mas acredito também que a gente tem
condição de de voltar a ser, né, de
voltar a ser.
Já foi tomado a casa do povo. Estamos
dentro. Somos dentro, patriota.
Jun, [ __ ]
As cenas rodam o mundo, não só no 8 de
janeiro, mas também no dia seguinte. Eu
e meus colegas da BBC News Brasil
fizemos várias entradas ao vivo para
tentar explicar nos canais de TV e rádio
da BBC o que tinha acontecido.
Assim como jornalistas de emissoras de
todo o mundo e acadêmicos.
go uh what we call live. We [ __ ] a live
briefing on uh the New York Times
website and we were at that point just
putting everything we could find out as
we found it out and we could confirm we
would [ __ ] it onto the website in real
time uh and we were seeing that our
readers um extremely interested in what
was going on even on Sunday afternoon
and we were getting enormous readership
from the planet.
O acampamento é desmontado no dia 9 de
janeiro e outras centenas de pessoas são
detidas. A chegada da cavalaria da
polícia é transmitida ao vivo pelo
mundo.
À medida que os dias passam, o foco do
restante do mundo vai se voltando para
outras notícias.
Aqui o Brasil ainda tenta entender o que
aquele domingo significou e o que ele
revela sobre o que vem pela frente.
Eu até tive num debate em Princeton,
acho que um mês antes da eleição, mais
ou menos. E e a e a discussão foi um
pouco essa, assim, né? Eu o que eu
apresentei foi isso de como a gente tem
a a violência política no Brasil é muito
maior do que a gente gosta de
reconhecer. A gente é um país que sempre
usou violência política, na verdade, um
país que tem vários golpes, que tem
vários assassinatos políticos ao longo
da sua história e agora tem um um
presidente que mobilizou nessa direção.
Uma das reflexões que permanecem gira em
torno das Forças Armadas. Elas estão
diretamente ligadas à imagem de
Bolsonaro como candidato, fizeram parte
de seu governo e são mais influentes na
vida civil e política do que na maioria
dos países com democracias estáveis.
Informado aqui, aqui é o exército, ó, se
posicionou a favor nosso, por causa que
todos que estavam saindo do acampamento,
o a Polícia Militar tava prendendo e
querendo prender aqui dentro.
Deus abençoe. Que seja o começo do fim
do comunismo.
Meu irmão, o exército tá falando que não
vai abrir pra polícia entrar, velho.
Tão botando tanque de guerra lá, ó.
E a polícia tá querendo entrar. E o
exército falou que não abre. Olha a
merda, o tamanho.
É o que reflete o 8 de janeiro,
claramente a presença de correntes
antidemocráticas nas Forças Armadas, na
Polícia Militar. E aquilo mostra uma
realidade que eu acho que alguns não
queriam acreditar eh ou aceitar ao longo
das últimas décadas, que é que uma parte
das Forças Armadas e da polícia no
Brasil não aceita o controle civil, que
é um ingrediente fundamental eh de
qualquer democracia, né? De fato, não há
democracia forte com forte envolvimento
das forças armadas. a gente vê
democracias ao redor do mundo, onde o
envolvimento militar enfraquece as
instituições, seja no Paquistão, eh, no
Egito, na Turquia, enfim, muitos países,
a história sempre é a mesma. Então isso
claramente demonstra que todo o processo
de democratização
eh ainda está em fase de implementação e
ainda enfrenta muita resistência até
hoje isso vai dar muito trabalho para
não só este governo, mas para outros
governos lá na frente.
Outro tema fundamental e que não se
esgota no 8 de janeiro é a mistura entre
política e redes sociais.
As redes sociais e a tecnologia e a
internet, ela criou novos desafios para
as democracias modernas. Ela criou um
sistema fértil onde narrativas
desinformativas engajam muito. Então eu
acredito de verdade que esse sentimento
de ódio que a gente tá vendo na
política, ele vai se manter não só no
Brasil, acho que no mundo. Acho que isso
é algo que não é particular daqui. Eh,
talvez não seja o Bolsonaro, talvez seja
outra figura. Eu acredito que o
Bolsonaro vai continuar em alta. Eu
acredito que a rede que ele construiu em
cima desse ecossistema, ela funciona
muito bem.
A segunda razão é que o Brasil eh faz
parte da onda de democratizações que
aconteceu nos anos 90 eh com muitos
outros países aqui na América Latina,
mas também na Europa Leste. E o fracasso
de um caso muito importante como do
Brasil também eh representaria uma
péssima notícia para muitas outras
democracias na região. Então, nesse
sentido, uma eh um sinal de que eh
depois de 30 anos em vários sentidos,
todas essas democracias ainda enfrentam
vários desafios. E por último, eu acho
que uma questão que é muito nítida no
debate global sobre o Brasil é que o
Brasil é visto como um laboratório eh de
eh movimentos radicais, sobretudo da
extrema direita. eh o país talvez seja
um dos mais afetados eh pela
disseminação de notícias falsas por fake
news, eh que teve já o segundo ciclo
eleitoral eh profundamente afetado eh
por notícias falsas.
A gente está vendo a história, meu
irmão, acontecer aqui na sua frente.
A história.
O 8 de janeiro de 2023 é um daqueles
momentos que ficam eternizados nos
livros de história. Mas não só. Suas
implicações políticas, jurídicas e
sociais terão influência nos próximos
passos da nossa jovem democracia.
Brasília, dia 8 de janeiro de 2023.
Apoiadores de Jair Bolsonaro que
invadiram o Congresso cantam um hino
evangélico no plenário do Senado.
Parecia até uma igreja em dia de culto.
Vídeos como esses me fizeram questionar
como a religião foi usada no movimento
que tomou de assalto as sedes dos três
poderes.
Em busca de respostas, eu encontrei uma
espécie de mundo paralelo nas redes
sociais. Não é difícil achar ali pessoas
que se apresentam como pastores e que
misturam religião e política. Então eu
quero que você deixe o seu like para que
você receba o recado de Deus que eu
tenho para você que mora num país
chamado Brasil.
Mas o que chamou minha atenção foi um
grupo de pregadores que na maioria das
vezes nem sequer tinha templo físico e
usava as redes sociais para alcançar
milhões pregando uma guerra santa contra
adversários políticos.
Tão somente marchem,
marchem, marchem, marchem. Durante seu
governo, Bolsonaro se aproximou bastante
de líderes evangélicos influentes, mas
depois que ele perdeu a eleição, esse
universo começou apresentar fissuras.
Enquanto alguns pastores de grandes
igrejas disseram que torciam pelo
sucesso do Lula, uma parte das
lideranças evangélicas não quis recuar e
engrossou o movimento que contestava o
resultado da eleição. Esse vídeo gravado
em 15 de novembro numa manifestação que
bloqueou uma estrada no Espírito Santo
mostra a pastora Valdirene Moreira.
Graças a Deus. É, eh, a gente tem que,
nós oramos,
fazendo nossa parte, Deus faz a nós
fazendo nossa parte. Éclesiástic
tempo de de quase tempo de guerra.
A Valdirene tem um perfil semelhante ao
de outros pastores influentes no
movimento bolsonarista. O principal meio
de atuação de vários desses pastores não
são igrejas físicas, mas sim as redes
sociais. Nessas plataformas eles
municiam com discursos religiosos quem
sonha com o retorno de Bolsonaro ao
poder.
Desde o dia primeiro para cá eu venho
falando,
não acabou,
tá começando
e vai ficar na história de um povo que
lutou,
que lutou de todas as formas. Nesse
vídeo gravado na noite de 8 de janeiro,
Valdirene comenta as invasões que
aconteceram horas antes em Brasília.
Infelizmente,
embora a Zacarias ensine que não é por
força nem por violência,
muitas vezes no passado
o Senhor permitiu coisas acontecerem
para que chegasse aquilo que é a vontade
dele.
A pastora Valdirene mora em Guarapari,
uma cidade com 120.000 habitantes no
Espírito Santo. Ela chegou a ter mais de
300.000 seguidores quando o YouTube
derrubou o canal dela, mas ela jamais
deixou de postar na plataforma. Além de
publicar nos canais dos filhos,
Valdirene criou duas páginas que
continuam sendo alimentadas. Eu
perguntei ao YouTube porque o canal
principal dela foi derrubado, mas não os
outros em que ela segue publicando. O
YouTube não me respondeu, mas disse que
a criação de canais alternativos por
quem teve a página derrubada é uma forma
de burla e que se detectar que esse foi
o caso, vai derrubar as novas páginas
também. Eu pedi a Valdirene uma
entrevista e mandei para ela várias
perguntas. Uma delas, se ela não achava
que os vídeos dela poderiam estimular a
radicalização política. Mas a pastora
não me respondeu. Ela foi a primeira
líder religiosa que eu identifiquei
nessa pesquisa, porque a presença dela
no bloqueio da rodovia foi noticiada em
alguns sites. A Valdirene me apresentou
a um elemento bastante comum nos
discursos desses pastores bolsonaristas,
o uso de revelações e de profecias.
Deus me mostrou numa visão enquanto eu
oro.
Eu vi um baú de pirata. Espito santo vai
saber nesta noite que algo no oculto
virá à tona. Continua voz na
intercessão, porque eu vou passar limpa
a nação brasileira antes da vitória que
eu vos darei. Eu vou fazer aparecer o
que está oculto e o que está escondido.
Valdirene gravou esse vídeo poucos dias
depois do primeiro turno. Ela diz,
transmitiu uma profecia, um recado de
Deus, algo que estava oculto, seria
mostrado aos brasileiros e só então
viria a vitória. Será que ela se referia
a uma vitória de Bolsonaro no segundo
turno? Valdireni não diz explicitamente,
mas a grande maioria dos que comentaram
no vídeo eram apoiadores de Bolsonaro e
viram na fala da pastora sinais
promissores sobre a eleição. Depois que
a gente tratou do caso da pastora numa
reportagem em texto e num episódio do
podcast Brasil Partido, a gente voltou a
contatá-la para saber se ela gostaria de
se manifestar, mas não houve resposta.
Mas qual o peso de discursos como esse
no movimento bolsonarista de hoje? E de
onde surgiram esses pastores que não
dependem de igrejas físicas para se
projetar? Eu acho que a gente vive um
pouco a era dos influenciadores, né?
Abriu-se uma eh brecha, portanto, para
figuras que não têm uma posição de
liderança dentro de uma grande igreja,
né? Construírem um capital em torno de
si a partir da atuação nas redes sociais
e por isso também não tem tanta
responsabilidade
também, né? Inclusive em termos legais.
Pro professor Vinícius do Vale, a
dinâmica das redes sociais também
explica o surgimento desse tipo de
discurso. Pros pastores que tem a sua
maior eh uma maior diálogo, maior
atuação nas redes sociais, há até um
estímulo para você ser mais
radicalizado, porque as redes sociais
são ambiente que trazem essa
radicalização
eh maior, esse extremismo maior. Imagino
que um numa pequena igreja, se o pastor
ele tem uma atuação eh muito forte nas
redes sociais, de repente ele consegue
inclusive eh uma renda maior da da dos
canais virtuais, né, do YouTube, de
publicidade, etc., né? Eh, do que
propriamente da da sua igreja. Eu mandei
pro YouTube os canais dos pastores que
eu cito nessa reportagem e perguntei se
eles são monetizados, ou seja, se eles
recebem um valor proporcional à
audiência dos canais. Mas o YouTube me
disse que não podia me responder por uma
questão de confidencialidade contratual.
Um dos canais que eu mandei para eles
era o deste pastor aqui.
Paz do Senhor e Salvador Jesus. Olha,
deixa eu dizer, eu resolvi vir aqui hoje
contar um sonho que eu tive. Reginaldo
Rolim já foi vereador de Fortaleza e se
define como apóstolo e profeta no
ministério Atalaia do Deus vivo, uma
pequena igreja no Ceará.
Eu vi que eh Bolsonaro não ganhava a
eleição
e que ganhava a eleição que estava lá
era Lula. Só que na realidade Lula não
ganhava essas eleições. Quem ganha na
realidade é Bolsonaro. Só que os jornais
e as matérias iriam dar que Lula tava
ganhando a eleição.
Nesse vídeo gravado pouco antes da
eleição, ele fala de uma revelação que
teria recebido de Deus.
Muitas pessoas dizem que Bolsonaro ia ia
ia assinar a caneta, ia dar um golpe
militar. Só que eu eu via que o exército
é que tomava frente e intervia nas
eleições e divulgava
algo que estava em oculto e que estava
sendo tramado há muito tempo atrás.
Reginaldo vai além e associa a
candidatura de Lula a uma grande
conspiração demoníaca.
Vi também nesse sonho que o governo do
PT há muitos e muitos anos colocou
instrumentos, sabe? Mas eu não via como
seres humanos, eu via como espírito,
como demônio. Como demônio, que os
demônios entravam dentro de instituições
no governo brasileiro, tanto no poder
judiciário como Supremo, como primeira,
segunda, terceira corte. E que o Lula
fez um pacto, fazia um pacto com ele,
mas eu não vi o Lula, eu vi um espírito
que esse espírito fazia um pacto com os
outros espíritos para que esse espírito
que tava representando, isso é um sonho,
representando a pessoa de Lula,
assumisse a presidência da República.
O Reginaldo não respondeu um pedido de
entrevista que eu fiz para tratar dessas
declarações. Uma das perguntas que
ficaram sem resposta foi se ele não
achava que essas mensagens estimulavam o
movimento que resultou nas invasões em
Brasília.
Depois de veicular essas falas do
Reginaldo no podcast Brasil Partido, a
gente voltou a entrar em contato
perguntando se ele queria se posicionar.
Ele não respondeu, mas numa live que o
pastor fez depois que o episódio foi ao
ar, ele disse que o tempo da política
tinha passado e que agora só pregaria a
palavra de Deus. Mas como foi que a
política brasileira virou tema de
profecias e revelações divinas? Eu fiz
essa pergunta a um evangélico que estuda
teologia e já frequentou várias igrejas
onde as profecias ocupam um papel
central.
O fenômeno da internet meio que existe
uma competição que você precisa o tempo
todo estar em alta. Uma das ferramentas
para que eh essa comunidade seja
legitimada é justamente o absurdo, sabe?
é você chegar até eh as últimas
consequências de chocar mesmo, de de
criar um espécie de de eh escândalo,
sabe? As pessoas olham e falam:
“Caramba, isso que esse cara falou é é
muito absurdo”. E aí é a partir desse
momento que elas começam a olhar para
ele como uma figura e eh meio mística,
sabe? A fala do Luís Guilherme sobre
profecias que chocam fez ainda mais
sentido para mim depois que eu descobri
no YouTube um pastor chamado Marcelo de
Carvalho.
Eu normalmente nunca fico
nervoso ou ansioso para fazer uma live,
nunca fico. Mas essa live
especificamente
eu não vou dizer nervoso nem ansioso. Eu
fiquei um pouquinho tenso. Tenso com o
recado que Deus tem para você.
Amém.
Marcelo de Carvalho mora em Santa
Catarina e é pastor no Ministério
Ciência da Profecia. Ele tem mais de
200.000 seguidores no YouTube.
A bandeira do Brasil
não será mais verde e amarelo ou verde e
amarela. A bandeira do Brasil vai mudar
as suas cores.
Já mandaram fazer as novas bandeiras do
Brasil. As novas bandeiras do Brasil
serão vermelhas.
Esse vídeo foi gravado no início de
janeiro. Importante dizer que o Lula
nunca propôs mudar a bandeira brasileira
e nem a sinais de que ele vai tentar
fazer algo do tipo, ainda que o vermelho
seja realmente uma cor associada à
esquerda mundialmente. Mas a fala do
pastor fica ainda mais gráfica.
Deus mostrou o mapa do Brasil e Deus
mostrou rachaduras em todos os lugares
do mapa do Brasil. Deus mostrou as
árvores sendo engolidas por essas
rachaduras.
Significa que o Brasil será destruído.
Você tá ouvindo que eu tô falando?
Tem uma diferença grande entre o
discurso do pastor Marcelo e o de outros
líderes religiosos que eu achei nessa
pesquisa. Os outros pastores falam de
cenários em que Deus intervém para botar
o Brasil em rumos que eles consideram
corretos. Já o Marcelo descreve uma
situação bem mais sombria em que Deus
decide punir o Brasil por causa da
eleição.
O Brasil está derrotado.
Você tem alguma esperança? Eu tô matando
a tua esperança hoje.
Deus está mandando eu matar a tua
esperança hoje.
Mas eis que nesse cenário de
desesperança e punição divina narrado
pelo pastor, surge uma saída. Esse é o
curso Como se preparar e sobreviver ao
que está vindo. Um curso que eu lancei
no dia 2 de outubro. Diante dessa
sentença que Deus deu, Deus me mandou
fazer o seguinte.
O curso está
estava concluído, certo? Mas agora em
função do novo governo,
em função do que Deus mostrou, Deus
colocou no meu coração fazer o seguinte:
“Eu vou começar a acrescentar
materiais dentro desse curso. Ele tem o
valor de R$ 389 ou 12 vezes de R$ 38.
parcelado, você consegue parcelar apenas
no cartão de crédito. Ou seja, o Marcelo
diz que Deus vai destruir o Brasil, mas
que quem pagar R$ 389 para fazer esse
curso pode escapar. Eu mandei um e-mail
pro pastor Marcelo com várias perguntas
sobre essa gravação e sobre o curso
dele. Então ele tirou o vídeo do ar e
respondeu dizendo que, na verdade, as
revelações não eram dele, mas de outra
pessoa. Mas veja de novo este trecho em
que ele diz claramente que recebeu as
mensagens de Deus. Hã,
há dois dias atrás, eu tava na
madrugada,
era por volta de
mais ou menos 1:30, 1:20 da madrugada
e eu recebi um recado, uma revelação de
Deus e eu vou citar essa revelação para
você.
Sobre o curso, o Marcelo disse que ele
basicamente contém aulas de educação
financeira e de cultivo de alimentos.
Ele também afirmou que não tem qualquer
relação com os outros pastores que eu
cito aqui. Disse que sempre pregou o
respeito à vitória do Lula e que nunca
incitou os fiéis a assim surgir contra o
novo governo.
Que Deus te abençoe. Até o próximo
vídeo, até a próxima live. Em nome do
Senhor dos Exércitos. Em nome do Senhor
Jesus Cristo.
Depois de ver vários vídeos como esse,
eu perguntei ao YouTube se eles sabem
que sua plataforma tem sido usada para
difundir discursos religiosos que podem
alimentar a violência política no
Brasil. Também perguntei o que a empresa
tá fazendo para impedir isso? Uma
porta-voz do YouTube então me telefonou.
Ela disse que eu não poderia gravar a
entrevista, mas que eu poderia citar as
falas dela. Ela disse que o YouTube
tenta equilibrar o combate à
desinformação com respeito à liberdade
religiosa e que a plataforma usa vários
mecanismos para tirar do ar vídeos com
informações falsas sobre a eleição. Mas
como eu percebi nessa pesquisa, às vezes
basta que um vídeo fique algumas horas
no ar para alcançar dezenas de milhares
de pessoas e cumprir seu objetivo.
Enquanto o YouTube não tem dado conta de
bloquear todos os vídeos que violam suas
regras, há pessoas na comunidade
evangélica usando a plataforma para
alertar fiéis sobre o que elas chamam de
falsas profecias. Comecei fazer esse
conteúdo aí para abrir os olhos das
pessoas sobre esse engano aí da
religião, que muitas pessoas usam o nome
de Deus para enganar as pessoas,
entendeu? O Eric Ribeiro diz que virou
evangélico depois de levar 10 tiros e
passar três meses em coma, mas em pouco
tempo ele descobriu nesse universo
coisas que o desagradaram.
Tem pessoas que gostam de ouvir aquilo,
ela quer ouvir aquilo que ela quer.
Eu quero ouvir que Bolsonaro vai ser o
presidente. Então a pessoa que vim com
aquilo ali, ela vai seguir aquela
pessoa. É isso mesmo. É isso mesmo. Você
tá me entendendo? Ela prefere viver no
engano. Ela disse: “Eu quero ser
enganada”.
O Eric diz que muita gente que chega no
canal dele agradece por eles pôr em
inconsistências nos discursos desses
pastores.
É triste. Teve pessoas chegar no meu
canal e disse: “Meu irmão, muito
obrigado que minha mãe tá em depressão
por causa disso aí.
Minha mãe tem 84 anos e viu esse cara
falando aí que que Deus ia acabar com o
Brasil. Minha mãe entrou em choque aqui.
É porque, meu irmão, infelizmente muitas
pessoas não vê o mal com essas e a mente
fica cauterizada, cara. É como se fosse
um açúcar. Não tem a pessoa que é
viciada em açúcar. Então, quem consume
esses conteúdo se avicia nisso aí. A
maioria das pessoas que seguem esse povo
aí tem problemas sérios, não dorme, todo
dia tá sonhando com uma coisa com outra,
todo dia tá tendo alucinações.
No canal dele no YouTube, o Eric lista
dezenas de pastores que, segundo ele,
fizeram profecias que nunca se
realizaram. Nenhuma pessoa é tão citada
no canal quanto um pastor chamado Sandro
Rocha. Nós subimos um degrau na escala
Hister
de eu vou colocar de emoção. Você sabe
que que não é emoção,
mas tem algumas palavras chaves que a
gente não pode usar.
Sandro Rocha mora em Guaratuba, uma
cidade com 37.000 habitantes no Paraná.
Ele é pastor de uma igreja pequena, a
igreja do porto de Cristo. Mas não há
nada de modesto na atuação do pastor nas
redes sociais. No Twitter ele soma mais
de 120.000 1000 seguidores no YouTube
são quase 500.000 e seus vídeos já
tiveram quase 75 milhões de
visualizações. Quando eu pesquisava o
canal do pastor Sandro Rocha, me chamou
atenção um vídeo que tinha uma imagem de
uma explosão numa torre de transmissão
de energia. Dias antes, três torres de
transmissão haviam sido derrubadas em
diferentes partes do país. Eu cliquei no
vídeo.
Quem é que tá agindo? É Deus. Você não
tenha dúvida nenhuma.
É Deus. Sandro cita a derrubada das
Torres como um dos sinais de uma grande
mudança que estaria em curso e que,
segundo ele, seria chancelada por Deus.
Que o nosso exército não é representado
por alguns generais que estão lá em
cima. Eles estão perdendo o comando da
tropa,
entendeu?
Coisa tá tá bem para eles, né? Tá bem
complicada,
entendeu? Sandro não se atém a discursos
religiosos nas redes sociais. No
Twitter, onde ele usa seu segundo nome,
Maurício Rocha, o pastor foi um grande
difusor do discurso de que Bolsonaro não
deixaria a cadeira presidencial. Em 28
de dezembro, ele escreveu: “Como eu
disse, o chefe não saiu e não vai sair.
Nenhum passo daremos atrás”. Antes
disso, em novembro, o pastor postou no
Twitter fotos dele em bloqueios de
rodovias com a hashagintervenção
militar. E Sandro Rocha foi um dos
primeiros a espalhar uma das informações
falsas que mais circularam em grupos
bolsonaristas naqueles dias, a de que
Lula tinha morrido e estava sendo
substituído por um sóia.
Eu perguntei ao Twitter e ao YouTube se
as falas do pastor não violavam as
regras das empresas, mas elas não me
responderam. Nos perfis que ele mantém
nas duas plataformas, o pastor Sandro
Rocha também diz fazer profecias. são
dele alguns dos vídeos mais impactantes
que eu encontrei nessa pesquisa.
Eu vi o STF, eu vi um como se fosse uma
caverna embaixo, né? Caverna do pirata
embaixo, com um monte de barril de
pólvora amarrado um no outro com
estopim.
Nessa gravação de 2020, Sandro fala com
o ativista bolsonarista Osvaldo
Eustáquio, que foi preso naquele ano
acusado de organizar atos
antidemocráticos. O Osvaldo Eustáquio
diz que a prisão foi arbitrária e que
não havia denúncias de crimes contra
ele. Na conversa com Eustáquio, Sandro
Rocha fala de uma suposta revelação
sobre o Supremo Tribunal Federal que ele
diz ter recebido de Deus.
Ali explodiu uma bomba, ficou a mesma
coisa, como se explodisse uma bomba
atômica assim e fica tudo preto,
queimado e não fica nada assim, fica só
carvão no chão, né? Então essa foi a
visão que eu tive, só carvão. E eu via
quatro forcas e quatro pessoas
enforcadas nessa forca. Não, mais uma
vez eu vou dizer, não sei quem são, né?
Ou quem eram, quem estavam ali, eu não
sei. Foi uma visão que eu tive. E o
Espírito Santo frisava para mim dizendo
assim, ó: “Todos acham que são três, mas
vão ser quatro”. Nesse trecho, o pastor
fala de outra suposta revelação, essa
sobre o Congresso.
Desta vez, ele levantava a espada e tava
na posição de ataque.
E quando ele entrava, ele entrou no
Congresso. Esse anjo, eu vi ele
entrando,
né? E eh
tinha sangue no chão. Eu vi sangue no
chão, né?
Então, eh, no congresso, é, eu vi esse
anjo, um anjo de Deus, né? É um anjo de
Deus.
E o anjo participado em posição de
ataque.
Sim, sim. Vai entrar no congresso
também.
A última suposta visão do pastor é sobre
o exército.
E eu vi eles marchando e faziam um
grande barulho na rua, né?
E e vai começar aqui no sul. Vou avisar
você já, porque quando acontecer você
vai saber que eu te falei, né? Eu vou
dizer mais uma coisa para você aí.
Muita gente vai morrer, Osvaldo. Vai
haver uma, vai haver uma guerra no
Brasil. O Espírito Santo disse para mim
claramente, ele disse: “Irmãos vão matar
irmãos. Teremos uma revolução no Brasil.
Vai ser uma guerra”. Existem grupos,
grupos, escuta que eu vou falar, está no
vídeo. Se você ouvir o vídeo com
atenção, você vai ouvir. Grupos armados
esperando a hora para que isso aconteça.
Vamos, gente, vamos.
Explosão no Supremo, ataque ao Congresso
e o exército marchando nas ruas. Difícil
não ver na fala do pastor o roteiro
desejado por muitos que invadiram as
sedes dos três poderes. Eu mandei um
e-mail ao Sandro perguntando se essas
falas não estimulavam a violência.
Também perguntei sobre profecias dele
que jamais se realizaram, como a de que
Bolsonaro não deixaria o poder. Mas o
pastor não me respondeu.
Agora vai ser luta. Aí você já sabe
disso, né?
Todo mundo, cada um no seu no seu canto
lutando. Aí agora não tem ninguém sem
luta, né? Não é? Agora não tem ninguém
que não vá lutar. Depois da veiculação
do podcast, eu voltei a entrar em
contato com o pastor, oferecendo um
espaço para que ele se pronunciasse. Não
houve resposta e o pastor me bloqueou no
Twitter, mas ele se manifestou numa live
no canal dele. Sandro Rocha chamou nossa
reportagem de tendenciosa porca e suja e
disse que ela se levantava contra a
liberdade religiosa dele. Depois, no dia
seguinte, ele fez outra live dizendo que
nossa reportagem tinha sido orientada
por algum pastor que estaria com inveja
do sucesso dele nas redes. Mas não foi
assim que eu cheguei ao Sandro Rocha. Eu
tava pesquisando na internet por
profecia sobre política e ele é
simplesmente um dos maiores produtores
desse tipo de conteúdo no YouTube. Mas o
que separa discursos de um líder
religioso de ações antidemocráticas e
quais são os limites entre liberdade
religiosa e a proteção ao estado de
direito? Quando você começa a incitar
os fiéis à prática de crimes, você
ultrapassa os limites de uma liberdade
religiosa. Porque todo direito
fundamental, ele não, ele tem como
característica não ser ilimitado. Se nós
temos a liberdade religiosa, nós também
temos a liberdade de todos os cidadãos
brasileiros de poderem contribuir com o
estado social e democrático e de direito
vigente e ter e não sofrer intimidações.
Eu mandei a Celeste os vídeos dos
pastores. Ela me disse que como não atua
no caso, não se sente à vontade para
opinar se há crimes envolvidos, mas ela
entende que os vídeos precisam ser
analisados pelos investigadores dos atos
de 8 de janeiro para que se avalie se
eles se enquadram na lei antiterrorismo
ou em outros crimes do Código Penal. O
movimento bolsonarista que invadiu as
sedes dos três poderes não é formado só
por religiosos, mas é innegável que
parte desse movimento abraçou conceitos
religiosos, como a ideia de que há uma
disputa do bem contra o mal, de que
coisas improváveis podem acontecer a
qualquer momento e de que há uma grande
trama oculta às pessoas comuns. A
atuação desses pastores joga a luz num
debate global sobre liberdade de
expressão nas redes sociais. Como agir
nos momentos em que a liberdade
religiosa se choca com outros direitos?
A moderação dessas plataformas deve
continuar apenas nas mãos das empresas
que as gerenciam.
Ainda não tá sendo legal pensar sobre
isso e falar sobre isso. Me tocou e me
causou muito mais mal do que eu tinha
imaginado no começo. Tive a minha
primeira crise de ansiedade e aí foi a
primeira vez que eu entendi que isso me
machucou muito.
Eu tava achando que não, isso é f
jornalismo. Tipo, a gente tá acostumado,
ã,
a ser agredido.
Vim direto para cá correndo. Aí eu só
mandei pra editora de plantão. Se você
precisar de mim, eu tô aqui. Ela falou:
“Olha, já tem um colega de vocês na rua,
ele tá acompanhando desde manhã esse
movimento.
Era um sentimento de que iria acontecer
alguma coisa de fato, que ele prestia
acontecer alguma coisa, mas jamais com a
proporção que tomou.”
Um dos meus editores me ligou meio que
desesperado, assustado. “Você tá em
Brasília? Você tá aqui, invadiram? Eles
estão agredindo, os colegas estão
agredindo imprensa. Não traz a câmera,
faz a cobertura de celular, traz o
craçar no bolso, mas não traz
equipamento, porque eles estão quebrando
e tomando o equipamento.
Olha, eu acredito que tem um responsável
direto que planejou tudo isso e que
covardemente se escondeu e saiu do
Brasil com antecedência, que foi o
ex-presidente da República. E um dia
aparentemente normal, como qualquer
outro, depois de uma semana de posses em
sucessão e de indo ver as autoridades
que foram eleitas assumindo seus cargos,
parecia que as coisas estavam mais
próximas daquilo que seria o normal e de
repente explode um negócio.
Eu acho que houve uma
instrumentalização, sem dúvida, dessas
pessoas. É muito grave. Então elas foram
utilizadas e nós temos todas essas cenas
que vocês divulgaram, pessoas que
estavam pedindo aos astros que viessem
fazer intervenção. Veja, parece que
sofreram lavagem eh cerebral, mas todos
nós sabemos, né? Eh, as crianças têm
noção de que elas não podem sair
quebrando vidro, de que elas não podem
invadir eh casas alheias, né? Isso todos
nós sabemos.
Comecei meu turno de plantão pela manhã
e a primeira coisa que a gente fez foi
monitorar. E aí eu olhei pela janela e
falei: “Eita,
peguei meu equipamento, desci correndo,
liguei pro meu editor que tava de
plantão e falei: “Olha, tem uma galera
descendo.” É muita gente, é muita,
muita, muita gente. Que a gente sabe que
as manifestações bolsonaristas são muito
violentas e hostiis com a imprensa.
Então era assim, fica de olho sempre
fica de olho assim, faz a sua foto,
tenta ver alguém que você conhece, um
outro colega de imprensa, mas não fique
sozinho porque é perigoso. Foi muito
mais perigoso do que, acho que foi um
dos dias mais fatídicos assim pra
imprensa em Brasília de em questão de
violência.
A descisa no caminão da espanada do
monumental foi que eu me toquei que
talvez poderia se tornar algo bem
agressivo, né? Porque tinham é pessoas
com pedaço de madeira escondido, outros
com barra de ferro. Acho que eles viam
como um ato heróico de salvar o país,
salvar a nação. Tavam basicamente com
com treinamento, né? Tinham máscara de
gás, já estavam preparados pro um
possível confronto com com as forças de
segurança. Comecei a ver um monte de
mensagem, coisa de 500, 300 mensagens,
todo mundo compartilhando na mesma live
do exBB. Vocês já estão indo lá pra
porta do Congresso ou não?
Sim,
sim.
Ok. Não tá com medo de repressão não,
amigão? Sempre
não, né? Aqui patriotas também no
interior de São Paulo.
Interior de São Paulo.
Já indo pra porta do Congresso.
E vocês não estão com medo de alguma
repressão lá? Não.
Eu conversei com a polícia ali, eles
estão tranquilos.
Vocês já foram no quartel general? Já.
Já.
Já.
E como é que tá lá? Tudo b cheio de
lotado, né?
Valeu, galera. Obrigado.
E aí? Invadimos o Congresso. É um
movimento pacífico, mas a gente invadiu
o Congresso. Estamos aqui, a gente
venceu, conseguimos e tudo mais.
A galera já tá no congresso. Já tá no
congresso.
Bora
guerra,
primo. Eu nunca imaginei subir a rampa.
Eu tô subindo a rampa, primo. Olha que
coisa mais linda, primo.
Olha isso, primo. Olha isso.
Olha isso. Olha isso. Eu tava, na
verdade, em casa, a senadora Soraia
chegou e colocou num grupo de WhatsApp
de senadores, falou: “Gente, isso é
verdade?” Eu falei: “Meu Deus do céu,
aquela imagem do pessoal subindo aqui
essa rampa, gente. Eu digo: “Meu Deus,
que loucura, meu pai. Isso aqui é no
Brasil, gente. Isso aqui é no Congresso
Nacional.
E aí então foi aquele desespero geral,
né? Todos os senadores. Rodrigo Pacheco
não tava aqui no Brasil. Eu já liguei
para ele e falei: “Presidente, o senhor
tá fora?” Ele falou: “Tô organizando o
meu retorno pro Brasil. Todo mundo
naquele clima, naquela tensão horrível,
sabe? Com o colega, eu comecei a chorar
porque você se sente num cenário de
guerra, né?
Aqui foi o principal, né?
Aqui foi o palco principal da
destruição.
Aqui que tinha ocorrido a posse, né?
Aquela semana toda tinha sido usado
esses postes aqui para posse dos
ministros e aqui não sobrou nada. Esse
ambiente aqui, uma uma praça de guerra
aqui, né? Só que tinha uma uma espécie
de uma névoa
que era o aquele gás aqu
dos extintores também quebrados, né? Mas
o gás tinha muito cheiro, um cheiro
muito forte de álcool, tinha um cheiro
de urina muito forte.
Um evento desses, ele não se materializa
do dia paraa noite. Ele demanda
realmente que se forme por muito tempo
com primeiro uma estrutura e depois uma
ideia a respeito da possibilidade disso
vir acontecer ou não. Não foi uma coisa
que aconteceu em meses, em dias ou em
semanas. É um processo de degradação, de
corrosão democrática, que vem de muito
tempo. Poucas semanas antes se parar
para pensar, a gente teve o caso do de
um dos apoiadores do então presidente
que atirou contra a Polícia Federal e e
ali foi um momento em que alguma coisa,
um desastre efetivamente poderia ter
acontecido. A gente teve depois o caso
envolvendo aquela deputada que apontou a
arma para um homem no meio da rua, em
São Paulo, as vésperas da eleição.
Depois a gente teve o dia da diplomação
e a gente não pode esquecer que houve a
tentativa de atentado à bomba no
aeroporto de Brasília. tava precificado
que ia ter alguma bagunça, mas não nesse
nível, não com a leniência das
autoridades.
Convidei para conversar comigo o
interventor da segurança pública do
Distrito Federal, Ricardo Capelli, que
tá aqui ao meu lado. O Capelli, ele é
secretário executivo número dois do
Ministério da Justiça,
que já mostra pra gente que ele teria
muito trabalho nesse momento, na segunda
semana de governo, mas certamente ele
não supunha, não imaginava que fosse ser
muito mais trabalhoso do que do que já
seria.
As pessoas acham que teve uma reunião
para discutir quem seria e depois uma
reunião para analisar o que fazer. Não
teve nada disso. Quando eu tô andando
aqui é tudo de vidro, né? Aí eu olhei
para cima,
aí tava o Flávio e o Padilha apontando
assim para mim.
Eu não entendi nada, né? Virou para mim
e falou assim: “Você acaba de ser
nomeado, interventor pelo presidente da
República, tá aqui o decreto, tô te
mandando pelo WhatsApp”. Aí ele mandou o
decreto pelo WhatsApp. Vá pra Secretaria
de Segurança, faça uma reunião rápida,
desce e assume isso aí.
Foi desse jeito.
Aqui é a casa do povo, [ __ ]
Aqui o ladrão não vai subir mais.
Lugar de vagabundo é no inferno. V de
pilã.
Aí aí
a viatura da polícia.
Uh!
Galera, viatura
é tudo nosso. O Brasil é nosso.
E aí você via que a polícia tava no
cantinho aqui e os manifestantes estavam
descendo. Se eles pudessem, eles
quebrariam o prédio. Eles colocariam uma
bomba e quebrariam todo o simbolismo que
existe num prédio público. E a polícia
tava lá paradinho. Eu tava com três,
quatro colegas de imprensa também,
fotógrafos. Duas vezes que a gente viu
uma reação da polícia foi para tirar a
gente, não deixou a gente descer.
Eu cheguei e eu vi o carro da polícia já
dentro da água ali. E você se
questionava, cadê os funcionários aqui
internos? Cadê a segurança? O que que tá
acontecendo? Não tem ninguém. Não é
possível. Muita gente ali fazendo live,
rostos que foram aparecendo na mídia,
depois empresário que foi preso,
pecuarista que foi preso, estavam
convidando para entrar. Já tinha um
grupo grande lá dentro, eles estavam com
a mangueira de água, quebrando tudo. O
acesso estava livre, tanto para entrar
quanto para sair. Não tinha como ter a
dimensão de quantas pessoas estavam
realmente lá dentro. Eu nem tinha parado
para pensar nisso no dia. Eu só falei,
gente, eu preciso chegar lá no planal
para ver como é que tá. Quando a gente
foi voltando, dava para ver que não era
tanta gente, só que o estrago era assim
para mim o principal medo. Você viu dos
vidros e cadeira jogada lá de cima,
móvel histórico destruído.
Eu fiquei mais em questão ali do STF. Eu
fiz imagens deles subindo lá na Estátua
da Justiça, né, Aquários lá em cima, dos
carros sendo atacados, jogados naquele
espelho d’água. Sempre que eles iam
avançando, eles paravam para fazer
imagens. deles é fazendo pos e achando
aquilo maravilhoso, né? como se fosse um
troféu.
Cadeira do Chandão. Agora é o irmão
Fábio. E já era. Tomou a cadeira do
Chandão. Aí o povo que
claramente houve por parte da Polícia
Militar do DF uma responsabilidade
direta com dolo em relação ao 8 de
janeiro.
Houve uma sucessão de falhas. O
ex-ministro da justiça se torna
secretário de Estado da Segurança
Pública aqui e não estava em Brasília.
Eh, o Congresso Nacional
foi invadido, o Palácio do Planalto foi
invadido, Supremo Tribunal Federal foi
invadido. Então, claro que houve uma
falha eh de segurança.
Chama atenção o fato de não ter, por
exemplo, um plano operacional para o dia

  1. Isso é completamente fora de padrão.
    Todas as ações de segurança, a Polícia
    Militar teve um plano operacional em
    todas as anteriores e nessa não teve.
    Então isso chama muito atenção eh o fato
    de não ter desdobrado as diretrizes, que
    é o plano de ações integradas que existe
    no plano operacional. Isso chama
    atenção.

É algo até certo ponto, sem precedentes,
ao menos no atual regime democrático.
Então, você viu uma insurreição de
algumas pessoas que, por alguma razão,
acharam que era uma boa ideia invadir os
prédios dos poderes. E aquele foi um
recado simbólico muito ruim. Quando eu
vi aquelas cenas, eu pensei: “Os
próximos meses serão pautados por isso”.
Tem aquela coisa, ah, mas eu só estava
dentro do Congresso. Sim, mas você não
deveria estar dentro do Congresso quando
ele está sendo quebrado. Então, há há
essa dificuldade de fazer esse nexo
lógico com eu estou cometendo um ato
ilícito. A
impressão que a gente tinha e o relato
das pessoas é que ao mesmo tempo que
tinha um uma horda assim que corria
desordenada tudo, tinha pessoas que
sabiam o que estavam fazendo. foram na
SECOM, que pegaram os HD, que foram na
BIM, que pegaram HD, que foram lá do
GSI, que sabiam onde que estavam as
armas, né? Impressão assim que como se
eles tivessem deixado coisas que eles
vieram buscar naquele dia. Não seria
possível ninguém chegar aqui sem que
tivesse sido facilitada o acesso.
Impossível. Eu já participei aqui de
manifestações com 100.000 pessoas, já
participei de atos aqui. Então, o
sistema de segurança do de Brasília, do
Plavalto, sempre foi muito eficiente.
Então, quando a gente começou a olhar
pela televisão ali por 3:30, 4 horas da
tarde, que tava acontecendo, qualquer
pessoa percebia que havia um nível de,
né, de facilitação do do acesso.
Do total do acervo, aproximadamente 135
itens foram vandalizados entre
mobiliário, obras de arte, esculturas,
objetos, presentes protocolares.
Nos locais onde acessaram que tinha
esses acervos, todos foram vandalizados.
Bom, aqui a gente tá no salão nobre,
tudo foi quebrado e até hoje eu ainda me
emociono porque
o nosso trabalho do dia a dia é
preservar essa memória. Tudo isso aqui
representa uma história do que significa
o Supremo na representação da casa, das
pessoas, da cidadania, da constituição,
da defesa dos direitos. Então você chega
aqui e vê toda essa história danificada,
realmente é muito triste
por não tá com equipamento profissional
que tá usando só celular, camiseta preta
e calça jeans, eu consegui entrar, ter
todos os acessos. Encontrei a Rafa
Feliciana, a fotógrafa ali perto do
Palácio do Planalto. Eu nem cumprimentei
ela, só vi assim de longe, até porque se
consigo cumprimentar, se ela tava com
câmera, eles iam saber que era da
imprensa.
Quando chegou a PM, tem uma cena que eu
fotografei que era muito boa. Dois
policiais num carro da PM entrou com um
carro numa velocidade estrondosa para
tirar os manifestantes debaixo do
Palácio do Conão. E os manifestantes
cercaram o carro e amendrontaram a
polícia e os policiais foram e aí tava
fotografando, fotografando. E aí eu
falei assim: “Tá na hora de mandar
alguma coisa.” Peguei meu celular, a
câmera liga com o cabo no celular e aí
comecei a passar foto e tudo mais. Até
que uma pessoa veio, pegou no meu braço
e perguntou: “De onde você é, que que
você tá fotografando, quem você é?”
Muitas perguntas que são mais hostis do
que
do que perguntas em si. É tipo meio que
confronto, meio confrontar eu não sou
jornalista, só tô E aí você, gente, você
mente nessa hora, porque eu não vou
apanhar de graça, eu não vou me colocar
em risco de uma situação de graça. Aí eu
não, eu só tô mostrando esse momento
histórico, esse momento que é importante
e tal. E aí quando eu falei, sou
jornalista do Metrópoles, uma das
pessoas começou a chamar outras pessoas.
E a cena que que para mim foi demais foi
eu estar aqui e cercada por homens,
seis, cinco, seis homens, e eles me
empurrando para todos os lados e
tentando puxar meu equipamento. E aí na
cabeça você não sabe exatamente o que
que tá acontecendo. Pera aí, eles estão
querendo meu equipamento, tão querendo
me bater, tão querendo que eu não saia
daqui, tão querendo que eu saia daqui,
tão querendo que eu pare de cobrir? Que
que eles querem? Eu meio que
instintivamente me agachei assim, tipo,
no chão e alguém me deu um murro na
barriga e aí nessa tiraram a minha
máquina do pescoço. Eu acho que foi
nessa hora que me machucaram, tipo, tem
um
nossa, absurdo,
tem isso. E aí me deram vários chutes e
roubaram o meu cartão de memória porque
não sei, eu fiquei muito calma depois
disso e aí eu falei: “Cara, é meu
equipamento, é trabalho”. Tipo, aí ele
então me dá o cartão, eu dei o cartão,
levou todas as imagens desse dia de
invasões antidemocráticas, roubaram meu
celular e depois consegui sair.
Tinha alguém das forças de segurança
próximos ali.
Eu teria foto de uma cobertura muito
histórica e não tenho nenhuma foto. E aí
isso dói muito também, tipo, cara, meu
trabalho é tipo o meu olhar sobre essa
situação. Eu estava ali e eu passei por
tudo isso, mas eu não tenho uma imagem e
eu me expresso por imagem.
Eu fui para lá e a gente encontrou
alguns colegas e aí eles vieram me
perguntar: “E como é que tá a Rafa?
E eu como assim? Como é que tá a Rafa?
Eu não sabia, eu fiquei sabendo lá. E
aí, tipo assim, você fica com muita
raiva. Normalmente eles miram primeiro
nas minas.
É meio horrível isso assim, muito ruim.
Logo em seguida chegou o golpe, eles
começaram a despeçar o pessoal. Foi
muito rápido assim. Aí eu já consegui
sair e vi a tropa que veio limpando
desde o outro canto, já tava nesse no
outro lado, no lado oposto. O pessoal
viu, se ajoelhou, começou a agradecer, a
orar e a comemorar que eles fizeram.
Segunda-feira, 9 de janeiro de 2023, a
gente tá ao vivo trazendo todas as
notícias dos dias seguintes a barbari
vivida aqui em Brasília. O foco nessa
manhã tá na frente do QG do exército,
porque a polícia e o exército estão
fazendo agora a desocupação do local.
Primeiro foi entrar com a PM, ao setor
militar urbano, o exército não deixou no
dia 9. Depois que começou a desmontar,
que eles me autorizaram a entrar com a
PM. Tava eu, Rui e Múcio. Aí eu já desci
do carro enlouquecido para dentro dele.
Falei: “Nai, cadê os ônibus?” Ele falou:
“Tão chegando.” É que eles vêm com
escolta, vem mais devagar. Eu falei:
“Não é possível”. Os ônibus saíram há
muito mais tempo antes de mim, vim de
carro e eu não vi ônibus nenhum. Cadê os
ônibus, né? Aí ele falou: “Eles não
cabem aqui na superintendência da
Polícia Federal”. Aí eu botei o dedo na
cara dele. Eu falei: “Ó, essa decisão
não é tua. Manda os ônibus entrarem aqui
agora. Agora?
Cadê os ônibus, Na? Aí ele falou: “Eu
mandei parar, eu quase fui às vias de
fato com Na porta da da superintendência
da P. Eles soltaram um boato que na
quarta ia ter nova manifestação. Se aí
eu tinha que montar aquela operação
toda. Nós montamos uma mega operação
aqui na quarta. Não apareceu ninguém,
mas nós montamos uma mega operação na
quarta. E eu sabia que até pelo papel
institucional que eu exerço, o dia
seguinte ia ser uma loucura completa. E
foi aquela semana, inclusive foi uma
semana para esquecer. Uma vez que eu
faço parte de uma instituição como OAB,
eu tenho dever com a sociedade. Então,
eh, foi necessário que eu fizesse
vistorias e visitas nos locais onde as
pessoas estavam presas ou acauteladas.
Eh, eu precisei me dirigir à delegacia
algumas vezes para ver o que tava
acontecendo. A gente precisa preservar
os direitos e garantias fundamentais de
qualquer cidadão. Então, a gente
precisou olhar para isso com muito
carinho. Eh, essa foi uma semana na qual
os ânimos estavam muito aflorados. Então
eu vi muitas pessoas brigando ao meu
redor e eu mesmo tive que me segurar
muito para que eu não acabasse brigando
com algum colega que de repente pensa
alguma coisa diferente.
Sai a ordem de prisão do Fábio Augusto.
Prisão que quem cumpre é a PF, mas a
corregedoria da PM tem que acompanhar.
Aí eu tenho que pegar o Klepter Siqueira
e o outro Valtênio, que eram os dois
corregedores para dar notícia de que o
Fábio Augusto, que era um comandante
querido pela tropa, ia ser preso e que
eles iam ter que conduzir a prisão junto
com a PF. Eu fui visitar os feridos
também, né, os 44 policiais militares
que foram feridos aqui, né, determinei a
abertura da comissão para conceder a
medalha cruz de sangue para eles, para
promover por bravura eles também, os
feridos. Se se eu afastei os
comandantes, subcomandantes,
você tinha que dar um sinal também pra
tropa que cumpriu seu dever. O meu temor
maior é que uma desestabilização da
polícia aqui no GDF pudesse repercutir
nos outros estados, né?
O IFAN tem novo presidente. A posse de
Leandro Grace foi no Palácio Itamarati.
O IFAN é o responsável pela preservação
e pela divulgação do patrimônio material
e imaterial do país. É um instituto que
vai atuar no processo de recuperação dos
estragos causados pelos ataques
antidemocráticos do último dia 8 de
janeiro.
Nós estamos aqui no conjunto
arquitetônico da Praça dos Três Poderes,
que é composto pelos três edifícios,
também pela própria praça, entre outros
espaços. Então este edifício compõe esse
conjunto que é tombado em nível federal
e também é patrimônio mundial, ou seja,
tem um valor para o planeta, tem um
valor para a civilização.
Aqui no salão dos bustos, todos eles
foram vandalizados, danificados. Essas
bases de mármore foram todas quebradas
e os bustos ao chão se arranharam,
amassaram e tiveram então que ser todos
restaurados.
O Rui Barbosa foi definido que ele
ficaria com essa moça na testa
justamente para deixar o registro do que
aconteceu
naquele dia. Encontramos alguns
servidores, inclusive muito
sensibilizados, chorando, porque aqui
não é só um local institucional. Aqui
está também a vida do do país, está a
vida dos trabalhadores que se dedicam
todos os dias a fazer o poder judiciário
funcionar, dos próprios ministros, seus
assessores. Tanto desse lado quanto do
outro, nós tivemos algumas vidraças
trincadas, destruídas, quebradas, mas
também muito vandalismo simbólico, como
nós chamamos, muitas palavras de ódio,
muitos palavrões, muitas expressões que
expressam justamente que caracterizam
esse sentimento de destruição dos
golpistas, as pessoas que cometeram esse
crime no dia 8 de janeiro. Ainda hoje
tenho na memória as cenas eh daquele dia
e as pessoas arrastando cadeira e
dizendo: “Eu estou agora sentado na
cadeira do Chandão”. Mas obviamente que
nós não somos odiados por acaso isto foi
construído e certamente não porque nós
tenhamos feito algum crime ou feito
algum mal, mas porque se atribuiu algo
que nós eventualmente não fizemos. Somos
odiados por quê? Porque eh impusemos
limites, por exemplo, para alguém que
pretendia
no seu negacionismo,
levar as pessoas à morte
durante a pandemia. Nós impusemos
restrições, fortalecemos os estados e
municípios para que eles pudessem impor
limites
impedindo que eh uma política genocida
se desenvolvesse.
Nós que determinamos que se comprassem
vacinas e que se iniciasse um processo
de vacinação. muita gente que está entre
esses que nos odeiam e certamente
está viva graças à ação do tribunal.
Quer dizer, isso eu preciso dizer em
função dessa carga da atribuição de
responsabilidade ao Supremo Tribunal
Federal, parece que colocaram mais raiva
aqui e isto reforça a responsabilidade
das lideranças políticas.
Quer dizer, como manipular essas
pessoas, né? Como usar essas pessoas
para essas finalidades. Eles são autores
num contexto mais amplo em que há talvez
eh autores outros.
É uma discussão, por exemplo, sobre a
própria responsabilidade
do ex-presidente da República
de parlamentares.
É sabido, é sabido que ele não aceitou a
nossa vitória. É sabido que ele tentou
desmoralizar o tempo inteiro a justiça
eleitoral. É sabido que ele tentou
demoralizar todas as instituições
possíveis. Ele planejou isso,
covardemento não teve coragem de
assumir, saiu e deixou os mandantes dele
aí para cumprir o que feito. Nós ainda
estamos apurando coisa, porque ainda nós
temos que apurar quem financiou isso,
quem garantiu os acampamentos. Nós não
temos pressa. O que nós queremos é que
seja feita justiça de fato e de direito
para que nunca mais alguém ouse dar
golpe num processo democrático. Ou seja,
a democracia pode ser o regime que todo
mundo pode criticar, mas não há nada
melhor. É por causa da democracia que
pessoas como eu chegou a presidenta da
República. Aliás, é por causa da
democracia que pessoas como
ex-presidente chegou à presid da da
República. É por causa da justiça
eleitoral que ele tentou desmoralizar
que nós chegamos à presidência da
República. Então eu acho que ele tem um
culpado, é ele, porque ele falou disso
antes, durante todo o mandato e depois
do mandato. Só não teve o coragem de
assumir porque fugiu com antecedência.
Aliás, não teve a grandeza de dar posse
ao presidente eleito, que no caso fui
eu.
Hoje você vê um grande número de pessoas
apoiando esses ideais. com cargos
eletivos e que foram eleitas a partir
das urnas e algumas essas pessoas
inclusive tentando destruir o sistema
que as elegeu. Então a gente precisa
perguntar se houve realmente um recu da
extrema direita ou não. E a meu ver me
parece que a extrema direita segue muito
forte e é por isso que é preciso atuar
cada vez mais para que independente do
seu lado político, determinados
comportamentos não sejam tolerados.
isentar aqueles que tiveram uma
responsabilidade direta, não há dúvida
nenhuma que não há uma outra frase a
dizer senão irresponsabilidade.
Nós tivemos a beira da implantação de um
golpe no Brasil. Nós não tivemos um
golpe no Brasil por uma questão de
fortalecimento das instituições. Se nós
não tivéssemos as instituições que nós
temos hoje, fatalmente hoje eu não
estaria conversando com você. Nós
estaremos, eu possivelmente ou até mesmo
você que tem uma responsabilidade
pública eh em algum país exilado. Isso
não é exagero falar, porque foi isso que
aconteceu no Brasil nos anos 60,
precisamente 64. Você quer ser relatora
da CPMI? Você quer? Eu falei, eu quero.
E assumir, porque nós mulheres, Deli,
você sabe muito bem, nosso espaço é um
espaço muito difícil, né? Você ocupar
uma função estratégica em qualquer
posição é algo meio que incomum. O comum
são os homens na política estarem lá
nesse comando. Então eu aceitei o
desafio e passei 5 meses aí nos
trabalhos da comissão.
O comandante Fábio, o comandante Klep, o
coronel Naine e os outros que estão
presos. Para mim eles foram vítimas da
negligência dessa reunião do dia 6 e do
dia 7 na Secretaria de Segurança
Pública. Eles foram pego na de calça
curta. Vanders Torres, eu não tenho
motivos aqui no meu relatório para
indiciá-lo. Ele estava fora do país. O
secretário Fernando tinha plenos poderes
para assumir aquilo ali e ele estava na
reunião juntamente com toda a equipe,
com toda a cúpula da da secretaria e ele
não tomou a atitude que iria ter tomado.
Eu vejo o Fernando responsável por todo
ato. O presidente Bolsonaro, ele não tá
no meu relatório. Exatamente por quê?
Porque diretamente os documentos e as
coisas que nós temos aqui não é
prenciado. Deputada Paula, eu peço, eu
peço, eu peço que eu possa ler o
relatório.
Eu preciso ler o relatório. Consigo ler
com grita no meu
Eu prefiro que o senhor suspenda a
sessão.
Faz sentido para algumas pessoas que o
objeto dessa CPI não seja revelado, que
os culpados pelos atos golpistas, os
financiadores, os organizadores, os
gestores,
eles não sejam revelados e não sejam
considerados culpados. Então, para esse
segmento, o ideal era desde o primeiro
dia enterrar a comissão parlamentar de
inquérito. E foi assim que eles
trabalharam. Essa comissão ela contou
uma história que é a história daquilo
que aconteceu no dia 12 dezembro e no
dia 8 de janeiro. Houve uma conspiração
golpista iniciada pelo ex-presidente da
República, Jair Messias Bolsonaro.
pelo fato de eu ser um pouco novo na
redação, eh, eu ouvi muitas histórias de
como foram as coberturas do de 2013 e
ouvi frases do tipo, ah, nunca vai ter
uma cobertura igual a essa, uma coisa
única.
E eu, por algum motivo, queria tá ali,
queria queria me jogar assim nesse
sentido profissional, né?
Depois de todo esse tempo, a gente tem
noção que participou de uma cobertura
histórica, né? Algo que vai ser eh
contado para sempre, livros,
documentários. Então, sensação de que,
caraca, isso quer ser jornalista, isso
quer contribuir pra sociedade. Uma
sensação de alívio, né, de ter passado
por aquilo tudo e não ter saído com
nenhum ferimento, por não ter sido
atacado, não ter ficado com nenhuma
marca.
Parecia que era uma cobertura muito
normal e tal, mas não era muito normal.
foi muito maior e foi muito mais hostil
e me tocou e me causou muito mais mal do
que eu tinha imaginado no começo. Eu
fiquei s meses depois disso sem
fotografar e aí falando: “Não, não é
culpa do dia oito, não. Tô sem
fotografar porque eu não sei se eu tô
satisfeita”. Não, é culpa sim do dia 8.
Mas aí eu decidi que tô voltando a
fotografar agora e eu vou contar boas
histórias assim. Não é só de tragédia
que a gente tem que viver.
a gente tem que mostrar coisas boas.
Então, as pessoas precisam entender que
a lei se aplica para todos e todas e não
para apenas aos meus inimigos, aos meus
adversários. Então, a gente precisa
efetivamente fazer cumprir o Código
Penal doa a quem doer de forma não
seletiva. É legítimo que algumas pessoas
digam: “Olha, nem todo mundo devia estar
preso, nem todo mundo devia responder e
tudo, mas a gente precisa ver quais são
as intenções por trás disso.” As
intenções são efetivamente dar um
tratamento justo à pessoas que não
participaram da quebradeira ou
simplesmente jogar um recado, uma
espécie de apítulo de cachorro para
aquelas pessoas que fizeram isso se
sentirem legitimadas a se for o caso,
voltarem a fazer.
a gente não tá totalmente livre de
outras pessoas tentarem. Por isso é que
nós temos que ser exemplares na apuração
e no julgamento dessas pessoas. Todo
mundo vai ter o direito à presunção de
inocência, mas todo mundo tem que ser
julgado e analisado com muita vemência,
porque o Brasil precisa definitivamente
consolidar a democracia.
Hoje aqui, claramente, nós tivemos uma
sociedade brasileira que muito embora
tivesse 5.000 que tivessem vindo para cá
quebrar, um outro montante da população
brasileira que votou no presidente
Bolsonaro admitiu a derrota dele. Nós
não podemos permitir, na verdade, que o
que a gente viveu em 64, a gente possa
viver em algum outro momento da história
do Brasil. Então, não responsabilizar
essas pessoas que vieram para cá
quebrar, essas pessoas que pensaram essa
quebradeira e essas pessoas que
financiaram essa quebradeira. Não há
dúvida nenhuma que é uma ação criminosa
em relação ao tempo da história do
Brasil.
Fica o compromisso de nós não
esquecermos o que aconteceu. E quando eu
digo não esquecer, não é para celebrar,
não é para exaltar, é para que não se
repita. A gente precisa agora investir
numa política de memória sobre o 8 de
janeiro, mas também sobre outros traumas
da história brasileira. Nós não cuidamos
dos nossos traumas e se nós continuarmos
assim, eles vão se intensificando, vão
para baixo do tapete e em vários
momentos eles vão se revelar. 8 de
janeiro é um exemplo disso. A gente só
cuida daquilo que a gente conhece.
Então, de fato, se não houver essa
conexão da população com o patrimônio
cultural, não há chance de preservação.
Fizemos uma técnica japonesa
chamada Quintsudi, que deixa amostra as
marcas dos danos. A peça voltou à vida e
vai continuar sendo exposta com essa
marca que é o registro daquele dia,
porém firme, continuando a vida dela
aqui no nosso acervo. Apesar de ter
acontecido tudo isso,
a democracia está inabalada.
O 8 de janeiro não é um episódio
isolado,
é como se fosse o ápice
de algo que a gente via e de algo também
que ninguém via.
O que se pretendia era o fim da
democracia,
era um golpe militar, era a volta da
tirania, a volta da ditadura, a
supressão dos direitos políticos. Não
foi um domingo no parque. Essas pessoas
iam acabar com seus adversários
políticos que elas consideram inimigos.
Não há dúvida de que aqui foi o prédio
em que o ób se manifestou. da maneira
mais devastadora, uma espécie de uma
fúria por anos de desrespeito
institucional, de ofensas
e de desapreço à democracia.
Muitas coisas fora de padrão
aconteceram. Você tinha homens que
estavam fazendo curso de formação de
praças e nem formados estavam aindas e
sem a presença de exoesqueleto, de
equipamento adequado.
De alguma forma, todos nós tínhamos uma
premonição em relação a isso, perda de
controle, de abusos, que pudesse
desaguar numa GLO. Tudo isso estava
sempre presente na nossa cabeça e isto
veio a ocorrer, felizmente no 8 de
janeiro, quando o governo anterior já
tinha saído, né?
Ali foi tenso porque a gente diz para
ele: “Olha, se o senhor chega em
Brasília e o aeroporto tá ocupado,
é um avião presidencial vai ter que
decolar.
Aí a cena é o presidente decolando de
Brasília”.
E falamos: “Presidente, daqui o senhor
vence”.
de lá. Nós temos dúvidas.
Nós já tivemos uma eleição muito
acirrada entre o Aéo e a Dilma. Depois,
todos os episódios que aconteceram com o
Impitman de Dilma. Depois de 2018, uma
eleição muito atípica em que venceu a
antipolítica e o discurso da
antipolítica. Então, foi uma escalada de
acontecimentos turbulentos ao longo do
Brasil, nos últimos 10 anos, desde 2013,
que fizeram que cuminássemos ao final de
uma eleição vencida por um presidente
que representava a oposição contra um
presidente que estava no mandato,
gerando uma insatisfação de parcela da
população. Então, foi uma combinação de
acontecimentos que fizeram com que nós
tivéssemos o ápice da intolerância, do
ódio, da insatisfação.
dia 8 de janeiro,
todas as agências, todas as instituições
acompanharam o pelas redes sociais ou
pelos seus canais de inteligência com o
movimento que havia. Em dezembro, eh,
houve uma invasão aqui no prédio da
Polícia Federal, houve uma tentativa de
explosão próximo ao aeroporto e isso nos
acendeu vários alertas.
Nós estávamos aqui com aqueles
acampamentos no Brasil todo e eu comecei
a minha peregrinação tentando ser
recebido pelos generais que estavam no
comando e não conseguia ser recebido por
nenhum deles. Tivemos a posse que foi o
maior evento que eu já vi em praça
pública aqui, foi a posse do presidente
Lula. Não teve um problema, um beliscão,
uma confusão, uma briga, não teve
absolutamente nada. De certa forma, nós
achávamos que aquela resistência que nós
estávamos sentindo estava sendo minada.
Eu todo dia passava na frente aqui do
comando do exército, o acampamento tava
diminuindo. Na véspera tinham 100
pessoas. Chamei o comandante do
exército, disse: “Olha, a gente, o que é
que a gente vai fazer com isso? Isso é
melhor não mexer porque tá diminuindo”.
E nós sabíamos que ali tinham famílias
de militares da ativa que não
concordavam com o resultado eleitoral.
Tinham esposa de de generais, de gente
importante, que a gente não podia fazer
nada. de algumas pessoas. Você tem que
tirar na marra, mas não havia uma ordem
judicial para tirar.
De quem que a senhora é a esposa mesmo?
Do Vilas,
a esposa do general Vilas Boas.
Foi um grande erro a manutenção de
acampamentos na frente dos quartéis no
Brasil todo. Não existe liberdade de
expressão em você acampar na frente de
um quartel pedindo paraas Forças Armadas
derrubarem o regime democrático. E isso
não é permitido em nenhum lugar do
mundo. manifestação na frente de
quartel, pedindo golpe militar, pedindo
volta do I5, pedindo a quebra do regime
democrático, pedindo a o fechamento de
poderes. É crime.
No dia 5 eu fiz três ligações, uma ao
governador Ibanês, uma ao governador
Tarcísio de São Paulo e ao governador
Cláudio Castro do Rio de Janeiro. Disse:
“Olha, tem uma história aí protesto no
dia 8, é bom ficar atento. Eu lembro de
um diálogo meu com o governador Ibanês e
que ele diz assim: “Flávio, são quantas
pessoas que você acha que vai ter?”
Disse: “Olha, governador, pelo que eu tô
vendo, pela lógica, sei lá, 5.000
pessoas e muitos.” E ele diz de lá:
“Flávio, aqui é Brasília, nós somos
acostumados a 100.000 pessoas, 120.000
pessoas nessa explanada.
As paredes sabiam, as portas sabiam o
que que ia acontecer. Nisso, né,
dialogando com o ministro Flávio Dinos,
entendeu-se a necessidade de
pessoalmente fazer uma reunião com os
comandos da segurança pública do GDF.
Então, no dia 7 de janeiro, num sábado,
eu fui lá na Secretaria de Segurança do
Distrito Federal e fizemos uma reunião
com o secretário de segurança em
exercício. O titular havia viajado ao
exterior e ali eu coloquei muito
claramente, olha, nós estamos tratando
com um grupo de criminosos, são
bandidos, não são manifestantes, eles
estão propondo um golpe de estado, eles
estão propondo abolição do estado
democrático de direito. E isso é crime
no Brasil. Não podemos deixar que eles
saiam daquele, porque se saírem nós
vamos ter problemas. e citei
nominalmente Supremo, Congresso e
Palácio do Planalto e assim todos
concordaram ali verbalmente não. De
fato, nós vamos fazer um bloqueio,
ninguém vai acessar esse planado.
Por volta das 7 horas, Morales me liga e
diz: “Veneziano, senador, nós estamos
preocupados”. Eu falei com o senador
Rodrigo Pacheco, tá fora do país,
dizendo a ele dessas preocupações. Nós
temos uma mobilização
de um contingente considerável de
manifestantes
e penso eu que essas manifestações vão
além daquilo que seja permitido. Ele
disse: “Eu gostaria que o senhor ligasse
para o governador para pedir
providências através da Secretaria de
Segurança. o fiz, não tive sucesso, fiz
três tentativas e liguei depois para o
secretário do governador Ibanez,
secretário Gustavo Rocha. Eu expus para
ele as preocupações da nossa polícia
legislativa. Bem, ele não fique
tranquilo, informe ao presidente Rodrigo
Pacheco que nós estamos acompanhando par
e passo. Então eu me convenci, tanto é
que naqueles instantes eu fui eh, vamos
dizer assim, eu tava na praia, eu tava
em João Pessoa, no litoral.
O governador me comunica na manhã do
domingo que o secretário Anderson não se
encontrava em Brasília, enfim, e que
este senhor Fernando queria se reportar
a mim com as informações e tudo. Esse
senhor delegado Fernando mandava os
áudios ao Ibanês e o Ibanês me mandava e
eram áudios sempre tranquilizadores.
Governador, bom dia. delegado Fernando
falando, governador, passar o último
informe aqui do meio-dia pro senhor.
Tudo tranquilo. Eh, os manifestantes
estão descendo lá do SMU, controlado,
escoltado pela polícia, tá? O clima bem
tranquilo, bem ameno, tem
aproximadamente 150 ônibus já no DF, mas
todo mundo de forma ordeira e pacífica.
Comandante do exército disse: “Olha, no
Brasil todo não tem mais do que 4500
pessoas, isso vai acabar”. Eu disse
assim: “Não entra nenhum ônibus no
comando do exército. Essa falha
aconteceu, começaram a chegar o ônibus
de fora, os ônibus não entraram, mas as
pessoas entraram e engrossou o número de
pessoas lá e eles resolveram marchar
para cá. E houve aquele fatídico dia que
até hoje isso nos acompanha. É um dia
que não acabou.
Todas as áreas de inteligência
identificaram que existia uma
manifestação que poderia ser um pouco
mais violenta que as anteriores. O
próprio Supremo se preparou e a nossa
preparação é que a gente consiga segurar
pelo menos ali uns 30 minutos, 40
minutos, até que venha a tropa
especializada.
Então eu não tenho como falar que eu com
100 policiais eu vou segurar uma turba
de 4.000 pessoas.
A gente tava lidando com quase do anos
isso e não tinha tido falha em nenhum
momento.
A minha solenidade de posse aqui na
Polícia Federal tava marcada pro dia 10.
meu meus filhos, a minha mãe estava aqui
em Brasília e nós tínhamos combinado de
fazer um churrasco no domingo. Aí,
infelizmente, não consegui comer nem um
pedaço de carne. E o que se viu pro meu
espanto, foi a Polícia Militar
escoltando esses bandidos que não
poderiam ter saído de dentro do
acampamento do Quafé.
sempre tem aquela ignição inicial e eu
não tenho dúvida, abertura da explanada
ali foi o começo do fim, porque senão o
planejamento ele vem caindo, né, igual
um efeito dominó. Se um falhou lá em
cima, esse outro vai falhar. Esse outro
vai falhar, esse outro vai falhar. O
momento que a gente teve certeza que ia
ter problema foi quando as viaturas do
choque, por alguma razão, eles abriram a
descida ali do Congresso. Aí começa a
dividir. Tem ataque lá na presidência,
tem ataque no Congresso e um ataque
vindo pro Supremo.
Dia 8 tava em Paris, quando as primeiras
notícias começaram a chegar, no Brasil
era 1 hora, 1:50 e lá e quase 6 horas da
tarde. Vendo as imagens, eu liguei pro
ministro Flávio Dino e perguntando o que
tinha ocorrido. falei como que essas
pessoas entraram na expplanada. O
ministro Flávino também estava apurando.
Eh, rapidamente me ligou o diretor da
Polícia Federal, o delegado Andrei, e,
eh, começaram a fazer os relatórios eh
do que havia ocorrido, que simplesmente
a Polícia Militar do Distrito Federal
tinha autorizado a entrada livremente
pela explanada dos ministérios. E aí o
que ocorre? havia um dick e atrás desse
dique não havia uma segurança montada
porque ninguém poderia ingressar. O
acesso foi muito rápido, eh, e a
depredação, né, os atos terroristas que
ocorreram acabaram consumindo os três
poderes. Eu acho que de um modo geral
todo mundo se lastreou na mesma fonte de
informação que foi o GDF, polícia
legislativa do Senado, da Câmara, do
Supremo. Não era uma multidão
incontrolável.
Se as forças de segurança
competentes legalmente houvessem
executado o planejado, 8 de janeiro não
teria acontecido.
Para mim seria mais um plantão normal.
ao romperem a linha da PM, aí já me
mostrou uma preocupação. Eu já passei no
rádio pros policiais da polícia, né,
legislativa se equiparem e fazerem
barreiras tanto na entrada da rampa
quanto na chapelaria. Como era muita
gente, eles conseguiram romper a nossa
linha da rampa e aí a gente desceu pra
chapelaria e também era a gente por cima
e por baixo, entendeu? Entrando por
cima, por baixo e romperam também a
chapelaria. Liguei pro comandante da PM
pro Fábio. Ele disse que tava mandando
efetivo, mas assim não chegava. Então eu
me vi meio sem muita, né, sem muito
apoio.
Depois eu falar com o Juvan, que tava no
meio da troca
de de bomba lá, de escudo, aquela coisa,
aí eu percebi que a coisa era muito
grave.
Me recordo muito vivamente o desespero
de Juvan, porque ele desligou o telefone
gritando senador depois. e ouvindo
um barulho, surdecedor para mim, imagino
para eles aqui.
Nesse telefonema de Gilvana, ficou muito
claro que eles não tinham mais condições
e que foram extremamente corajosos,
firmes na na defesa, mas que eles
estavam a sós dentro do Congresso já
sabíamos que havia gente treinada
invadindo e sabíamos que havia um
incitamento a um golpe, porque nos
quartéis o que se discursava, o que se
falava, inclusive no próprio dia 8, no
dia 7, é que deveriam ocupar os
palácios.
o Congresso Nacional, o Supremo, para
que o exército fosse às ruas e aí essas
pessoas convencessem o exército a dar um
golpe militar.
Você vê que tem aquele que era tipo o
rastreio de pólvora. Ele começava o
movimento e chamava os outros e ele saía
para incitar outras pessoas. Tinham
pessoas que diziam exatamente em que
lugar entrar, que extintor pegar,
pessoal pegar, abrir uma mangueira ali
com facilidade para conseguir molhar
tudo. Isso é complicado, não é? Não é
uma coisa boba.
Eles sabiam onde era a chave geral de
luz, que desligaram as luzes. Então, só
alguém que treina e que se organiza
consegue ter uma execução eh de um
procedimento desse.
O que mais me impressionou, sobretudo
depois ao ouvir os relatos dos
seguranças, foi a mistura de
religiosidade com ódio.
Talvez essa seja a faceta
mais desalentadora do processo histórico
que aconteceu no Brasil.
Religião
misturada com ódio e com agressividade.
As pessoas que quebravam
amarretadas,
eh depois ajoelhavam no chão e rezavam.
E é a [ __ ] do STF.
Quem manda aqui nessa [ __ ]
Em dezembro de de 22, final de dezembro
de 22, a Laraquara foi duramente
castigada por uma tromba d’água. No dia
7, no sábado, pela manhã, eu tava na
prefeitura trabalhando. A Janja me liga
dizendo que queria vir para prestar
solidariedade.
No final da manhã do dia 7 me liga, né,
o capitão Morais, que é o é o presidente
Lula ligando quando ele liga. E eu
começo a conversar com o presidente e
ele diz que ele também viria. às 14
horas o presidente chega aí e no trajeto
o Stooker me liga e eu atendo. Ele diz:
“Olha, eu mandei um vídeo no teu
celular, mostra pro presidente. Eu abro
o vídeo, já é o Congresso Nacional
invadido pelos golpistas, né, e sendo
destruído.”
E eu digo ele, presidente, tem um vídeo
aqui de uma situação grave que tá
acontecendo em Brasília, ele fica
indignado e começa a disparar ligações
pros ministros que estavam aqui em
Brasília e imediatamente ele pede para
que se crie um gabinete crise,
crie esse gabinete no Ministério da
Justiça.
Eu chego aqui ao ministério, entro por
aquela porta ali e aí já havia aquele
quadro de anomia em que as pessoas
estavam em cima do Congresso, na rampa
do Congresso, pegaram uma viatura da
Polícia Legislativa, jogaram dentro do
lago, que eram com a bianomia,
já tinha a clareza que era uma tentativa
de golpe, era algo muito grave. e ele
começa a conversar com lideranças
políticas, mas quando ele vê os
policiais militares de Brasília, do
Distrito Federal, fazendo selfie com os
golpistas,
ali, na minha avaliação, foi uma cena
determinante.
E aí começou a se debater a questão da
GLO.
Eu
ligo ao presidente, informo o que eu
estava vendo, digo a ele, ó, nós temos
que assumir o comando. Como é que assumi
o comando? Aí eu digo, ó, intervenção,
artigo 34 da Constituição, tem o estado
de defesa, tem Gli no limite assim, um
estado de sítio, se houvesse dimensão
nacional, que naquele momento não havia.
Olha,
nas conversas que eu tive com o ministra
e foram muitas conversas, dentre várias
coisa que ele me falou, ele aventou que
uma das possibilidades era fazer GLO. E
eu disse ao ministro Flavino que não
teria GLO. Eu não faria GL porque quem
quiser o poder disputa as eleições e
ganhe como eu ganhei as eleições. Por
que que eu com oito dias de governo iria
dar a outras pessoas o poder de resolver
uma crise que eu achava que a gente
tinha que resolver na política?
Alguns ministros disseram para ele:
“Olha, tem como sair da GLO e se o
senhor assinar a GLO, os comandantes das
forças imediatamente tem poder para
reagir.” E aí a Janja, ela fica em pé
que ela tava sentada numa poluana e diz:
“Olha, GLO não é o o poder cívil
entregando o país pro poder militar.
A gente ouve a partir do Ministério da
Defesa de ter a GLO como instrumento e
tanto o ministro Flávio Dino, né,
pegando a Constituição, tanto a gente
que é responsável pela relação com os
governadores e prefeitos, desde o começo
a gente defendia a tese de que o melhor
instrumento era um instrumento de
intervenção no GDF, porque a falha de
toda a situação a ocorria por conta da
ausência das ações de segurança do GDF.
Eu abri o cardápio para ele, disse: “Ó,
presidente, isso é isso, aquilo é
aquilo, mais ou menos resumiu o que era
cada coisa e ele opta pela intervenção”.
Nessa feitura do decreto, acho que foi
talvez 30 minutos entre vai versão,
volta, tudo por WhatsApp, vai volta,
manda o presidente. E o outro fato é que
o presidente Lula me liga enquanto o
decreto era confeccionado, ele pergunta:
“Existe uma forma de haver intervenção
sem afastar o governador?” Eu digo:
“Sim, claro, a intervenção pode ser só
na segurança pública do DF”. Ele disse:
“Então, eu quero isso”. Eu comecei a
escrever no celular e a minha intuição
dizia: “Há algo de errado nesse
decreto?” Até que eu me dou conta do que
tava errado. Eu não podia ser
interventor porque eu tinha sido
diplomado, senador e haveria uma
controvérsia jurídica.
Uhum.
Eventualmente até da perda do meu
mandato de senador. E aí eu disse a ele,
ó presidente, o decreto tem um problema
grave, tem que mudar.
É, ele diz do Padilha, além do Padilha
também teve veda ação legal, o ministro
Jaderfilho, que estava conosco, alerta,
presidente, o senhor não pode pôr de
interventura o seu articulador político.
E aí, por um acaso, porque a história
também é feita de acasos, né, de
coincidências, o sinal de celular
péssimo essas alturas, talvez pela
sobrecarga, né, eu tento buscar nesse
cantinho aqui um sinal melhor. E eu
falando com o presidente, ó, o
presidente não pode ser eu, quem? E eu
vejo o Capele aqui embaixo. Capele tava
aqui embaixo, eu nem sabia que ele já
tinha chegado. Disse: “Presidente, eu
achei o ó, tem um não vai o um, vai o
dois”. secretário executivo.
Quando eu olhei para ele, ele falou:
“Você acabou de ser nomeado interventor
pelo presidente da República,
desça e assuma o comando
das forças de segurança do Distrito
Federal.” Eu falei muito bem.
Assim que o ministro me enviou o
decreto, eu me dirigi pra Secretaria de
Segurança Pública do Distrito Federal.
Determinei que todo o efetivo disponível
fosse mobilizado para explanada. Eles me
perguntaram se eu queria sobrevoar a
área. Eu falei que não, que eu ia direto
paraa esplanada acompanhar em loco o que
tava acontecendo, comandar a tropa em
loco e que todos eles iriam comigo. E aí
a gente daqui começou a andar com a PM
limpando as planadas, efetuando algumas
prisões e andamos até a entrada do setor
militar.
Quando se começa a ver, né, os golpistas
sendo presos, retirados do Congresso da
sede do Supremo e do Palácio do
Planalto, ele constrói a opinião que ele
voltaria para Brasília,
porque no início
ele queria muito voltar para Brasília
para comandar daqui a reação. E todos
nós alertamos a ele que ele não fizesse
isso, porque ninguém tinha segurança de
nada, absolutamente nada. Tinha gente
que não queria que eu viesse pra
Brasília, que eu voltasse para São
Paulo, ficasse ao invés de vir de lá da
qua para cá, que eu ficasse lá. Não, eu
disse: “Não, eu vou paraa Brasília, vou
para hotel, vou pro palácio. Eu ganhei
as eleições, eu tomei posse. O povo me
deu direito de ser presidente durante 4
anos eu não vou fugir a minha
responsabilidade”. E foi resolvido na
política.
Os manifestantes foram andando e boa
parte deles entrou para dentro do setor
militar urbano para se refugiar lá no
fatídico com acampamentos. Lá tinha uma
linha da polícia do exército da PR que
bloqueava a entrada. tinha um bloqueio.
Quando eu cheguei próximo, eu chamei o
coronel Fábio Augusto, então comandante
da PM e disse para ele, “Coronel,
prepara a tropa que nós vamos entrar e
prender todo mundo”. Nesse momento, ele
ficou muito nervoso, o coronel Fabel
Augusto. Ele se afastou um pouco de mim
e ficou falando ao telefone. E aí passou
um tempo, o General Dutra chegou.
A gente teve uma discussão difícil,
muito dura, mas muito respeitosa, eh, no
sentido de que ele tentava botar panos
quentes. Até que chegou um ponto que eu
disse para ele que eu ia entrar e aí ele
me disse: “Olha, se o senhor entrar, a
gente eh vai ter um banho de sangue”.
E aí eu falei para ele, banho de sangue
por, general, o senhor tá me dizendo que
o exército tá protegendo
homens armados no acampamento?
Aí ele disse: “Não, é porque os ânimos
estão muito exaltados.
Vocês se entrarem com as tropas,
eles podem correr, pode ter
enfrentamento e isso aí não é
desejável”.
E aí se produzir um debate, ó, o que que
faz? tem essa situação. Nós fomos
consultar o presidente, ele diz: “Olha,
você e eu, o Murso e o Rui vão ao
quartel general do exército para decidir
o que fazer”. E aí eu vi a cena que
Capell me havia descrito de que havia
duas linhas, uma linha da PM do DF e uma
linha do exército, uma de frente para
outra.
O exército tem aquela região ali como
uma região militar.
A lei ali é deles. E eles disseram que a
Polícia Federal não entraria lá para
atender as pessoas. Então negociou-se
que às 6 horas da manhã eles podiam vir
buscar as pessoas, porque nós sabíamos
que ali tinha gente ligada a aos
militares.
Dado passe, o general Dutra virou para
mim e informou que o general Arruda iria
conversar comigo e se eu poderia ir lá
no QG conversar com com o general
Arruda. tava o general arruda e muitos
generais, né? Me parecia ali
praticamente
quase todo o alto comando ali. Assim que
eu sentei, o general Arruda ah virou
para mim e falou: “Eh, o senhor ia
entrar aqui com tropas sem a minha
autorização?”
Aí eu falei para ele, “General, eu ia
lhe informar”.
Aí ele virou pro coronel Fábio Augusto
da PM que tava comigo e falou: “Porque
eu acho que eu tenho um pouquinho mais
de tropas que o senhor, né, coronel
Fabio Augusto?” Aí eu passei a
argumentar com ele sobre o absurdo do
que tinha acontecido e sobre a
necessidade de prender
todos os manifestantes e desmontar o
acampamento, né? E aí eu perguntei a
ele, o senhor concorda? Ele falou: “Não,
o senhor tem que entender que o Brasil
tá dividido”.
Eu percebi que ali eh não tinha mais
para onde ir. E aí passaram-se aí em
torno de 15 a 20 minutos.
Chegaram o ministro Flávio Dino, o
ministro Zé Múcio, ministro Rui Costa.
Se reuniram com o general Arruda numa
sala só os quatro. E aí foi pactuado o
desmonte do acampamento no dia seguinte,
às 6:30 da manhã.
No dia seguinte estava lá o general
Duta, o general Arruda, e eles em nenhum
momento apresentaram nenhum
questionamento relacionado à operação de
desmonte do acampamento.
É, então veja, o domingo
foi o evento, na segunda a gente
desmonta o acampamento, na segunda mesmo
a gente monta uma operação de guerra.
Foi a maior operação de polícia
judiciária da história do Brasil. E a
gente perseguindo sempre duas palavras:
firmeza para afastar quem tinha errado e
equilíbrio para não confundir o erro de
alguns
com instituições.
Eu ouvi, por exemplo, de um dos
comandantes das suas armadas um relato
nesse sentido de falarem o seguinte, ó,
até o dia 8 de janeiro imaginavam que
todo tipo de manifestação que existia,
inclusive na frente dos quartéis, eram
manifestações pacíficas, né, entre
aspas, por mais que muitas delas
disseminassem o ódio e que percebem eh
aonde chega exatamente dia 8. Então, na
minha opinião, o dia 8 também é uma
virada de página eh de várias pessoas
individualmente
eh com níveis diferentes de direção, de
atores políticos institucionais, de
compreender o risco de fato que existia
de ficar passando pano ou de não conter
mais viemente possível aquele
planejamento golpista.
Quem salvou a democracia, eh, quem
salvou o eventual golpe foram as
instituições. Não é correto e dizer que
foi A, B ou C. Naquele momento era muito
perigoso que houvesse uma quebra de
hierarquia e disciplina nas polícias
militares, tanto aqui do GDF quanto de
outros estados, e também que eventuais
governadores aderissem a essa
possibilidade de golpe. Então, foi muito
importante demonstrar que o Supremo
Tribunal Federal não iria aceitar
qualquer quebra da normalidade,
afastamento do governador e prisão do
secretário de segurança pública. na
madrugada de domingo para segunda, e
importante, referendado na terça-feira,
é pelos ministros do Supremo.
Havia um cenário excepcional e cenários
excepcionais exigem medidas
excepcionais.
Eu pedi a prisão do ex-ministro da
justiça e secretário de segurança e
também a prisão do comandante geral da
Polícia Militar do GDS medida que é
inédita, mas o que se viu nesse dia foi
uma gestão falida. uma gestão, e aí a
minha avaliação é essa, propositadamente
errada, né, que permitiu que esses atos
acontecessem. Importante lembrar que na
busca e apreensão na casa do secretário
de segurança, ex-ministro da justiça,
havia uma minuta de um golpe de estado
religi
por volta de umas 10:30, 11 horas da
noite, que a gente falou que os
ministros poderiam vir para cá, que já
tinha ficado tudo seguro. Eu lembro da
eleição da ministra Rosa assim, quando
ela me viu, ela me dando um abraço,
chorando, não tinha como como as pessoas
não se emocionarem ali, porque você viu
o prédio da Suprema Corte todo
destruído, todo destruído, e falou
assim: “A gente vai reconstruir tudo”.
Eu lembro dessa frase dela, “A gente vai
reconstruir tudo”.
Aí eu tava num momento muito difícil da
minha vida, porque a minha mulher já
tava muito doente, tava internada. Eu
estava em Brasília, no hospital com ela,
quando eu soube dos acontecimentos e
assim que foi possível eu vim para cá.
Aqui encontrei a ministra Rosa que já
estava aqui e entramos pelas esquadras,
né, que estavam todas quebradas. Foi uma
cena de de devastação. Depois chegou o
ministro Dias Toffol e depois chegou o
presidente Lula. No dia seguinte,
nós todos nos reunimos no Palácio do
Planalto com o presidente Lula e os
ministros e diversas lideranças e depois
atravessamos a Praça dos Três Poderes e
viemos até aqui ao prédio do Supremo. Um
abraço eh no prédio do Supremo. O
presidente Lula foi muito presente
naqueles momentos eh e muito solidário
com o tribunal. Todo mundo aqui apreciou
muito a atitude dele.
Vocês que estão ousando atentar contra
nós república, contra nós instituições,
contra nós democracia, saibam que nós
agredidos estamos juntos.
Houve de fato uma união muito forte
naquele momento do poder executivo, do
poder legislativo, do poder judiciário e
das instituições para fazer prevalecer a
democracia. E que esse ânimo de não
aceitação do resultado das eleições, não
aceitação do que é a expressão de uma
democracia, que são as eleições, isso
acabou sucumbindo uma força maior, que
era a força das instituições
brasileiras.
E ali estavam governadores que foram
eleitos com o discurso vinculado ao
ex-presidente, mas nem por isso deixaram
de saber que a sua responsabilidade com
a democracia era maior do que qualquer
vínculo que fosse com o ex-presidente.
País está junto em torno da manutenção
de suas instituições. aquilo foi chave
para que qualquer,
né, que fosse chama de de querer
desestabilizar a nossa república pudesse
acontecer.
Esse episódio ressuscitou um fantasma,
um defunto que a gente achava que já
tava enterrado, que é esse defunto do
golpismo
que simbolizava o o atraso institucional
brasileiro que nós superamos e
felizmente superamos uma vez mais.
Então, para você saber se um tribunal
está prestando adequadamente o serviço
que lhe cabe, você não pode apurar isso
em pesquisa de opinião pública, porque a
gente tem que desagradar todo mundo.
Você tem que apurar isso para saber se
as instituições sobreviveram, se as
instituições estão funcionando. E
felizmente elas estão e em grande parte
graças ao Supremo, não só ao Supremo,
porque um tribunal não é capaz de fazer
a resistência democrática sozinho.
É, ele precisa da imprensa, ele precisa
da sociedade civil, ele precisa de pelo
menos parte da classe política.
Portanto, nós conseguimos aqui o que
outros países não conseguiram fazer.
Não tem como você eh tratar de forma
homogênea os militares, porque a postura
não foi homogênea. Não tenha dúvida
nenhuma que todas as instituições
brasileiras, sejam civis, militares, dos
três poderes, da imprensa, foram ao
longo dos 4 anos do bolsonarismo
contaminados pelo ódio e pelo instinto
golpista.
O que pensava o ex-presidente? Olha, nós
vamos criar um ambiente de tumulto,
aonde algumas milhares de pessoas
estejam às ruas e vamos levar isso às
forças para dizer: “Olha, estamos diante
dessa situação, é preciso que vocês
venham”. E aí alguns respeitados
integrantes do comando das forças
reagiram ao dizer que não compactuariam
com esse tipo de procedimento.
Nós devemos às Forças Armadas a
preservação da nossa democracia, porque
todo movimento militar, os militares vão
na frente e o povo vem atrás. aqui se
eles quisessem um golpe era cômodo,
porque o povo foi na frente. Com relação
às manifestações do do que eu disse que
é no gesto democrático, eu ia dizer o
quê? Ia dizer que os militares estavam
errados, eu vim para conciliar, vim para
juntar as acampamentos. Se fosse ali
tinha família, se a gente tivesse mexido
naqueles acampamentos, nós estamos
arrumando uma briga do exército contra o
exército.
A desmobilização
dos acampamentos se diz que não foi
feito de imediato porque tinha muitos
militares. A prisão naquele dia,
exatamente no dia 8, também não ocorreu
para não surpreender eh militares. Eh,
houve uma certa tolerância indevida com
esses assentamentos. não deveriam ter
existido. Basta que a gente faça um
exercício de contraprova. Imaginemos que
um grupo do ST decidisse fazer um
assentamento na frente dos quartéis.
Qual seria a reação?
A eleição de Bolsonaro dá aparentemente
aos militares a impressão também de que
eles tinham ganham as eleições. Agora os
militares ganharam as eleições, voltavam
ao poder pelas eleições. Quer dizer, há
há toda uma ideologia por trás de
consolidar
esse chamado poder moderador, né?
O exército enquanto instituição, as
forças armadas enquanto instituições
jamais aderiram a esse golpe em que pese
alguns de seus agentes, alguns de seus
oficiais, eh terem eh praticado atos
ilícitos e estão sendo investigados por
isso. todos, absolutamente todos e que
atuaram para esse evento golpista, para
essa tentativa de golpe, para essa
tentativa de quebra do regime
democrático, todos que atuaram serão
responsabilizados. Eh, dos executores,
mais de 1500 foram denunciados. Eh, já
tivemos 25 condenações, o núcleo dos
financiadores, nós temos em torno já de
quase 40 financiadores presos, o núcleo
político, também o núcleo político está
sendo eh investigado, e o núcleo de
publicidade. Não concordo que a Polícia
Militar eh foi de bucha de canhão. Na
verdade,
a investigação da Polícia Militar foi
conduzida pela própria procuradoria
geral da República e as provas
apareceram e houve e as denúncias. As
Forças Armadas, os agentes das Forças
Armadas, os oficiais e praças que
atuaram também estão sendo investigados.
Olha, eu torço que isso chegue a um fim.
Você não pode imaginar como isso é como
se fosse uma ferida que você todos os
dias arrancasse as cascas.
O desfecho eu não sei. Eu acho que
algumas punições vão acontecer, né? Pior
coisa do mundo é você viver sob
suspeição. Se entre vocês que estão aqui
houvesse um culpado e eu, por conforto
suspeitasse de todos, eu estaria sendo
injusto com quem não cometeu o crime.
Então eu desejo muito que se fulanize
pra gente tirar essa pena da suspeção
dos outros. que todo mundo tem seus
fatos e suas fakes e cada um fica
querendo dar veracidade à sua história.
Eu tenho absoluta certeza que não houve
golpe porque as forças armadas não
quiseram. Essa é a minha verdade.
Alguns falam com um certo sarcasmo até
que o senhor, pela sintonia com as
Forças Armadas é um general sem farda. O
que o senhor acha desse atelido?
Eu acho o máximo. Sabe por quê? Eu
gostaria que dissessem mais, porque
todas as vezes que dizem isso, as forças
ficam satisfeitas, porque vê em mim uma
pessoa que trabalha por ele. Um dia
desse, um competente deputado do PT
disse isso num discurso que eu era eu
era na realidade um ministro das forças,
não do governo junto às forças. Você não
pode imaginar como isso me fez bem junto
às forças.
Eu
acho que o que aconteceu
pode ser um processo depurador,
sabe? De quem vai fortalecer a
democracia e de quem que enfraquecer a
democracia. Nós poderemos estar
construindo a possibilidade
desse país viver todo o século XX sem
ter golpe de estado.
O Brasil ele tem um uma característica
de uma certa dificuldade de punir.
No momento que os fatos acontecem, as
pessoas têm uma reação muito indignada e
querem uma punição exacerbada. E na
medida em que o tempo vai passando, essa
reação vai diminuindo
e em algum momento as pessoas começam a
ficar com pena. Um verso numa música do
Chico Boarque em que uma voz, um sutaque
português, declama: “E se a sentença se
anuncia bruta, mais que depressa, a mão
cega a executa, pois que senão o coração
perdoa.”

Se eu fosse vocês,
mas eu não sou vocês, só a minha
opinião, tá?
Eu
ia nos canais de todos os web comunistas
que vocês seguem, todos, todos, um por
um, todos eles. Você checa assim uns 10,
20 vídeos para trás.
Se eles estão fazendo couro com a
extrema direita,
você vai clicar assim, ó,
desinscrever.
Você sai do canal. Vocês estão sendo
o tempo inteiro alimentados
por mentira de oportunistas.
Beijo no coração de todos. Falou, valeu.
Até mais.